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Espécies da fauna amazonense lutam para viver

28 de fevereiro de 2012
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Concentração de periquitos em condomínio é um dos reflexos do desequilíbrio (Foto: Antônio Lima)

Imagens de satélites mostram que as áreas verdes de Manaus estão sendo reduzidas e distanciadas, cada vez mais, uma das outras. Esse processo de isolamento coloca em risco a fauna existente em cada uma dessas áreas.

A principal causa da diminuição e do isolamento desses corredores ecológicos é o processo de expansão urbana e imobiliária de Manaus.

Com o crescimento econômico da população, “pipocam”, por todas as zonas da cidade, empreendimentos imobiliários que cortam a floresta e expulsam a fauna de seu habitat natural.

Em Manaus, o principal prejuízo para a fauna local fica com as aves, segundo o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama).

“Em Manaus já foram identificadas mais de 480 espécies de aves mas, na área urbanizada, não encontramos nem 50, desse total. A maioria foi expulsa para áreas mais distantes, por não encontrar aqui condições para sua sobrevivência”, afirmou o analista ambiental do Centro de Fauna do Ibama, Robson Esteves Czaban.

Ele ressalta que a relação entre expansão imobiliária e desmatamento é direta.

“Uma, normalmente é sinônimo da outra. A construção de casas e apartamentos, destrói todo o habitat ou parte dele. E a destruição do habitat é o principal fator que causa o desaparecimento das espécies”, salientou.

Exemplo disso, foi a polêmica que tomou conta das redes sociais sobre o caso de Palmeiras Imperiais versus periquitos-de-asa-branca. Os moradores do conjunto habitacional Ephigênio Salles optaram pela sobrevivência das árvores em detrimento do habitat natural das aves e cobriram com telas as espécies para protegê-las da alta concentração de periquitos. Entretanto, segundo o analista ambiental, essa disputa entre as espécies é resultado da ação humana.

“Eles estão em grande concentração no local porque utilizam-no como dormitório. Segundo os moradores do condomínio, a população de periquitos aumentou após os vários desmatamentos que ocorreram ao redor. Privados dos locais que usavam originalmente para dormir, os periquitos se concentraram nas árvores em frente ao condomínio”, analisou Robson. Como os periquitos-de-asa-branca, diversas espécies podem ter sofrido os efeitos do processo de urbanização, segundo ele.

Construções dentro da lei

Segundo informações do Ibama, as áreas protegidas do Mindu, do campus da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e da reserva do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa) são exemplos de corredores ecológicos que estão separados, o que significa que sua população animal também permanecerá isolada. Quanto menor a área, menos espécies animais ela possui. E, mesmo os que conseguem sobreviver, correm o risco de se extinguirem a longo prazo, devido ao empobrecimento genético – sucessivos cruzamentos entre parentes. “A curto e médio prazo, elas sofrem com o risco da captura por traficantes ou por atropelamentos”, relata Robson Czaban.

Para ele, os projetos imobiliários não podem ir de encontro às leis ambientais, como por exemplo a Lei 9.605 (crimes ambientais) e outras as resoluções. Todos precisam respeitar a existência de nascentes, a vegetação ciliar dos cursos d’água, encostas, espécies vegetais e animais nativas, tratamento de resíduos, entre outros critérios.

Animais confinados na cidade

A maioria das espécies não se adapta a um ambiente antropizado – quando há a interferência do homem. “Elas se veem obrigadas a procurar outro local para viver. Isso pode ser particularmente complicado para espécies endêmicas, que tem uma área de distribuição muito restrita, como é o caso do sauim-de-manaus, cuja área de ocorrência está praticamente confinada a Manaus e entorno. Com o crescimento da cidade, e a redução das florestas, o sauim fica cada vez mais sem opção de onde viver”, exemplificou. Já as espécies que se adaptam ao meio urbano, costumam proliferar em grande número, como é o caso do sanhaçu e do bem-te-vi”, destaca Robson.

Verticalização

A presidente do Sindicato dos Corretores de Imóveis, Jane Picanço, disse que todos os empreendimentos têm licença e estão previstos no Plano Diretor, que dita o crescimento da cidade. “Estamos construindo prédios para não utilizarmos grandes áreas. Não se inicia obra sem licença. Algumas áreas até deixaram de ser vendidas para construtoras em respeito ao meio ambiente”.

Desequilíbrio

Uma ave que está se tornando cada vez mais comum em Manaus é a coruja-buraqueira. Ela é natural de áreas abertas e não de florestas, mas como a mata fechada está acabando, elas começam a se instalar na capital amazonense. Outro exemplo preocupante é a superpopulação de urubus. “Isso é devido à falta de tratamento de resíduos sólidos, descarte de dejetos orgânicos nas ruas, terrenos e igarapés. A proliferação já está comprometendo a segurança de voos que operam nos aeroportos de Manaus, causando constantes colisões”, alertou Robson.

Fonte: A Crítica

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