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PERDA DE HABITAT

Espécie de ave se espalha pelo litoral de SP e acende alerta em relação às florestas

Biólogos afirmaram que a invasão dos tapicurus na área urbana está relacionada com o desmatamento de florestas.

20 de agosto de 2024
Brenda Bento, g1 Santos
6 min. de leitura
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Tapicurus na praia do Boqueirão, em Santos (SP) — Foto: Alexsander Ferraz/A Tribuna Jornal

Os tapicurus (Phimosus infiscatus) se espalharam na Baixada Santista, no litoral de São Paulo. A maior presença da ave em áreas urbanas acende um alerta quanto ao desmatamento das florestas, segundo biólogos ouvidos pelo g1. Ainda de acordo com os profissionais, a crescente presença da espécie dá uma sensação de que ela pode “dominar o mundo”.

A bióloga e membro do Clube de Observadores de Aves de Santos (COA), Renee Leutz Lopes de Oliveira, afirmou que o pássaro, que tem plumagem preta, patas vermelhas, cara amarelada e um pouco rosada, também é chamado de maçarico-de-cara-pelada.

“O comprimento varia entre 46 e 54 centímetros e a massa chega a 600 gramas. É uma espécie sem dimorfismo sexual, ou seja, macho e fêmea não se distinguem a olho nu”, disse a bióloga.

Ao g1, o biólogo Bruno Lima explicou que o tapicuru é considerado primo do famoso guará-vermelho (Eudocimus ruber) e também possui o curvo longo como ele. “Enfia o bico na lama à procura de minhocas e outros bichinhos. Vive normalmente em bandos”.

A disseminação da ave na região, apesar de já ocorrer em baixa densidade antes de 2020, cresceu durante a pandemia de Covid-19. “Como é uma espécie típica de alagados, arrozais e várzeas, o tapicuru tem se aproveitado dos desmatamentos para ir colonizando novas áreas”.

Renee afirmou que alguns estudos têm registrado a presença da ave em regiões que antes não ocorriam. “Em Santa Catarina, por exemplo, o aumento populacional vem acontecendo em locais nos quais a Floresta Ombrófila deu lugar às pastagens e campos de arroz, favorecendo, de certa forma, a distribuição da espécie”.

Com a diminuição de florestas e, consequentemente, o aumento de áreas mais abertas e desmatadas, cada vez torna-se mais comum encontrar os tapicurus. A ave é frequentemente vista em gramados, praias, poças, valas e canais.

“Essa alteração ambiental vai tornando a ocupação cada vez mais propícia, de forma que eles avancem e se estabeleçam em novas áreas. Aqui em Santos, o maçarico-de-cara-pelada, encontrou no Jardim da Orla o ambiente perfeito para sua colonização. Além daqui, ele também achou morada em Bertioga e Praia Grande”, explicou a bióloga.

Bruno afirmou que as aves mostram muito sobre a saúde do meio ambiente. “Como o bioma predominante do litoral paulista é a Mata Atlântica, a presença de aves de áreas abertas é uma indicação de que estamos perdendo floresta“.

Ele ressaltou que não é apenas o tapicuru que indica isso, mas também a presença de outras espécies como o anu-branco (Guira guira), joão-de-barro (Furnarius rufus), avoante (Zenaida auriculta) e carcará (Caracara plancus).

“Com a destruição dos ecossistemas, vamos começar a ver menos espécies especialistas e mais espécies que se adaptam à presença humana”, disse Bruno.

Para a bióloga, embora pareça interessante avistar uma espécie nova, isso nem sempre é positivo, uma vez que a situação está ligada à degradação ambiental. “A disseminação do tapicuru na região pode ser um indicativo do aumento do desmatamento em áreas que ele frequentemente habita”.

O tapicuru está classificado como pouco preocupante na Lista Vermelha da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais). De acordo com o biólogo, é possível encontrá-lo em todo o Brasil, principalmente no sudeste, sul e centro-oeste.

Apesar de despertarem a curiosidade e interesse de quem os vê, Renee alerta que qualquer contato com animais silvestres sem o devido preparo pode trazer riscos, tanto à saúde das aves como para a dos seres humanos.

“As aves podem abrigar diversos microrganismos patogênicos ao ser humano. Atualmente, a gripe aviária é uma das principais preocupações. Embora incomum, o vírus que circula entre as aves pode vir a ser transmitido se houver exposição a aves infectadas ou ambientes contaminados”, disse a especialista.

De acordo com Bruno, a disseminação do tapicuru na Baixada Santista não é um caso isolado. “Durante a pandemia muita gente começou a observar aves, tanto como passatempo quanto à saúde mental, e com isso começaram a prestar mais atenção nas espécies. O caso dele é interessante porque é um exemplo clássico de como tem mais gente prestando atenção na natureza”.

Renee contou que em conversa com um amigo, também biólogo, eles cogitaram o fato da ‘ausência’ humana durante o período da pandemia ter motivado os tapicurus a dominarem as ruas da Baixada Santista. “Não sabemos a relação entre esses dois fatores, mas foi nítida a maior presença deles nas praias”.

Fonte: g1 Santos

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