Dez anos depois da águia-pesqueira ter abandonado o território português, a CIBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos) e o ICNB (Instituto para a Conservação da Natureza e Biodiversidade) juntaram esforços para reintroduzir a ave em Portugal. Neste momento, pelo menos 10 destas aves habitam no Alqueva.
Embora a sua população seja sempre reduzida, no final do século XX subsistiam bastantes exemplares da águia-pesqueira na costa rochosa portuguesa, onde a espécie era conhecida por guincho (daí existirem alguns nomes referentes à presença histórica da espécie, como por exemplo Praia do Guincho).
Os especialistas calculam que o principal motivo da sua extinção em Portugal esteja relacionado com a diminuição do seu alimento natural e a pressão humana, ou seja, os turistas, os profissionais da pesca e praticantes de desportos relacionados com o mar ou caminhadas nas zonas onde estas aves faziam ninho.
Em julho, chegaram cinco aves da Suécia e outras cinco da Finlândia que foram instaladas em gaiolas na zona do Alqueva, considerado o local mais indicado para a nidificação destas águias.
Andreia Dias, coordenadora executiva do projeto, contou ao Boas Notícias que – depois de um período de monitorização, para garantir que se estavam a adaptar sem problemas – as aves foram libertadas, no final de agosto (exceto um indivíduo que está a recuperar de um problema articular).
Reprodução em 2013
Está também em curso a colocação de ninhos artificiais nas ilhas da albufeira do rio a fim de facilitar a nidificação das aves libertadas naquela região após dois anos passados nas áreas de migração, geralmente na África Ocidental (Sene Gâmbia, Guiné-Bissau).
Andreia Dias “espera que as aves que sobrevivam até à idade reprodutora e voltem à área de libertação para se reproduzirem”. “O regresso das aves sobreviventes nos programas de reintrodução de águia-pesqueira costuma ocorrer com 2 a 3 anos de idade, pelo que se espera que as primeiras aves regressem em 2013”, explica.
Todas as águias pesqueiras libertadas têm uma anilha e serão monitoradas pelos especialistas, com o objetivo de conhecer as rotas utilizadas durante a dispersão e migração das aves a curto prazo e, a médio prazo, a identificação e localização de aves regressadas em idade reprodutora.
Segunda tentativa de reintrodução
Esta é a segunda tentativa de resgatar esta ave. Já em 1999, perante a eminente extinção espécie em Portugal, foi elaborado um projeto de recuperação que previa a transferência de jovens aves de outras populações e sua libertação neste território.
O projeto contou com o apoio de especialistas de todo o mundo e chegaram a ser visitados países com potenciais populações dadoras – Córsega, Escócia, Cabo Verde – e restaurado um edifício situado na Torre de Aspa, no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, para servir de base.
Estas ações foram suportadas financeiramente pelo então ICN – Instituto para a Conservação da Natureza. Apesar do extenso trabalho desenvolvido, o projecto acabou por não ter seguimento por lhe ter sido retirado o apoio institucional do Estado.
Fonte: Boas Notícias