Na estação aquícola de Campelo, em Figueiró dos Vinhos, em Leiria, Portugal, cinco espécies de peixes ameaçadas de extinção reproduzem-se para repovoar rios e ribeiras de onde são originárias.
“São espécies autóctonas, algumas delas só existem em dois ou três rios do país. Em todo o mundo não se encontram em mais nenhum lugar. Se não for feito nada por elas, poderão desaparecer para sempre do planeta”, comenta Alexandrina Pipa, técnica da associação ambientalista Quercus, uma das entidades envolvidas na iniciativa.
As espécies – ruivaco-do-Oeste, boga-portuguesa e do sudoeste, e escalos do Arade e do Mira – que ocupam os vários tanques da estação estão classificadas como “criticamente em perigo”, estatuto de conservação, de acordo com o Livro Vermelho dos Vertebrados, “mais preocupante”, salienta Pipa.
Pipa explica que são várias as razões que tornam esses peixes vulneráveis, com destaque para a “intervenção humana”.
“Desde técnicas de limpeza impróprias dos rios até à poluição difusa, resultado dos químicos da agricultura, dos efluentes domésticos, dos efluentes industriais que são lançados para os rios. Juntando isso, há a situação de rios que muitas vezes durante o verão praticamente secam”, explicou.
O projeto, que teve início em 2008, culminou, um ano depois, com o transporte de algumas dezenas de exemplares para a estação, onde se reproduzem em cativeiro. Os ruivacos-do-Oeste (dos rios de Alcabrichel e Sizandro) foram os primeiros moradores.
“Foi uma reprodução muito bem sucedida, na ordem dos 200 a 600 por cento dos [87 exemplares] que chegaram inicialmente”, conta, pois em Campelo as condições propiciam “uma multiplicação maior do que teriam na natureza”.
Antes de receberem os peixes, os tanques, que já foram viveiros de trutas, tiveram de ser preparados para “reproduzir, o mais fiel possível, as condições verificadas no habitat natural”, conta Pipa, “com a existência de algumas plantas”, e para que os peixes possam desovar como fariam na natureza foram colocados tufos naturais, desde lãs a raízes e pedras.
O acompanhamento diário passa pela alimentação para que os peixes tenham uma alimentação variada como teriam na natureza.
A limpeza, a medição do caudal da água, a deteção de um eventual problema sanitário são preocupações constantes, mas a maior delas é obter o resultado final satisfatório das espécies: “Libertar os peixes em seu habitat natural com condições aceitáveis para a sobrevivência futura”, de acordo com Pipa.
Depois da multiplicação das espécies, o projeto vai enfrentar, no próximo mês, um novo desafio, com a reintrodução do ruivaco-do-Oeste no rio Alcabrichel, em Torres Vedras.
O projeto “Conservação ex situ de organismos fluviais” tem como parceiros, além da Quercus, o Aquário Vasco da Gama, EDP, Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Técnica de Lisboa, Centro de Biociências do Instituto Superior de Psicologia Aplicada e Câmara de Figueiró dos Vinhos.
Fonte: Diário de As Beiras