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ESFORÇOS DE PROTEÇÃO

Espécies ameaçadas voltam a prosperar no sul da Austrália

Uma década após reintrodução, quolls ocidentais e gambás-de-cauda-espessa se adaptam e se reproduzem no Parque Nacional Ikara-Flinders, sem necessidade de cercas

26 de maio de 2025
4 min. de leitura
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Foto: Departamento de Meio Ambiente e Água

Uma década após serem reintroduzidos, os quolls ocidentais (Idnya) e os gambás-de-cauda-espessa (Virlda) estão prosperando no Parque Nacional Ikara-Flinders Ranges, na Austrália. As espécies, que estavam extintas localmente, agora são observadas com frequência à noite, circulando em busca de alimento.

“Eles são engraçados de observar. Às vezes curiosos, às vezes tímidos. Depende da personalidade de cada um”, conta Talitha Moyle, ecologista de reintrodução do Serviço de Parques e Vida Selvagem da Austrália Meridional (NPWS). Em março, rangers e voluntários do NPWS capturaram, escanearam e soltaram 135 quolls e 30 gambás durante cinco noites de monitoramento.

As espécies têm importância cultural para o povo Adnyamathanha, tradicional da região dos Flinders Ranges. Os quolls habitavam cerca de 80% do continente australiano antes da colonização europeia, mas desapareceram da região no final do século XIX e atualmente só existem na natureza em partes da Austrália Ocidental. “São marsupiais carnívoros que se alimentam de carniça, insetos, aves, ovos, répteis e filhotes de coelho – tudo que couber na boca”, explica Moyle ao The Guardian.

Os quolls pesam entre 800g e 2,5kg, comparáveis a pequenos gatos nativos. Já os gambás, considerados pragas em áreas urbanas, estavam extintos na região desde os anos 1940. Hoje, só possuem populações estáveis em duas áreas fora de Adelaide.

Os esforços de reintrodução foram liderados pelo programa Bounceback e pela organização FAME (Fundação para as Espécies Mais Ameaçadas da Austrália). Os quolls voltaram ao parque em 2014 e os gambás, em 2015. Ambos se reproduzem em áreas chamadas de “refúgios seguros”, onde predadores invasores foram controlados.

Segundo Moyle, o retorno das espécies foi possível mesmo sem o uso de cercas, graças ao controle de gatos, raposas e do pastoreio. A iniciativa criou três refúgios de cerca de 500 km² cada no extremo norte do estado.

A diretora executiva da FAME, Tracy McNamara, destacou a ousadia do projeto: “Foi preciso coragem para trazer essas espécies de volta sem cercas”. Novos projetos ambientais no estado incluem a proteção de plantas ameaçadas, bilbies, tordos-de-bassian e phascogales-de-cauda-vermelha – pequenos marsupiais carnívoros.

Para a ministra do Meio Ambiente da Austrália Meridional, Susan Close, o programa Bounceback é um exemplo bem-sucedido de conservação em larga escala. “O quoll ocidental provou que pode se adaptar a condições difíceis, desde que haja biodiversidade fortalecida e controle de espécies invasoras”, afirmou.

Em outras partes do país, ações semelhantes estão em andamento. O projeto Wild Deserts, por exemplo, reintroduziu 20 quolls ocidentais e 20 bettongs escavadores no Parque Nacional Sturt, em Nova Gales do Sul. Já em 2016, pesquisadores da Universidade Nacional da Austrália reintroduziram o quoll oriental no continente após 50 anos de ausência. Em 2022, 50 indivíduos da espécie foram soltos no Santuário de Vida Selvagem Barrington, na Cordilheira Divisora.

Moyle recomenda que visitantes do parque Ikara-Flinders levem lanternas e mantenham silêncio, especialmente à noite, para tentar observar um quoll selvagem nas proximidades de Wilpena. “Com sorte, um acampamento comum pode se transformar em uma experiência única com fauna ameaçada”, diz.

Fonte: Um só Planeta

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