O caso recente de uma cobra píton-ball, originária da África e solta por engano pelo Corpo de Bombeiros no Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro, alerta para os riscos da soltura de animais exóticos sem a orientação de especialistas. A equipe de resgate confundiu a serpente com uma jibóia, nativa do Brasil.
A serpente africana pode chegar a três metros de comprimento e é considerada uma das maiores cobras do mundo. Além disso, é uma espécie predadora e pode representar um grande risco para a fauna nativa. Felizmente, a cobra foi encontrada após alguns dias, evitando um desequilíbrio ambiental grave.
No entanto, o biólogo Henrique Costa alerta que a soltura de animais exóticos é um problema crescente no Brasil e pode trazer consequências graves para o meio ambiente e para a saúde pública.
“A introdução de espécies exóticas pode gerar competição por recursos, prejuízos à biodiversidade, transmissão de doenças, cruzamento entre espécies e até mesmo a extinção de espécies nativas”, destaca o especialista em répteis.
O que fazer para evitar erros?
Ainda de acordo com ele, para evitar casos como este, é fundamental aumentar a fiscalização nas fronteiras e portos e conscientizar a população sobre os impactos negativos dessa prática. “O treinamento especializado dos bombeiros responsáveis pela captura e soltura de animais silvestres, bem como a criação de parcerias com biólogos e outras instituições especializadas seria um importante passo para evitar futuros erros que poderiam ter sido irreversíveis para a natureza”, explica.
Além disso, o uso de tecnologias, como aplicativos para identificação de espécies e equipamentos de monitoramento e rastreamento de animais silvestres, pode ajudar a evitar a soltura de animais exóticos no Brasil. “A conscientização sobre os impactos negativos da introdução de espécies exóticas é essencial para preservar a biodiversidade brasileira. E a população pode ajudar”, conta ele.
Espécies exóticas no Brasil
Um estudo recente desenvolvido com Érica Fonseca identificou um total de 2.292 registros de 136 espécies de répteis e anfíbios invasores no Brasil, introduzidas através de várias formas, incluindo comércio de animais domésticos, consumo humano e acidentalmente. A conscientização é a chave para evitar esses riscos e garantir um meio ambiente saudável e preservado.
“É um estudo importante sobre a introdução de répteis e anfíbios exóticos no Brasil que nos dá um breve panorama da situação. Esse foi um estudo bastante atualizado. Mas ainda assim, podem existir outras espécies introduzidas aqui e ainda desconhecidas por nós”, relatou a principal pesquisadora em artigo.
Conheça algumas espécies que não são nativas
No Brasil, existem algumas espécies exóticas que já são populares há bastante tempo, como o javali, o capim-colonião, o pinus e o tamarindo, que foram introduzidos para fins específicos, mas podem causar impactos negativos em ecossistemas nativos.
Javali (Sus scrofa): O javali foi introduzido no Brasil no século XIX para ser criado em cativeiro para fins de caça. Entretanto, muitos animais escaparam ou foram soltos na natureza, e atualmente a espécie é considerada invasora em alguns estados brasileiros. O javali pode causar impactos negativos em ecossistemas nativos, competindo com espécies nativas por recursos e transmitindo doenças para animais domésticos.
Capim-colonião (Panicum maximum): O capim-colonião é uma espécie de planta exótica que foi introduzida no Brasil no século XIX para ser utilizada como forragem para o gado. A planta se adaptou bem ao clima e ao solo brasileiro, e hoje é uma das principais espécies utilizadas na pecuária.
Pinus (Pinus sp.): As espécies de pinus foram introduzidas no Brasil no século XIX para serem utilizadas na produção de madeira. A planta se adaptou bem às condições climáticas e hoje é encontrada em diversos estados brasileiros, principalmente na região Sul. Entretanto, a introdução do pinus pode causar impactos negativos em ecossistemas nativos, como a competição com espécies nativas e a diminuição da biodiversidade.
Casos mais recentes
2022: A Tilápia do Nilo, uma espécie de peixe originária da África, é uma das mais cultivadas no Brasil, porém sua introdução em ecossistemas aquáticos brasileiros pode causar impactos negativos, como a competição com espécies nativas e a transmissão de doenças. Em 2022, a espécie foi responsável por um surto de botulismo em um lago no Rio Grande do Sul, que afetou diversos animais e causou a morte de pelo menos 40 gansos e patos.
2021: A vespa-asiática (Vespa velutina), uma espécie invasora que tem causado preocupação em vários países, foi encontrada no Brasil pela primeira vez em 2021, na cidade de São Paulo. A espécie é uma ameaça para a biodiversidade local, podendo atacar abelhas nativas e afetar a polinização.
2020: A planta exótica conhecida como erva-de-passarinho (Phoradendron crassifolium) tem sido observada invadindo árvores nativas em áreas de Mata Atlântica no sul do Brasil. A planta é uma parasita e pode prejudicar o crescimento e a sobrevivência das árvores hospedeiras.
2019: O caranguejo-uçá (Ucides cordatus), uma espécie nativa da costa brasileira, tem sido ameaçado pela presença do caranguejo-azul (Callinectes sapidus), uma espécie exótica originária do Atlântico Norte. O caranguejo-azul tem competido por recursos com o caranguejo-uçá, ameaçando sua sobrevivência.
2017: O Caramujo-gigante-africano (Achatina fulica) é uma espécie invasora que tem se espalhado pelo Brasil e pode trazer consequências negativas para a agricultura e para a saúde pública. Em 2017, um surto de meningite em Salvador (BA) foi atribuído ao caramujo-gigante-africano, que pode ser um vetor da doença.
Fonte: G1