Um estudo recente conduzido por pesquisadores da Universidade de Vaasa, na Finlândia, revelou uma dinâmica complexa nas relações entre consumidores de carne e adeptos de dietas à base de vegetais. Apesar de associarem os vegetarianos e veganos a atributos como moralidade, consciência ambiental e cuidado com a saúde, os carnívoros também os percebem com sentimentos negativos, como medo e desprezo, e em alguns casos até manifestam comportamentos agressivos.
A pesquisa recrutou 3.600 participantes de quatro países europeus. Eles avaliaram compradores fictícios com base em listas de compras contendo diferentes combinações de produtos de carne e opções vegetais. Utilizando o modelo BIAS map, uma estrutura projetada para analisar preconceitos sociais, o estudo investigou estereótipos, respostas emocionais e comportamentos em relação aos diferentes perfis de consumo.
Os resultados mostraram que consumidores de carne são percebidos como menos morais e conscientes do impacto ambiental em comparação aos consumidores de produtos vegetais. No entanto, os participantes expressaram maior raiva, medo e desprezo em relação a esses últimos, com inclinações a tratá-los de forma hostil, incluindo insultos e intimidações.
A pesquisa apontou que a necessidade de status social e afiliação grupal desempenha um papel significativo nessas reações.
Participantes que valorizam status social tendem a sentir inveja e raiva dos consumidores de vegetais, enquanto aqueles que buscam afiliação grupal viam os flexitarianos – pessoas que combinam o consumo de carne com alimentos vegetais – como mais socialmente aceitáveis.
Os pesquisadores sugerem que os consumidores de carne podem ver dietas à base de vegetais como ameaçadoras às normas sociais. Esse conflito é intensificado pela consciência de que reduzir o consumo de carne é uma solução amplamente reconhecida para mitigar crises ambientais. Essa percepção pode gerar sentimentos de frustração e inveja, já que aderir a esse comportamento exige sacrifícios pessoais.
O estudo também reforça a ideia de que reações negativas contra dietas vegetais podem ser mecanismos de defesa para justificar o consumo de carne. Uma pesquisa dinamarquesa recente revelou que, mesmo conscientes do impacto ambiental da carne, muitas pessoas preferem criticar hábitos dos veganos, como o consumo de abacates, ao invés de alterar suas próprias práticas alimentares.
Esses achados destacam a importância de compreender as barreiras sociais e emocionais no diálogo sobre sustentabilidade alimentar, promovendo abordagens que reduzam preconceitos e estimulem escolhas mais conscientes.