Estão escondidas entre as rochas e chegam a ficar confortáveis em habitats de lama, pouco usuais. Por aí se encontram quase refugiadas as atraentes tartarugas carey que até há dez anos os biólogos marinhos consideravam praticamente extintas, após décadas e décadas de exploração humana para ingerir os ovos com supostas propriedades afrodisíacas ou para comercializar o casco que pode se tornar uma joia ou extensões de esporas para as briga de galos.
As tartarugas carey conseguiram desenhar um sorriso nas comunidades de biólogos marinhos e de ecologistas que trabalham no Trópico americano. De repente a população destes animais deixou de ser considerada “rara” e agora é uma espécie promissora, embora ameaçada pela pesca e seus métodos de rede.
“A gente pensava que tinham desaparecido, mas agora há esperança”, disse na quinta-feira (27) o biólogo Alexander Gaos, um especialista norte-americano que ainda lembra como seus colegas enxergaram sua cara de louco quando por volta de 2007 lhe ouviram dizer que queria pesquisar populações de tartarugas carey. Era pouco menos que escrever sobre dinossauros, mas Gaos começava assim uma busca que foi dando resultados na costa pacífica do México até o Equador.
Agora ele diz otimista que há pelo menos 500 fêmeas aninhadas nos recantos do Pacífico da região centro-americana, além de populações ainda menores no Caribe. A carey está na categoria mundial de “perigo crítico de extinção”, mas isso é uma boa notícia para uma espécie que se considerava derrotada apenas uma década atrás. Esta foi a mensagem de Gaos ao expor suas conclusões de anos na Universidade Nacional, com a intenção de alertar sobre as ameaças para o crescimento desta tartaruga pouco viajante e inquilina frequente de recifes em águas pouco profundas.
Gaos ainda lembra uma reunião com colegas seus e pescadores pequenos em El Salvador em 2004. Um destes tomou então a palavra e com um quê de vergonha disse que em sua praia só registrava 120 desovas em um ano. 120! O número era a melhor notícia para os biólogos que desde então consideraram a baía salvadorenha Jaquilisco como um dos pontos maiores de desova da carey, junto da Reserva Natural Estero Padre Ramos, na Nicarágua.
Los Cóbanos, na costa do El Salvador, e Aserradero, no litoral nicaraguense têm um nível médio de desova, nível que poderia atingir em breve a ilha Pelada, no pacífico norte da Costa Rica, país que tem em vigor uma lei de proibição do comércio de ovos destas tartarugas e do casco âmbar com vetas escuras que ainda se vê enfeitando alguns locais de praia ou recortado em pequenas peças para joias ou armações de óculos. Na fronteira com o Panamá, ao sul, também se conseguem fácil os jogos de bicos de carey curvados que são colocados nos galos como extensão das suas esporas para as brigas nos povoados, metade negócio e metade entretenimento. Até nos duty free dos aeroportos da América Central podem ser compradas peças de carey.
“É uma tartaruga bela, falando em termos românticos, mas em termos biológicos seria uma grande notícia a recuperação desta espécie porque ela se alimenta das esponjas marinhas que competem com a formação de recifes. É vital para a formação dos corais, que é o habitat de muitas outras espécies. Uma boa notícia sobre esta tartaruga é uma boa notícia sobre a vida marinha em toda nossa costa”, explicou o biólogo Randall Arauz, da fundação Programa de Recuperção de Tartarugas Marinhas (Pretoma).
Esta associação trabalha com a ONG de Gaos, Iniciativa Carey do Pacífico Oriental (ICAPO) e a organização Widecaste-CostaRica, onde trabalhava o ambientalista Jairo Mora, assassinado em 2013 em aparente vingança por sua tarefa na proteção de tartarugas Baulas no Caribe. O objetivo destas organizações é somar-se a um crescente movimento protecionista pela ilegalização da pesca por rede, frequente na indústria pesqueira. As leis obrigam a usar dispositivos para deixar que a tartaruga saia das redes e evite morrer afogada, mas isto só às vezes se cumpre, disse o diretor de Widecast em Costa Rica, Didier Chacón.
Agora, com o ressurgimento da tartaruga carey, os biólogos e ambientalistas tentam se aliar com as comunidades costeiras. Tentam convencer-lhes de que matar uma tartaruga para vender seus ovos ou comercializar seu casco é menos rentável (e sustentável) que manter ela próxima ao seu território e desenvolver o turismo. Isto já é a marca de algumas zonas da Costa Rica como Ostional (Pacífico) ou Tortuguero (Caribe), onde os turistas pagam até 100 dólares por um tour de observação da desova.
Com informações de El País.