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Estudante é o primeiro a encontrar ninho de ave da espécie chororó

18 de setembro de 2010
4 min. de leitura
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Por Alberto Gaspar

Pássaro da espécie chororó (Imagem: Reprodução/TV Globo)

Aves são o foco do trabalho de parte de pesquisadores que encontramos em outra parte da bacia do Araguaia. Estamos no município de Pium (TO), em uma base avançada da Universidade Federal de Tocantins. A localidade se chama Canguçu, um dos nomes da onça pintada. Mas bem podia ser jacaré. São eles que rondam o porto.

O Rio Javaés é um braço do Araguaia. Os dois juntos contornam a Ilha do Bananal. Nós viemos conhecer essa região, no auge da seca. Com os rios nos níveis mais baixos do ano, formam-se bancos de areia, que se tornam verdadeiras praias. Essa também é a época de outro fenômeno: das queimadas. O cenário em muitas manhãs é emocionante.

A equipe do Globo Repórter se depara com uma cena impressionante. Prece neblina, mas é fumaça. A praia parece mais um deserto, ou uma dessas paisagens de outro planeta dos filmes de ficção.

O biólogo Renato Torres Pinheiro, da Universidade Federal do Tocantins, diz que a fumaça não chega todos os anos a uma intensidade tão grande. Ele declara que é difícil até de respirar e o olho arde. “Para as aves, para a fauna em geral, para a vegetação é um impacto muito grande”, diz.

Fogo mais extenso, na ilha, seca mais intensa, no Rio Javaés. “Este ano, ele está mais baixo do que o normal”, aponta o biólogo.

O repórter Alberto Gaspar chega à Ilha do Bananal. O biólogo Renato informa que esse é um lugar praticamente desconhecido do ponto de vista científico. O que se conhece é a margem. “A parte de dentro, poucas pessoas tiveram o privilégio de entrar”, revela o pesquisador.

O biólogo Renato explica que, mesmo não sendo donos de toda ilha, os índios a controlam completamente. Vemos vestígios da passagem deles pelo local.

Os pesquisadores até tentam atrair um pássaro exclusivo da região, mas é muito raro, difícil de ver. Um aparelho tem o pio dele gravado. Os pesquisadores colocam o som na caixa, mas o artista não vem cantar ao vivo.

“Muitas vezes, ela aparece, e a gente vê por poucos segundos e ela desaparece. Ela vem e vê que a gente a enganou, que não é na verdade outro indivíduo, é um aparelho, e ela vai embora”, diz o estudante Marco Aurélio Crozariol, da Universidade Federal do Tocantins.

As gravações circulam pela internet. E os cientistas podem trocar informações sobre cada canto em diferentes regiões. “Eles têm sotaques diferentes, ou dialetos. Eles têm tonalidades, timbres diferentes”, informa o biólogo Renato Torres Pinheiro, da Universidade Federal do Tocantins.

Os biólogos têm muito o que mostrar. A algazarra é de uma espécie que, segundo Renato, faz barulho até durante a noite: o jacu-cigana, ave com características de animal pré-histórico, estômago de ruminante, garras nos meios das asas para se deslocar pelos galhos.

A equipe encontra também o saracura-três-potes, o de barriga vermelha. Vemos ainda um casal de curicas, os inevitáveis quero-queros, garças. Nos deparamos com o pássaro biguatinga. Dizem que até piranha ele pesca. Tem também trinta-reis grandes bem jovens, nascidas este ano. Ao fundo, dormindo em pé, com a cabeça escondida, está o talha-mar, também chamado de corta-água. A parte inferior do bico é mais longa. E avistamos o habilidoso martim-pescador, em plena atividade.

Na turma dos viajantes, só de passagem, vemos o maçarico-solitário, que vem do Canadá e dos Estados Unidos. Os gansos do orinoco, ou patos corredores, são da Amazônia brasileira e de países como Venezuela, Colômbia e das Guianas.

No meio da floresta, Marco Aurélio nos leva em busca do personagem da tese de mestrado dele: o chororó do Araguaia. “Ele só vive nesses ambientes onde tem cipó bem emaranhado”, informa o estudante.

O chororó enfrenta o que julga uma invasão do território dele mostrando uma mancha nas costas. “Ele acha que tem outro macho por perto. Então, ele fica mostrando esse dorso branco, ou seja, mostrando que é o dono daqui”, explica Marco Aurélio.

Em um ano e meio de trabalho abrindo trilhas, andando no meio da floresta, Marco Aurélio achou nove ninhos do chororó. Um deles já está vazio, significa que o casal procriou.

“Eu fui o primeiro a encontrar o ninho dessa espécie na natureza, depois de 90 anos que essa espécie foi descrita na ciência, nunca ninguém tinha encontrado o ninho dessa ave”, revela o estudante Marco Aurélio Crozariol, da Universidade Federal do Tocantins.

Um bichinho tão pequeno, mas, para o biólogo, uma conquista imensa. É atrás disso que muitos jovens como Marco Aurélio partem para tão longe de casa, para as noites muito escuras da base de pesquisa com nome de onça. O dia seguinte é sempre longo.

Com niformações do Globo Repórter

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