EnglishEspañolPortuguês

NOVOS COMEÇOS

Esperança: cientistas descobrem o destino de animais que sobreviveram à quase extinção

1 de dezembro de 2022
4 min. de leitura
A-
A+
Ouça esta matéria:
Foto: Ilustração | Freepik

Os cientistas frequentemente estudam as consequências da perda de vida selvagem devido à caça, destruição de habitats e mudanças climáticas. Mas o que acontece quando as espécies à beira da extinção se recuperam?

Pesquisas mostram que a recuperação de espécies “chave”, aquelas que têm um grande impacto em seu ambiente, é vital para a saúde dos ecossistemas e pode trazer benefícios inesperados para os seres humanos.

Lobos

Poucos animais evocam tanto o espírito da natureza selvagem americana quanto os lobos. Embora reverenciados pelas comunidades indígenas, os colonos europeus que chegaram depois de 1600 os demonizaram e tentaram exterminá-los.

Em meados do século XX, restavam menos de 1.000 lobos cinzentos nos Estados Unidos, contra pelo menos 250 mil antes da colonização.

A Lei de Espécies em Perigo de Extinção, aprovada em 1970, ajudou, em parte, a reviver esse predador (no topo de sua cadeia alimentar).

Depois, na década de 1990, o governo federal trouxe lobos do Canadá para o Parque Nacional de Yellowstone, criando uma espécie de laboratório natural para os cientistas.

Os recém-chegados mantiveram em equilíbrio o número de alces, impedindo-os de abusar da vegetação, que por sua vez fornece material de nidificação para pássaros e represas para castores, um fenômeno conhecido como cascata trófica.

A vegetação recuperada ajudou a conter a erosão dos leitos dos rios, alterando os seus cursos reduzindo os meandros.

Outros efeitos foram observados. Por um lado, enquanto constroem suas represas, os castores criam piscinas que peixes e sapos precisam para sobreviver. Por outro lado, em suas caçadas, os lobos visam presas fracas e doentes, garantindo a sobrevivência do mais apto.

Um artigo recente mostrou ainda que os lobos trazidos para o estado de Wisconsin mantinham os cervos longe das estradas, reduzindo as colisões com carros.

Amaroq Weiss, bióloga do Center for Biological Diversity, com sede no Arizona, comparou os ecossistemas a tapeçarias. Assim, “quando removemos alguns fios, enfraquecemos o tapete”, disse à AFP.

Estima-se que existam atualmente mais de 6.000 lobos cinzentos nos Estados Unidos. A principal ameaça é a caça legalizada em alguns estados.

Búfalos

A história do búfalo americano, também conhecido como bisão, está intimamente ligada ao surgimento dos Estados Unidos.

De 30 milhões, o número de búfalos despencou para centenas no final do século XIX, quando o governo tentou eliminar as tribos nativas das planícies cujos meios de subsistência dependiam do animal.

“Foi um genocídio intencional para remover os búfalos, remover os índios e confiná-los em reservas”, comentou à AFP Cody Considine, da organização The Nature Conservancy (TNC).

Esses animais são parte integrante dos esforços da TNC para restaurar as pradarias de Nachusa Grasslands em Illinois.

Os búfalos, que foram introduzidos lá em 2014 e agora são cerca de 100, preferem comer grama em vez de plantas com flores e legumes, permitindo que vários pássaros, insetos e anfíbios prosperem.

“Algumas dessas espécies sem esse pasto simplesmente desapareceriam”, apontou Considine.

Além disso, enquanto se alimentam, os bisões aram o solo com seus cascos, o que ajuda ainda mais o crescimento das plantas e a dispersão das sementes.

A TNC administra atualmente cerca de 6.500 de búfalos e está criando um programa piloto para transferir o excesso de animais para comunidades indígenas como parte de seus esforços para recuperar o mamífero nacional dos Estados Unidos.

Acredita-se que cerca de 20.000 búfalos perambulam em “rebanhos de conservação”, embora nenhum esteja realmente livre, de acordo com Considine.

Lontras

Como predadores dominantes dos ambientes marinhos próximos à costa, as lontras marinhas desempenham um papel muito importante em seu ecossistema.

Historicamente, estendiam-se pela costa oeste, da Baja California ao Alasca, e pela Rússia e norte do Japão, mas a caça nos anos 1700 e 1800 dizimou a espécie, que passou a 300.000.

Por um tempo, pensou-se que haviam sido completamente exterminadas na Califórnia, mas uma pequena população sobrevivente de cerca de 50 as ajudou a se recuperar parcialmente para cerca de 3.000 nesta região hoje.

Jess Fujii, do Aquário de Monterey Bay, na costa norte da Califórnia, disse à AFP que pesquisas realizadas na década de 1970 nas Ilhas Aleutas mostraram que as lontras mantinham o equilíbrio da floresta de algas controlando as populações de ouriços-do-mar que se alimentam delas.

Interações mais complexas foram reveladas na última década, incluindo os benefícios a jusante das lontras para os habitats de ervas marinhas nos estuários da Califórnia.

Lá, as lontras marinhas controlavam a população de caranguejos, o que significava que mais lesmas marinhas poderiam se alimentar das algas, mantendo os prados marinhos saudáveis.

Os prados marinhos atuam como “berçários” para peixes jovens e também reduzem a erosão, que pode influenciar as inundações costeiras.

“Algas e ervas marinhas são frequentemente vistas como boas maneiras de sequestrar carbono, o que pode ajudar a mitigar os impactos contínuos das mudanças climáticas”, enfatizou Fujii, um exemplo de como a destruição da natureza pode piorar o aquecimento global.

Fonte: UOL

    Você viu?

    Ir para o topo