No 15 de julho, a ex-apresentadora e ativista pelos direitos animais Luísa Mell postou uma foto ao lado de seu labrador Marley, contando que o cão, de 15 anos, havia morrido. Em publicações posteriores, ela disse que, com ele, conheceu “a verdadeira e profunda amizade”. Ela ainda falou das dificuldades em lidar com a dor de seu filho, Enzo, 2, pela saudade do cachorro.
Alguns podem não ligar para esse tipo de homenagem e achar exagerado o sofrimento pela perda de um animal. A psicóloga Simone Miranda Rosa, porém, avisa: “Esse luto deve ser respeitado”. Segundo ela, a morte de um animal pode ser tão dolorosa quanto a de uma pessoa, dependendo do grau de vínculo. “O luto gera angústia”, define.
A fisioterapeuta e professora de pilates Priscila Kerye, 31, passou a viver esse sentimento há um mês, quando seu gato O Kara morreu devido a problemas renais e diabetes, aos 17 anos. “Para mim, foi como perder um filho”, diz Priscila, que convivia com o gato desde a adolescência.
“No dia, fui trabalhar para não ficar em casa me acabando de chorar.” Após dar aulas de pilates na parte da manhã, Priscila, no entanto, voltou para casa e chorou durante o resto do dia.
Tutora de outros três gatos, a fisioterapeuta conta que herdou de seus pais o amor pelos bichanos. “Minha mãe também ficou muito triste. Ela não quer lavar o cobertor dele para continuar sentindo o cheirinho”, diz.
Entre as lembranças que Priscila guardou de O Kara estão também uma placa de gesso com a marca da patinha do gato e uma tatuagem na perna com suas pegadas.
A psicóloga Déria Oliveira, que fez tese de doutorado sobre o luto pela morte de animais, orienta que um jeito de encontrar alívio é procurar pessoas do convívio que aceitem esse sofrimento e que saibam falar dele.
“Em alguns casos, pode ser preciso buscar ajuda de um psicólogo”, diz. Sua colega Simone acrescenta: “Esse luto deve ser acompanhado de perto por familiares, para que não seja incapacitante e prolongado demais. A vida precisa prosseguir”.
A adoção de outro animal, segundo Déria, não necessariamente ajuda a superar a perda. “Se o tutor quer outro animal, isso pode ser positivo.” Pessoas entrevistadas em sua pesquisa, porém, apontaram como “insensível” oferecer outro animal a quem acabou de perder o seu. “A pessoa poderá rejeitá-lo.”
Simone, por sua vez, diz que essa perda tem efeitos diferentes, conforme a idade. “As crianças geralmente lidam melhor. Seu mundo imaginário permite criar destinos felizes para seus amiguinhos e, com isso, o luto é um pouco mais breve, mas não menos sofrido. Os adultos pensam nas memórias e nas dores dos últimos instantes. Já os idosos sofrem muito, pois são mais sensíveis. Muitos entram em quadro depressivo.”
Ela alerta que é errado dizer a quem vive esse luto frases como “era só um cachorro, você adota outro” ou “ele estava velho e só dava trabalho”. A tristeza do outro precisa ser compreendida e respeitada.
COMO AGIR
Veja o que fazer quando seu animal morre
Clínica veterinária
O tutor pode procurar uma clínica veterinária após a morte do animal. Esses estabelecimentos pagam uma taxa para a prefeitura, e ela recolhe o lixo hospitalar, incluindo os cadáveres de animais. Eles são encaminhados ao Centro de Zoonoses e incinerados. O serviço é gratuito.
Cemitério de animais
Em algumas cidades existem cemitérios para animais domésticos. Esses locais devem ter permissão da prefeitura para funcionar e precisam seguir as exigências de órgãos de fiscalização. O serviço custa, em média, de R$ 1.450 a R$ 2.500.
Crematórios especializados
Assim como os cemitérios de animais, em grandes cidades, como São Paulo, existem crematórios. Além da cremação pela prefeitura, também é possível optar por crematórios especializados, onde os animais são cremados separadamente – diferentemente do processo feito pela prefeitura. As cinzas são colocadas em urnas e entregues ao tutor. O serviço custa de R$ 1.300 a R$ 2.000.
Importante!
Se o tutor possui mais animais ou pensa em adotar outro logo após a morte do animal, é necessário limpar a casa com desinfetante, pois algumas doenças ficam no ambiente e podem contaminar filhotes que ainda não são vacinados.
Obs.: Não enterre o animal por conta própria! O cadáver libera bactérias e substâncias que contaminam o solo.
Fonte: Folha de S Paulo