No próximo dia 30 especialistas reúnem-se em Lisboa, Portugal, para discutir a conservação dos anfíbios, o grupo de vertebrados mais ameaçado do mundo. Só nos últimos 20 anos, acredita-se que se tenham extinguido 168 espécies, devido à perda de habitat, alterações climáticas e a um fundo mortal. Em Portugal existem algumas espécies endêmicas que também se encontram em vias de desaparecer.
Para discutir o problema, especialistas de todo o mundo vão reunir-se na Fundação Calouste Gulbenkian. Inserida na NaturSapo – Campanha Nacional de Conservação de Anfíbios, a conferência sobre Ecologia e Conservação de Anfíbios é organizada pelo portal Naturlink e pelo Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, da Universidade do Porto. “O objetivo é apresentar os principais trabalhos que existem sobre o tema, não só em Portugal, como nos países vizinhos”, explica Rui Borralho, diretor do Naturlink.
Um dos casos mais preocupantes a apresentar na conferência é o insucesso da conservação da Rede Natura 2000 na Costa Vicentina. “O objetivo era travar a perda da biodiversidade nessa área protegida, mas o balanço final acabou por ser negativo. Muitas lagoas desapareceram ou foram drenadas e desapareceram alguns anfíbios. Vamos tentar perceber o que correu mal.”
A presença de espécies exóticas , sobretudo a rã-de-unhas africana e o lagostim-vermelho-da-Luisiana, são outras das grandes ameaças. “O lagostim-vermelho alimenta-se de ovos e larvas de anfíbios. É das ameaças mais difíceis de erradicar. Não sabemos ao certo que medidas devem ser tomadas”, diz. Nas zonas com maior densidade de lagostins, as populações de anfíbios (e também de peixes) descem a níveis de quase pré-extinção.
Outro dos temas em debate será a questão das doenças que já mataram populações inteiras no mundo. “Ainda não aconteceu no nosso país, mas pretendemos saber, com esta apresentação feita pelo Instituto Zoológico de Londres, em que medida isso pode afetar os anfíbios na Europa.” Entre as quase 170 espécies que desapareceram, muitas habitavam em zonas tropicais, onde se desenvolvem fungos com regularidade, “mas temos algum receio que possam chegar até nós”.
As alterações climáticas fazem também parte do grupo de temas em destaque, mais uma vez, sem se saber ao certo qual poderá ser o impacto real nos anfíbios. A verdade é que são animais “muito vulneráveis, com necessidade de terra e água para sobreviver e peles sensíveis à ação dos ultravioletas ou subidas de temperatura”, salienta.
Entre o grupo de ameaças conta-se também a elevada mortalidade nas estradas, uma vez que os anfíbios, como animais lentos na deslocação estão sujeitos a vários atropelamentos. “Os balanço de mortes na Europa chega aos milhares.” Para combater esta tendência, há medidas que vão ser postas em prática, como “a construção de passagens hidráulicas para anfíbios por baixo das estradas”. Entre as espécies que mais sofre com atropelamentos em Portugal está o sapo-comum e a salamandra-de-pintas-amarelas. “As mais terrestres”, diz.
Uma das ações mais importantes da NaturSapo é o estabelecimento de micro-reservas para anfíbios. “Neste momento já temos estabelecidos contatos com seis entidades privadas para a sua criação”, diz Rui Borralho. Por outro lado, a possibilidade de reprodução e conservação de anfíbios em zonas de cidade também será estudada. “A criação de pequenos lagos no meio de zonas urbanas pode ser uma forma de controlar algumas populações de anfíbios.” E de alertar a população para a importância da biodiversidade. É que “os anfíbios, além de úteis para os agricultores, porque consomem insetos, são animais inofensivos”.
Com informações de DN Ciência