O governo britânico anunciou nesta quinta-feira (7) uma nova estratégia de segurança energética, buscando acelerar a energia nuclear, eólica e solar, mas, no contexto da guerra na Ucrânia, também a extração de hidrocarbonetos, apesar de sua promessa de priorizar a neutralidade de carbono.
Este plano fará o que for necessário para que o Reino Unido “nunca mais seja submetido a chantagens de pessoas como (o presidente russo) Vladimir Putin”, disse o primeiro-ministro Boris Johnson durante visita às obras da central nuclear de Hinkley Point, no sudoeste da Inglaterra, a única em construção no país, que acumula anos de atraso e bilhões em custos extras.
Líder mundial em energia eólica marinha, Londres buscará impulsioná-la para obter quase metade de sua capacidade energética até 2030, além de aumentar sua produção solar e relançar sua energia nuclear com a criação de oito novas usinas.
Mas o governo britânico também defendeu que a comoção causada nos mercados pelas sanções contra a Rússia, líder na extração de hidrocarbonetos, a obriga a reavaliar temporariamente sua própria produção de combustíveis fósseis, com novas licenças para extração de petróleo e gás no Mar do Norte.
“Não se trata de forma alguma” de reduzir os compromissos climáticos do Reino Unido, que em novembro co-organizou a conferência internacional COP26 com as Nações Unidas, apresentando-se como líder na luta contra o aquecimento global, assegurou o ministro da Energia, Kwasi Kwarteng.
Mas, desde então, a inflação desenfreada e as barreiras aos hidrocarbonetos russos mudaram a situação.
“Dado o que está acontecendo no mundo (…) também atuamos para garantir que devolvamos a independência energética” ao país, justificou Kwarteng em declarações à Sky News.
Em sua resposta à invasão da Ucrânia, o governo britânico anunciou inicialmente que reduziria progressivamente suas importações de petróleo russo. Mas na quarta-feira garantiu que interromperá todas as importações de carvão e petróleo bruto antes do final do ano e as de gás natural “o mais rápido possível depois”.
Embora menos dependente dos hidrocarbonetos russos do que outros países europeus, como a Alemanha, o petróleo e o gás ainda representam 75% da matriz energética britânica.
O governo Johnson escreveu na legislação o objetivo de alcançar a neutralidade de carbono até 2050.
– “Loucura moral e econômica” –
Na opinião de Nick Eyre, especialista em política energética e climática da Universidade de Oxford, esta “estratégia de segurança energética centra-se em tecnologias de abastecimento dispendiosas e lentas”, “não foi bem pensada e não vai conseguir o que é preciso”.
O relatório do IPCC, apresentado esta semana pelos especialistas em clima da ONU, “mostra que a procura de energia pode ser reduzida para metade até 2050, melhorando a nossa qualidade de vida”, sublinhou, enquanto Alex Veitch, chefe da Câmara de Comércio, também denunciou que “este plano não promove medidas de eficiência energética” quando “o primeiro passo em qualquer estratégia de segurança energética deve ser a redução da demanda”.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, considerou como “loucura moral e econômica” investir mais em combustíveis fósseis, durante a apresentação, na segunda-feira, do relatório do IPCC.
Ele alertou em suas 3.000 páginas que os países correm o risco de acabar com trilhões em ativos sem valor, como plataformas offshore e oleodutos, quando a demanda por combustíveis fósseis diminuir nas próximas décadas.
O próprio Kwarteng reconheceu que perfurar mais localmente não reduzirá os preços do gás, que seguem os do mercado internacional.
“Portanto, temos que gerar mais eletricidade no Reino Unido” com energias renováveis e energia nuclear, insistiu.
Mas para Andy Mayer, analista do Instituto de Assuntos Econômicos que defende o livre comércio, os novos planos nucleares do governo britânico exigirão subsídios públicos para controlar os custos.
Com “uma fatura de 24 a 63 bilhões de libras (31-82 bilhões de dólares) por central e prazos de entrega de 13 a 17 anos”, quando concluídos “é provável que haja opções melhores, mais baratas e mais rápidas”, salienta.