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SALVAMENTO

Entidades se unem para resgatar animais deixados para trás durante a guerra na Ucrânia

7 de março de 2022
Thayanne Magalhães l Redação ANDA
10 min. de leitura
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Tutores se recusam a deixar Ucrânia sem os seus pets; muitos países flexibilizam as suas normas de entrada para animais (Foto: The Indian Express/ Reprodução)

Cada vez mais entidades estão motivadas a resgatar os animais deixados para trás por fugitivos da guerra na Ucrânia, forçados a migrar para países vizinhos repentinamente. Pelo menos 8 iniciativas e ações pró-animais em meio à guerra estão atuando no salvamento de cães, gatos e outros animais domésticos ou aprisionados em zoológicos, que correm riscos de morte com os bombardeios da Rússia.

400 animais e um tutor inseparável

Ex-fotógrafo de moda, o italiano Andrea Cisternino, que vive na Ucrânia há 13 anos, recusa-se a deixar o seu abrigo em Kiev – que é casa para 400 animais resgatados. A ANDA já escreveu sobre o assunto.

Originalmente pensado para cães, o abrigo agora conta com as mais diversas espécies: gatos, cavalos, vacas… “um pouco de tudo”, nas palavras de Andrea ao portal EuroNews.

“Vou ficar aqui pelos meus animais. Depende do que acontecer, mas 400 animais é um número muito grande para transportar para qualquer lugar. O abrigo também me custou – foi um sacrifício, então não é fácil deixar tudo para trás”, diz sobre o lar dos animais, que já foi alvo de um incêndio durante a caçada a cachorros em situação de rua promovida pelo governo ucraniano durante o campeonato de futebol europeu.

Ele pretende continuar na Ucrânia com os seus animais e conta com provisões que acumula desde 2014, quando se iniciou a guerra no Donbass. “Eu tenho tentado nunca mais me encontrar na mesma situação, e pensava que não iria acontecer, mas consegui comprar algumas coisas antes que tudo fosse fechado”.

Andrea Cisternino se recusa a deixar Ucrânia sem os seus 400 animais resgatados, que vivem em abrigo (Foto: Andrea Cisternino/ Facebook/ Reprodução)

Trabalho voluntário 24 horas por dia

Um trabalhador voluntário da Polônia, Konrad Kuzminski, está fazendo viagens regulares à Ucrânia devastada pela guerra para resgatar animais abandonados. Junto aos colegas da instituição Dioz, perto da fronteira polaco-ucraniana, ele já resgatou mais de 100 cães, gatos, coelhos, hamsters e até um camaleão.

“Houve muitas notícias falsas e histórias não corroboradas de que os ucranianos estão matando animais abandonados, isso não é verdade. Muitos deles estão mal, doentes, famintos ou com membros quebrados. Coletamos todos os animais que encontramos e os trazemos de volta ao nosso abrigo para serem cuidados”, disse ao jornal Daily Mail UK.

Localizado nos arredores de Przemysl, o abrigo tem trabalhado 24 horas por dia e feito travessias diariamente. Em uma ocasião, Konrad teve de dormir na sua van – que utiliza como ambulância – porque havia ultrapassado o toque de recolher.

Os animais que são tratados com sucesso pela Dioz são postos para adoção, mas alguns tutores pediram que seus animais fossem mantidos em segurança até que a guerra acabe. Foi o caso de um rapaz ucraniano que lutará na guerra:

“No fim de semana passado, recebi uma ligação de um homem que estava na Ucrânia e ele disse que estava morando sozinho, mas tinha um cachorro e queria que cuidássemos porque ele iria lutar contra os russos. Nós combinamos de nos encontrar do outro lado da fronteira, e ele estava em prantos ao entregar seu cão para mim, mas eu disse que cuidaríamos dele e ele poderia buscá-lo quando tudo isso acabasse”, disse Konrad.

A Polônia é um dos países que flexibilizou as regras de entrada de animais no país. Agora, refugiados que fogem com seus animais podem cruzar a fronteira sem apresentar vacinas, microchipagem ou exame de sangue. Romênia, República Tcheca, Lituânia, Eslovênia e Hungria também flexibilizaram as suas normas de biossegurança.

Fenômenos do TikTok ajudam animais que ficaram para trás

O casal de veterinários ucranianos Leonid e Valentina Stoynov se tornou um sucesso no TikTok após resgatarem um pequeno macaco chamado Tosya de um zoológico. Agora, eles têm feito um apelo também pelos animais que estão sendo afetados por ataques do exército russo.

Os veterinários estão aceitando cuidar dos animais que ficarem na cidade por não poderem ser levados para fora do país.

Andrea Cisternino se recusa a deixar Ucrânia sem os seus 400 animais resgatados, que vivem em abrigo (Foto: Andrea Cisternino/ Facebook/ Reprodução)

Assistência romena

Nos países citados, já existem pessoas nas fronteiras trabalhando para prestar assistência prática aos tutores de animais domésticos. É o caso também do Sava’s Safe Haven, um abrigo de animais com sede em Galti (Romênia), que está oferecendo ajuda em três dos pontos alfandegários no leste da Romênia: Giugiulesti e Oancea, na fronteira Moldávia-Romênia, e Isacea, na fronteira ucraniana – a mais usada.

