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ESTUDO

Entre babuínos, o carinho do pai faz a filha viver mais

Vínculos afetivos construídos na infância, mesmo que sutis, podem ser decisivos para o futuro, aponta um dos mais longos estudos sobre primatas em vida livre

8 de julho de 2025
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Um macho adulto com um filhote de babuíno em Amboseli, no Quênia. Foto: Elizabeth Archie/Universidade de Notre Dame.

Embora a maioria dos mamíferos não conte com cuidados paternos ativos, um novo estudo mostra benefícios dessa convivência entre primatas. Filhas de babuínos que convivem com seus pais nos primeiros anos de vida tendem a viver mais, segundo pesquisa liderada pela Universidade de Notre Dame, nos Estados Unidos, que analisou mais de duzentas fêmeas em Amboseli, no Leste da África.

As filhotes que cresceram próximas aos seus pais, vivendo no mesmo grupo social por pelo menos três anos, tiveram vida mais longeva, em média, ganhando de dois a quatro anos a mais de vida do que aquelas que perderam o pai cedo ou cujos pais deixaram o grupo. O dado chama atenção porque, entre os babuínos, todo o cuidado essencial é fornecido pelas mães. Ou seja, a presença paterna, ainda que mais sutil, revelou ter um impacto significativo.

“Em muitos mamíferos, os pais têm a reputação de não contribuir muito para o cuidado, mas agora sabemos que mesmo contribuições aparentemente pequenas que os machos fazem têm consequências realmente importantes, pelo menos nos babuínos”, diz a bióloga Elizabeth Archie, autora do estudo.

Segundo ela, os machos jovens se dedicam principalmente à reprodução, mas, com o tempo, deixam de disputar parceiras e passam a investir mais nos filhos. Nessa fase, passam a permanecer no grupo e interagir com os filhotes. A professora descreve esse comportamento como entrar no “modo pai”, quando o tempo e a energia se voltam para vínculos sociais em vez de competição.

Um dos sinais desse vínculo é o “grooming”, hábito de se limpar mutuamente, comum entre os primatas. Mais do que higiene, essa prática ajuda a fortalecer laços sociais. Archie compara esse gesto ao hábito humano de sentar para um café e conversar. No caso dos babuínos, as filhotes que mantinham esse contato frequente com os pais apresentaram maiores taxas de sobrevivência.

Os pesquisadores observaram ainda que relações próximas com outros machos adultos não tiveram o mesmo efeito. Isso sugere que há algo de especial na relação entre pai e filha. A presença paterna, aponta a pesquisa, pode oferecer proteção em conflitos e ampliar o círculo social das filhotes, criando uma espécie de zona segura dentro do grupo.

A pesquisa faz parte do Amboseli Baboon Research Project, iniciado em 1971 e considerado um dos mais longos estudos sobre primatas em vida livre. O trabalho é conduzido em colaboração com instituições como a Universidade Duke, o Instituto Max Planck e pesquisadores no Quênia.

O estudo, publicado na revista Proceedings of the Royal Society, também levanta hipóteses sobre as origens evolutivas do envolvimento dos pais humanos na criação dos filhos e sugere que mesmo quando o apoio do pai não é tão evidente quanto o da mãe, ele pode trazer efeitos duradouros na vida da criança.

Fonte: Um só Planeta

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