Uma expedição realizada pelo Globo Repórter desta sexta-feira (24/10) trouxe à tona os impactos da crise climática na Reserva do Cantão, no Tocantins. Considerada um verdadeiro berçário da biodiversidade brasileira, a região é ponto de encontro entre os biomas do Cerrado e da Amazônia — uma transição rara e sensível às mudanças ambientais.
Pesquisadores da Universidade Federal do Tocantins monitoram diversas espécies no local, entre elas as tartarugas, que passam por um processo rigoroso de análise: são medidas, pesadas e têm amostras de sangue coletadas antes de serem devolvidas à natureza.
Os estudos já revelaram sinais preocupantes das mudanças climáticas.
“Estamos encontrando ovos totalmente cozidos dentro dos ninhos. Além disso, existem anos em que a cheia vem muito rápido e inunda os ninhos. A gente encontra um monte de filhotes mortos”, relata o pesquisador Thiago Portelinha.
Jacarés: influência no sexo e contaminação de ninhos
Além das tartarugas, os jacarés-açu também estão sendo acompanhados de perto. Segundo os cientistas, a temperatura durante a incubação dos ovos influencia diretamente na determinação do sexo dos filhotes.
“Em temperaturas mais quentes, temos uma maior produção de machos”, explica um dos pesquisadores.
Outra descoberta preocupante surgiu da análise dos ninhos:
“Detectamos a presença de um agrotóxico que foi banido do Brasil há mais de 10 anos, mas, nós encontramos com altas concentrações com contaminações em mães, filhotes e nos ninhos”, conta.
Vegetação mais seca e incêndios mais frequentes
A vegetação da reserva também sofre com os efeitos das mudanças climáticas. O botânico Rodney Viana alerta para o aumento do risco de incêndios florestais em períodos prolongados de seca.
“Se os períodos forem bem definidos, o fogo dificilmente entra na mata. Mas com a seca prolongada, a vegetação perde umidade e o risco aumenta”, afirma.
A bióloga Silvana Campello, do Instituto Araguaia, trouxe sua experiência internacional — adquirida durante seu trabalho no Banco Mundial com áreas de preservação — para fortalecer a conservação da floresta do Cantão desde 2010.
“Aquela imagem do biólogo abraçador de árvore, que tanto os produtores gostam de enfatizar, isso hoje em dia é muito ultrapassado. A conservação da natureza, ela pode ser benéfica também ao produtor no momento de grande crise ambiental que o planeta Terra está passando, a única solução é a gente tentar conviver melhor com a natureza. É dela que a gente depende”, conclui Silvana.
Fonte: G1