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IMAGENS IMPRESSIONAM

Estratégia de proteção: cientistas colocam câmeras em ursos-de-óculos por quatro meses

10 de dezembro de 2024
3 min. de leitura
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Foto: Huarcaya et al.

Um experimento feito por uma equipe de ecologistas em florestas da América Andina, focado em analisar os ursos-de-óculos (Tremarctos ornatus), resultou nos primeiros registros de comportamentos alimentares e sexuais até então desconhecidos. Esse material foi obtido por meio de imagens capturadas por uma câmera acoplada durante quatro meses em um exemplar da espécie.

A iniciativa foi chefiada pelos pesquisadores da Asociación para la Conservación de la Cuenca Amazónica, do Peru, em parceria com a organização Osa Conservation, dos Estados Unidos. Em um artigo publicado nessa quarta-feira (4) na revista Ecology and Evolution, eles descrevem as suas considerações finais sobre o projeto.

Embora esses ursos sejam castanhos ou pretos, com rostos brilhantes, e possam pesar até 150 kg, eles são muito difíceis de se avistar na natureza, sobretudo nos Andes, onde o ambiente é denso e íngreme. “Se vê-lo já é uma tarefa difícil, investigar o que eles estão fazendo passa a ser ainda mais complicado”, afirma Ruthmery Huarcaya, que liderou o projeto, ao site Science News.

Zoológicos e santuários oferecem algumas informações sobre os hábitos dos ursos-de-óculos, mas não o suficiente. Compreender o seu comportamento na natureza é crucial para chegar a decisões sobre como conservá-lo. Vale lembrar que esta espécie é listada como vulnerável à extinção pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN).

Observação da rotina dos ursos

Como em uma espécie de reality show à la “Keeping Up with the Kardashians”, um urso chamado Chris foi o responsável por carregar a câmera em seu colarinho pelos quatro meses. Milhares de horas de vídeo foram armazenados no aparelho e, posteriormente recuperados pelos cientistas.

“Essa foi uma das etapas mais difíceis do projeto”, revela Andrew Whitworth, coautor do estudo, em comunicado. A equipe conseguiu soltar a coleira remotamente, mas ela precisou ser buscada pessoalmente em uma expedição de dias no meio da mata. Apesar da demora, deu tudo certo.

Mais do que só filmar, o aparelho ainda foi capaz de registrar a localização GPS do animal e sua velocidade de movimento. Assim, com isso em mãos, os segredos desses bichos puderam, por fim, ser revelados.

Nas imagens, é possível identificar que o urso, com seus grandes músculos nas pernas traseiras e garras afiadas e curvas, conseguiu facilmente escalar árvores. Nelas, o animal pôde ser visto se alimentando, acasalando e até dormindo.

Alimentação e acasalamento

A respeito dos hábitos alimentares, Chris consumiu produtos que nunca haviam sido documentados como parte de sua dieta. Dentre eles, um tipo de planta urtiga, um macaco-lanoso e até mesmo um filhote de urso.

Segundo os especialistas, este provavelmente marca o primeiro caso registrado de infanticídio da espécie. Especula-se que o grande mamífero tenha comido o filhote de uma ursa fêmea como um método para induzi-la a entrar no cio.

Inclusive, ainda a respeito de acasalamento, as filmagens mostram que, durante os quatro meses, Chris teve um caso de uma semana com uma fêmea da espécie. Nesse tempo, eles socializaram, comeram e dormiram juntos, além de acasalarem diversas vezes – tudo isso sobre sua plataforma construída na copa das árvores.

Com tais resultados, a equipe planeja dar continuidade aos estudos desses animais e iniciar novas iniciativas de conscientização às populações locais. Huarcaya sugere que deseja apresentar alguns dos vídeos feitos em festivais e escolas da região, para incluí-los na luta pela conservação dos ecossistemas.

Fonte: Um Só Planeta

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