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Especialista em vida selvagem narra avistamento de Arara Jacinto no Brasil

15 de setembro de 2013
4 min. de leitura
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Por Claudia Doppler (da Redação)

Em seu segundo episódio vindo do Brasil, Chris Moss viaja “além de lugar nenhum” para ver um pássaro azul com um futuro rosa. Matéria publicada no Telegraph, em 14 de agosto.

 “Nós fomos presenteados por uma apresentação de um dos maiores e mais bonitos pássaros do mundo: a arara jacinto”. Foto: Chris Moss

“Nós fomos presenteados por uma apresentação de um dos maiores e mais bonitos pássaros do mundo: a arara jacinto” (Foto: Chris Moss)

Cheguei com meu grupo no Parque Nacional das Nascentes do Rio Parnaíba muitas horas depois de escurecer, tendo voado do Rio, via Brasília, para uma cidade chamada Barreiras, pois precisávamos nos transferir a um micro-ônibus, para uma viagem de seis horas. O parque é no estado do Piauí, que meu anfitrião – e naturalista especialista – Charlie Munn, disse que significa “além de lugar nenhum” na língua ameríndia local. “Diga a qualquer um no Brasil que você foi ao Piauí durante suas férias,” ele disse, “e eles dirão: para que? Não há coisa alguma lá”.

Mas, ao acordar na manhã seguinte, este “nada” resultou em algo. Nós estávamos em um acampamento pertencente a Lourival Lima, um antigo rastreador de araras que, disse Charlie, “veio para o lado bom da floresta” em 1994. Agora suas consideráveis habilidades e esperteza são empregadas buscando animais que visitantes podem admirar.

O acampamento é estabelecido na paisagem conhecida no Brasil como Cerrado. Uma complexa savana tropical, é o segundo maior bioma na América do Sul (depois do Amazonas), mas está entre os menos estudados e menos protegidos. A terra desolada estava seca depois de meses sem chuva, mas não estava sem graça ou enfadonha.

Árvores retorcidas pontilhavam a terra vermelha e cada depressão significante parecia ser preenchida com vegetação densa. Pés de buriti e ipê acrescentam borrifadas de verde-limão viçoso, amarelo e rosa pálido, e há altas falésias vermelho-ferrugem e colinas margeando áreas abertas de savana dourada.

Viajamos para cá para ver o lobo-guará, um dos “Cinco Grandes” mamíferos do Brasil, mas antes fomos presenteados por uma apresentação de um dos maiores e mais bonitos pássaros do mundo: a arara jacinto. Um metro da cabeça à cauda e envergadura de asa para combinar, é um favorito dos observadores de pássaros e um emblema da conservação da América do Sul. Quando Lourival ainda estava no “lado mau” da floresta ele capturava estas belezas azul-púrpura e as vendia para exportação para ricos colecionadores particulares na Europa, América e Ásia.

Assistimos às araras de um esconderijo enquanto elas tagarelavam, brincavam, se tratavam e usavam seus bicos afiados como navalha e duros como rocha para abrir grandes nozes de palmeira e chegar à polpa macia e doce do interior. Charlie disse que araras se alimentam destas frutas de sabor de coco desde os tempos da megafauna: preguiças gigantes comiam as nozes, queimavam as camadas exteriores com seus ácidos digestivos e então expeliam o miolo saboroso. Agora as araras tinham que fazer todo o trabalho duro sozinhas.

Sociáveis, curiosas e muito divertidas de se olhar, as araras apresentaram um espetáculo explosivo de vida selvagem. No nascer do sol suas penas estavam majestosamente matizadas e seus salientes olhos circulados de amarelo estalados contra o cenário da folhagem verde-escuro.

“Agora elas estão salvas”, diz Charlie, “Elas permanecerão assim enquanto podemos trazer números de visitantes até aqui e demonstrar a Lourival que ele pode ganhar um sustento tão bom com turismo quanto quando ele comercializava araras. Mas, sim, as araras jacinto têm um futuro rosa”.

Aquela mesma manhã vi um preá e alguns saguis e talvez vinte novas – para mim – espécies de pássaro, incluindo um gaviãozinho, um beija-flor tesoura e uma aratinga-de-testa-azul. Também havia suiriris, bem-te-vis e tucanos-toco, todos dos quais eu havia visto antes – embora nunca vá deixar de apreciar tucanos pairarem através da copa mais alta. O Parque das Nascentes do Rio Parnaíba é um longo caminho vindo da corrente principal do circuito turista brasileiro (o qual o Amazonas e Pantanal dominam facilmente), mas rivaliza com alguns dos melhores chamarizes de vida selvagem da América do Sul quando ocorre para observações de pássaro espontâneas e ecléticas.

Foto: Chris Moss
Foto: Chris Moss

Especialistas ainda vêm, bem como produtores de documentários de vida selvagem. Mas Charlie diz que muitos locais – incluindo um que visitamos para nos maravilharmos com macacos-prego barbudos usando pedras para abrir nozes de palmeira – recebem apenas umas poucas dúzias de visitantes por ano.

“As pessoas vêm para ver a onça-pintada, o que é obvio, e vão ao Pantanal para isso. Mas precisamos usar a onça-pintada para trazê-los aqui e ver os macacos e as araras”, diz Charlie.

 Basicamente, Chris Moss espera espionar a onça-pintada (Foto: Chris Moss)
Basicamente, Chris Moss espera espionar a onça-pintada (Foto: Chris Moss)

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