De acordo com a lei marcial, homens entre 18 e 30 anos não estão autorizados a deixar a Ucrânia no momento. Por isso, a equipe do abrigo está fornecendo lares adotivos para os pets de alguns homens solteiros, que precisam permanecer no país, mas querem que seus bichos fiquem seguros.

O trabalho do Sava’s Safe Heaven envolve a doação de bens, como alimentos e cobertores para os animais, bem como assistência de longo prazo na aquisição de passaportes para animais, triagem de microchipagem e organização de vacinas. Embora os animais não necessitem disso para entrar na Romênia, todos eles precisarão ser registrados e devidamente imunizados após a chegada.

Além disso, a organização também está fornecendo apoio aos humanos, organizando o transporte das principais cidades, encontrando abrigo para famílias e procurando maneiras de enviar suprimentos de comida a granel para aqueles que ficam em Odessa. Eles também estão arrecadando fundos para continuar com a iniciativa e procurando construir uma unidade de emergência para aumentar a capacidade do centro.

PETA em campo

A PETA (People for the Ethical Treatment of Animals) da Alemanha também está envolvida com auxílios prestados a refugiados e seus animais domésticos. Posicionados ao longo das fronteiras polonesa e romena, os voluntários tentam pastorear os animais com segurança e estão trabalhando com organizações parceiras na Romênia que conseguiram entrar na Ucrânia para resgatar animais abandonados, além de oferecer vacinas para cães e gatos.

Até a última quinta (03/03), duas toneladas de ração para gatos e cachorros haviam sido doadas, além dos cobertores para pessoas que estão caminhando longas distâncias.

No mais, a equipe alerta que é praticamente impossível que os refugiados levem os seus animais domésticos para a União Europeia ou o Reino Unido – exceto para aqueles países que mudaram as suas políticas de entrada.

A Comissão Europeia aconselhou todos os Estados-Membros da UE a flexibilizar os requisitos de documentação veterinária para facilitar a entrada dos refugiados. Muitos deles, entre outros países ao redor do mundo, adotaram a prática (veja a lista completa aqui).

Ajuda remota

Outra organização que segue operando em ajuda à Ucrânia é o Fundo Internacional para o Bem-Estar Animal (IFAW), dirigido por James Sawyer. A organização ​​fornece recursos, como alimentos e suprimentos veterinários, e continua pagando os salários dos funcionários durante a guerra para garantir que os animais sejam cuidados.

“Os suprimentos locais estão se esgotando, um dos dois abrigos de animais que apoiamos foi danificado por bombas, perdendo um dos animais”, disse o diretor à BBC News.

O trabalho é remoto porque é muito perigoso ir à Ucrânia neste momento – os funcionários locais relataram situações terríveis com os 1.100 cães sob seus cuidados. Segundo eles, há muito medo até para acender uma fogueira para não atrair atenção desnecessária.

Arrecadação de fundos do Animal Food Bank

O Animal Food Bank também está respondendo à devastação na Ucrânia com uma campanha de arrecadação de fundos para apoiar os animais refugiados, organizações de bem-estar animal e tutores.

“O que estamos ouvindo é que, para organizações que protegem animais domésticos e pessoas que ficaram para trás, os preços dos suprimentos estão subindo rapidamente, então a assistência financeira é absolutamente necessária”, disse Nicole Frey, fundadora do Animal Food Bank, ao portal canadense Global News.

É aí que entra o trabalho do Animal Food Bank: Nicole e sua equipe estão entrando em contato com organizações e abrigos de bem-estar animal na Ucrânia para que possam obter o dinheiro de que precisam, assim que precisarem.

Ela dedicou parte de seu site para ajudar a Ucrânia, seja por meio da campanha de arrecadação de fundos Be Kind for Ukraine ou de outras organizações de ajuda.

Resgate de animais selvagens em santuário

Não são apenas os animais domésticos que sofrem com a guerra na Ucrânia. Os animais silvestres que vivem em cativeiro também enfrentam perigo iminente e precisam de ajuda.

Por isso, um santuário a leste de Kiev pediu ajuda ao zoológico de Poznan, no oeste da Polônia, para colocar os seus bichos em segurança.

Um caminhão transportando seis leões, seis tigres, dois caracais e um cão selvagem africano chegou no país vizinho na quinta-feira (03/03) após uma viagem de dois dias para escapar da invasão russa.

“Eles tiveram que percorrer um longo caminho para evitar Zhytomyr e outras zonas de bombardeio. Tiveram que voltar muitas vezes, porque todas as estradas estavam explodidas, cheias de buracos, impossíveis de passar com tanta carga, por isso demorou tanto longo”, disse o porta-voz do zoológico de Poznan, Malgorzata Chodyla.

Uma primeira tentativa de fazer a viagem falhou depois que o caminhão encontrou tanques russos e não conseguiu passar.

Malgorzata disse que todos os animais, incluindo filhotes de tigre, sobreviveram à longa jornada, mas o zoológico estava preocupado com uma tigresa de 17 anos que parecia estar muito cansada.

Depois que descansarem um pouco em Poznan, os animais poderão seguir viagem mais para o oeste. Um santuário belga declarou que receberia os seis leões e o cão selvagem africano, de acordo com Malgorzata.

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