Um estudo recente, publicado na revista Trends in Ecology and Evolution, revela que as mudanças climáticas estão afetando a distribuição de espécies animais nos oceanos, num fenômeno global relativamente recente conhecido como “tropicalização”.
Acontece que as espécies marinhas das regiões tropicais estão se movendo em direção aos polos, à medida que as águas dos trópicos aquecem; e as espécies de regiões temperadas estão diminuindo, também devido ao aumento das temperaturas oceânicas. Isso tem levado a mudanças na biodiversidade destes ecossistemas e pode trazer consequências para a economia global.
Migrando para outras áreas
As mudanças climáticas têm alterado os fatores físicos que afetam a dispersão das espécies, como por exemplo, as correntes oceânicas em áreas que separam as regiões tropicais/subtropicais das temperadas.
Essas correntes estão aquecendo mais rapidamente do que a média global da água oceânica, favorecendo então o deslocamento das espécies tropicais em direção aos pólos e a retração das espécies temperadas.
A tropicalização vem ocorrendo ao longo da maioria das regiões costeiras de transição tropical-temperada do globo. Este fenômeno está particularmente bem documentado na Austrália e no Mar Mediterrâneo, onde os estudos abrangem uma ampla cobertura taxonômica (classificação de seres vivos em: reino, filo, classe, ordem, família, gênero e espécie).
Lacunas a serem preenchidas
Embora nos últimos anos a abundância e distribuição de espécies marinhas nas áreas tropicais, subtropicais e temperadas tenham sido bem documentadas, ainda falta uma melhor compreensão das consequências evolutivas da tropicalização a longo prazo, uma vez que novas espécies agora vivem juntas com outras.
Também é necessário um maior monitoramento (abundância de dados provenientes de diversas fontes) dos ecossistemas sob tropicalização, para compreender melhor os impulsionadores e a dinâmica desse fenômeno.
Contudo, algumas evidências sugerem que a tropicalização poderia induzir mudanças fenotípicas (características físicas, morfológicas e comportamentais), bem como mudanças na composição genotípica (genes) de espécies em expansão e em retração.
A importância desses resultados
Os autores afirmam que é necessário uma melhor compreensão das consequências da tropicalização para conseguir prever o seu desenvolvimento, os seus efeitos e ajudar nos esforços de conservação para proteger a biodiversidade global.
Além disso, eles apelam por ações para se estudar regiões que são pouco analisadas, como a área tropical/temperada da África e da América do Sul, e assim obter uma melhor compreensão das consequências que a tropicalização pode ter.
“Uma forma de ajudar a mitigar os impactos negativos da tropicalização é criar redes de áreas marinhas protegidas em regiões sob tropicalização. Nessas áreas protegidas, estaremos melhor posicionados para remover outros impactos que não os induzidos pelo clima, como a pressão da pesca e a degradação do habitat”, disse Phil Fenberg, coautor do artigo.
Fonte: Tempo