Enquanto gorilas-da-planície-ocidental seguem desaparecendo na natureza por caça e destruição de habitat, a sociedade se acostuma a vê-los confinados, celebrando eventos biológicos íntimos como espetáculo. A verdadeira ‘vitória’ seria proteger seus habitats e combater as raízes da extinção, não explorar sua reprodução como marketing.
A gorila Wefa deu à luz uma bebê diante de visitantes no Bioparc de Fuengirola, na Espanha, em uma cena que rapidamente viralizou e foi celebrada como “momento único” pelo zoológico. Embora o parto de um animal, ainda mais de uma espécie criticamente ameaçada, seja de fato um acontecimento extraordinário, a espetacularização da vida animal promovida pelos zoos é um tipo grave de exploração.
Segundo o próprio Bioparc, Wefa pertence à espécie gorila-da-planície-ocidental, que vive em bosques montanhosos na África Central e foi listada como Criticamente Ameaçada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Após o parto, ela comeu a placenta, comportamento natural entre primatas, mas que, registrado diante de câmeras e dezenas de pessoas, acabou transformado em mais um “conteúdo curioso” para as redes sociais, transformando um momento íntimo em entretenimento para humanos.
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Ambientalistas destacaram que este é o único nascimento de uma gorila dessa espécie na Espanha em 2025 e reconheceram sua importância biológica, especialmente em um cenário de declínio populacional acelerado na natureza. Entretanto, esse filhote infelizmente nunca conhecerá a liberdade.
Mesmo quando os zoológicos afirmam atuar pela reprodução e proteção, os indivíduos mantidos ali permanecem privados de seus comportamentos naturais mais complexos, desde o deslocamento por grandes áreas até a formação espontânea de grupos sociais. A reprodução em cativeiro não compensa a perda de autonomia, a exposição constante e a transformação desses animais em atrações interativas.