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Espécie de ave em extinção sofre devido a contaminação por pesticida

5 de outubro de 2013
5 min. de leitura
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Por Juliana Akemi (da Redação)

Nas florestas de sequoias-costeiras da região central da Califórnia, os cientistas tentam desvendar o mistério em relação aos problemas reprodutivos de dezenas de condores ameaçados e acreditam ter encontrado o culpado: o DDT, pesticida banido há muito tempo. As informações são do Daily Mail.

As aves, que possuem envergadura maior que a altura de muitos jogadores da NBA, foram reintroduzidas à costa acidentada de Big Sur em 1997 após um século de ausência. Depois da chegada, os animais encontraram muito alimento, com leões-marinhos mortos e ninhadas de outros mamíferos marinhos às margens da praia.

Apesar de serem uma boa fonte alimentícia, a gordura dos leões-marinhos geralmente possui um nível elevado de DDT, pesticida banido em 1972 que provou ser um poluente persistente, pois se acumula no corpo dos animais por toda a cadeia alimentar.

Em perigo: Condores na costa central da Califórnia estão tendo problemas reprodutivos devido ao DDT
Em perigo: Condores na costa central da Califórnia estão tendo problemas reprodutivos devido ao DDT.

Antigamente utilizado vastamente na agricultura, o DDT foi banido por ser considerado uma toxina possivelmente cancerígena aos humanos pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA.

Kelly Soreson, diretora executiva da Ventana Wildlife Society (sociedade de proteção à vida selvagem de Ventana) e coautora de um novo estudo sobre os condores, afirmou que os pesquisadores dedicaram seis anos estudando o sistema reprodutivo dos condores e puderam “estabelecer uma forte conexão” com o DDT presente na fonte alimentícia das aves.

A revisão do estudo foi feita por dez especialistas em condores, incluindo biólogos dos zoológicos de Los Angeles, Santa Barbara e do U.S. Fish and Wildlife Service (unidade dos EUA dedicada à preservação da vida selvagem) e foi publicado em setembro 2013 no jornal “The Condor” da Universidade da Califórnia.

“Na ciência, raramente algo é definitivo, porém nós estabelecemos uma forte conexão entre o DDT e o afinamento das cascas dos ovos dos condores califórnios”, afirmou Soreson.

Hora do jantar: condores alimentam-se de restos de animais marinhos na praia, em Big Sur.
Hora do jantar: condores alimentam-se de restos de animais marinhos na praia, em Big Sur.

O mistério sobre a casca dos ovos começou em 2006, quando um biólogo que inspecionava um ninho de condor na cavidade de uma sequoia-canadense na costa central da Califórnia encontrou a primeira casca fina.

Nos próximos seis anos, os cientistas observaram os condores alimentando-se de dezenas de leões-marinhos e descobriram que a população de condores de Big Sur tinha um baixo índice de sucesso de incubação – apenas de 20 a 40% – a cada 16 ninhos. Em contraste, neste mesmo período, os condores da área de Tejon possuíam um percentual de sucesso entre 70 e 80%. As aves do sul da Califórnia ficam afastadas do mar e não têm os leões-marinhos como fonte de alimento.

Biólogos familiarizados com a devastação de populações de pássaros devido ao DDT imediatamente suspeitaram que o pesticida amplamente utilizado fosse um fator.

Testes realizados desde os anos 70 encontraram níveis elevados de DDT em leões-marinhos e estudos ligaram a versão metabolizada do DDT, o DDE, ao afinamento da casca dos ovos de pássaros, incluindo pelicano-pardos e águias-carecas.

Espécie está em extinção.
Espécie está em extinção.

A pesquisa sobre os condores atribuiu ao menos oito das 16 falhas de afinamento ao DDT. Uma casca encontrada esmagada em um ninho era 54% mais fina que o normal e o afinamento pode permitir que bactérias entrem mais facilmente no ovo.

Mas, em primeiro lugar, porque os leões-marinhos possuem um nível tão alto de DDT?

Cientistas acreditam que os mamíferos marinhos foram expostos quando migravam para a costa central, tendo partido do sul da Califórnia, local onde a Montrose Chemical Corp. despejou DDT impunemente por décadas até os anos 70. As instalações de Montrose e o oceano de Palos Verdes agora estão listados no “Superfund”, um programa estabelecido pelo governo federal norte-americano para limpeza de áreas contaminadas com resíduos perigosos.

“A grande maioria dos leões-marinhos da Califórnia vivem, em ao menos uma parte de suas vidas, no sul da Califórnia, que é a área litorânea mais contaminada por DDT no mundo. A migração dos leões-marinhos sentido norte deixa uma trilha de DDT para os condores da Califórnia Central”, diz Soreson.

Menos sucesso na incubação: ovos dos condores da Califórnia costa central eclodem menos da metade do que no sul.
Menos sucesso na incubação: ovos dos condores da Califórnia costa central eclodem menos da metade do que no sul.

Os autores do estudo e outros especialistas concordam que a munição de chumbo, e não o DDT, é a maior ameaça à sobrevivência dos condores. Mas Jesse Grantham, um ex-coordenador do programa de condores da Fish and Wildlife que não participou do estudo, acredita que o estudo levantou evidências cientificas que ajudarão no quadro geral da recuperação dos condores.

No entanto, um outro ex-coordenador do programa, Noel Snyder, criticou a pesquisa.

Ele afirma que o estudo olha apenas para uma causa potencial dos problemas reprodutivos, o DDT, e não consegue avaliar corretamente os efeitos potenciais de outros contaminantes e fatores que possam estar envolvidos e serem mais importantes.

“O DDT não é a única causa do afinamento das cascas, e os autores do estudo não apresentam uma correlação significativa entre o DDT e o afinamento encontrado, assim, não é convincente a relação entre o DDT e o que acontece em Big Sur.”

Joe Burnett, autor da pesquisa e biólogo da Ventana, defende o trabalho da equipe e afirma que todos os dados apontaram para o pesticida como o problema.

“Nós colhemos dados de diversas toxinas ambientais diferentes, mas nenhuma, com exceção do DDT, poderia causar falhas na reprodução das aves”, disse.

Na análise final, os autores do estudo afirmam que o problema do DDT irá desaparecer com o tempo, levando em conta a sobrevivência da espécie à situação atual de contaminação.

“Assim como no caso das águias-carecas e de outras espécies de pássaros afetados pelo DDT, a espessura doa casca do ovo dos condores irá se recuperar de acordo com a descontaminação da costa ambiental”, disse o coautor do estudo Robert Risebrough, especialista em efeitos do DDT em aves.

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