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FENÔMENO NATURAL

Espiral de 422 mil andorinhas é flagrado por radar na Amazônia

Usado para detectar chuvas, o radar meteorológico registou a saída simultânea de milhares de andorinhas de dormitórios próximos a Manaus.

20 de agosto de 2025
Jorge Agle
3 min. de leitura
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Foto: James L. Amos/Getty Images

Utilizando radares meteorológicos, pesquisadores brasileiros e norte-americanos identificaram, pela primeira vez, grandes dormitórios de andorinhas na Amazônia. Em algumas manhãs, até 422 mil pássaros foram flagrados saindo simultaneamente, em espiral, dos locais de descanso próximos a Manaus.

O estudo inédito foi publicado na revista científica Ecology and Evolution, em julho, a partir da análise de dois anos de dados do radar meteorológico do Serviço de Proteção da Amazônia (SIPAM), em Manaus. O trabalho foi realizado por cientistas da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual do Colorado, nos Estados Unidos.

Próximo aos rios Negro e Amazonas, foram encontrados três dormitórios permanentes e cinco momentâneos das aves. As informações coletadas do radar revelaram que até 422 mil andorinhas saíam em espiral – voando em círculos – ao amanhecer.

Tecnologia para achar as andorinhas

O radar meteorológico do SIPAM foi essencial para encontrar milhares de andorinhas. Originalmente, a tecnologia foi projetada para monitorar chuvas e tempestades na Amazônia. Através da emissão de ondas eletromagnéticas, o equipamento identifica o eco refletido por objetos em movimento no ar, como gotas de chuva, mas também consegue detectar aves se movimentando.

A partir do cruzamento de dados do radar amazônico com registros de observadores em sites como WikiAves e eBird, os pesquisadores conseguiram identificar quais espécies de andorinhas provavelmente estavam presentes nos dormitórios.

A andorinha-azul (Progne subis), que se reproduz na América do Norte, e a andorinha-do-sul (Progne elegans), migrante da Argentina e do sul do Brasil, estão entre as espécies mais prováveis.

Em comparação com informações de 12 radares que cobrem os Grandes Lagos, nos Estados Unidos, os cientistas descobriram que os rios ao redor de Manaus acolhem de quatro a sete vezes mais andorinhas por dia. Isso ocorre mesmo com a área norte-americana analisada sendo quase nove vezes maior.

“É fascinante pensar que estas aves migratórias, usadas por muitas culturas para medir a passagem do tempo, conectam os Cree do Canadá (um dos maiores grupos indígenas do Canadá) ao povo Tehuelche do Sul da Argentina, e que o elo desta corrente está na Amazônia”, diz a autora principal do estudo, Maria Belotti, bióloga da Universidade Estadual do Colorado, em comunicado.

Aplicações futuras da tecnologia

Segundo a bióloga, a integração entre as espécies, mesmo sendo de lugares tão distantes, mostra como unidades de conservação próximas a Manaus são importantes para proteger esses animais. “Qualquer impacto a essas andorinhas na Amazônia podem provocar alterações significativas em cadeias alimentares e ecossistemas separados por mais de 10 mil km”, explica Maria.

A equipe de pesquisa enxerga o uso de radares meteorológicos como uma ferramenta útil para identificar locais onde tem muitas aves, orientar medidas públicas eficazes de conservação, além de diminuir acidentes em aeroportos com os animais.

Agora, os pesquisadores querem estudar dados de mais radares brasileiros, em busca de novas informações sobre a migração de aves em todo o mundo.

Fonte: Metrópoles

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