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Bem-estarismo no livro didático

21 de abril de 2015
3 min. de leitura
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O movimento em defesa dos animais não humanos no Brasil, de cunho abolicionista, é algo bem recente, pouco mais que duas décadas. Comparado com outros países, em especial de língua inglesa, apenas começamos a engatinhar nessa caminhada. Mas devido ao maciço uso da internet, o conhecimento sobre o que é o modo de vida vegano, sua dieta vegetariana e sua fundamentação teórica, os direitos animais, tem atingido um numero bem expressivo de pessoas. Por outro lado, é justamente o uso de forma amadora, no calor da emoção, ou até mesmo de má-fé da internet que tem divulgado de maneira equivocada as definições de termos e distorcendo conceitos muito caros a historia da defesa ética dos animais não humanos.
Devido à popularização do movimento vegano, alguns autores de livros didáticos têm incluído em suas obras algumas referencias à problemática do status moral dos animais não humanos. A descoberta desses livros, que já estão no mercado editorial há alguns anos, tem causado uma certa euforia nos ativistas, seja aqueles que estão fora do mundo educacional escolar, seja daqueles que estão dentro da escola, mas a enxerga com um olhar romântico do século XIX.
Receber esses livros com jubilo e louvor e divulgá-los como algo magnífico e esplêndido para a causa animal ultrapassa a barreira da inocência e cai na mais pura má-fé. Essas obras trazem um discurso declaradamente bem-estarista, utilizando termos especistas para se referir a relação dos humanos com os não humanos. Se fundamentam em termos que a historia do movimento já mostrou serem mais que prejudiciais aos animais.
Espera-se que os educadores veganos abolicionistas não caiam nesse engodo bem-estarista. Aceitar e utilizar livros que reforçam termos e conceitos errados não contribui em nada para a causa. Sabemos que aceitar e usar esse tipo de material é reproduzir e reforçar aquilo que queremos abolir. É bem trabalhoso introduzir, debater e desenvolver uma consciência ética animalista abolicionista nas escolas, mais trabalhoso ainda, será, depois, desfazer o erro secular que agora vem maquiado como avanço. Pior ainda, não temos em todas as escolas do Brasil um educador ou educadora vegana (com um alto grau de leitura e conhecimento da literatura animalista abolicionista), nem pra introduzir o modo de vida vegano e os direitos animais, muito menos pra desfazer o que vem sendo divulgado como defesa dos animais, mas que não passa de bem-estarismo, especismo maquiado.
O argumento de que enquanto não temos livros didáticos animalistas abolicionistas, é um avanço que tenhamos alguns livros, de varias disciplinas, que introduzem um capitulo ou um box que seja, sobre o vegetarianismo, veganismo e direitos animais, mesmo que sejam definições erradas; essa é a velha falácia bem-estarista de que enquanto não vem a abolição, vamos nos contentando com o que tem de bem-estarismo por aí. Na linguagem bem-estarista: “já é um avanço”. Avanço pra quem?
O que impede um autor de livro didático de consultar as principais referencias na ética animal na hora de introduzir um box ou um capitulo sobre a temática do status moral dos animais em seu livro? Uma resposta simples, que não exige muito malabarismo intelectual é: seu especismo. Não dá pra esperar de autores especistas que escrevam capítulos ou boxes em seus livros numa linguagem vegana abolicionista. Esperar isso é inocência.
Inocência que deve passar longe da práxis dos educadores veganos. Inocência em demasia leva a estupidez, e essa à manutenção do status de coisa, de propriedade dado aos animais há séculos. Somente um educador bem-estarista comemora a introdução de conceitos equivocados em livros didáticos.
Que os poucos educadores veganos espalhados pelo Brasil sejam mais criteriosos, e principalmente críticos ao usarem livros didáticos. Crítica e autocrítica é uma das características que não devemos abandonar.

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