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CARNAVAL

Entenda os efeitos ambientais de usar glitter em 5 tópicos

Partículas de microplástico usadas na folia e outras festas afetam especialmente a vida marinha — e mesmo versão "biodegradável" pode ser prejudicial; saiba mais

29 de janeiro de 2024
Redação Galileu
7 min. de leitura
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Foto: Ilustração | Freepik

O glitter está presente entre os foliões carnavalescos, grudando em todos os cantos. Não só nos corpos da Sapucaí, como nas ruas por onde passam os blocos de carnaval. Como resultado, as partículas brilhosas acabam se espalhando por todo o meio ambiente.

Além de dar trabalho para ser removido das roupas e do nosso corpo, o glitter ou purpurina sobe pela cadeia alimentar, prejudicando a vida animal e diversos ecossistemas. Entenda a seguir os seus impactos ambientais em 5 tópicos:

1. Glitter é microplástico

Antes de tudo, é preciso entender que glitter é microplástico. Essas partículas de plástico com 5 milímetros de tamanho ou menos, que poluem o meio ambiente, já foram encontradas na placenta humana, no caule de plantas, no coração humano e até próximo ao topo do Everest.

Normalmente, o glitter é feito de tereftalato de polietileno (PET) ou cloreto de polivinila (PVC), revestidos com alumínio para criar uma superfície reflexiva, segundo a agência FAPESP. Conforme a agência, estudos recentes estimam que mais de 8 milhões de toneladas métricas de purpurina foram lançadas no oceano nos últimos anos.

“O glitter é feito de plástico, e como o plástico não se degrada facilmente, quase cada pequeno pedaço já fabricado ainda pode ser encontrado em algum lugar”, afirma em artigo no site The Conversation, Kamran Mahroof, Professor Associado de Análise da Cadeia de Suprimentos na Universidade de Bradford, na Inglaterra. “O glitter que você usou para suas decorações de Natal há uma década provavelmente ainda existe.”

“Perto de casa, é provável que esteja preso entre as fibras do seu tapete, encaixado entre as teclas do seu teclado ou até mesmo consumido por seu animal doméstico, ou por você. Mais distante, ele pode ter chegado ao oceano”, alerta Mahroof.

2. Prejudicial à vida marinha

A vida marinha muitas vezes confunde glitter com comida e sofre até com o brilho emitido pelo material. Um estudo publicado em maio de 2023 na revista Aquatic Toxicology por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) indicou que essas partículas brilhosas podem dificultar o crescimento de organismos na base dos ecossistemas aquáticos, como as cianobactérias (algas verde-azuladas).

Os pesquisadores analisaram os efeitos de cinco concentrações de glitter em duas cepas de cianobactérias, Microcystis aeruginosa CENA508 (unicelular) e Nodularia spumigena CENA596 (filamentosa). Os cientistas mediram suas taxas de crescimento celular a cada três dias durante 21 dias por espectrofotometria, estimando a intensidade dos espectros de luz absorvidos e transmitidos por cada amostra com base no número de fótons emitidos.

“Descobrimos que aumentar a quantidade de brilho aumentou o biovolume das células cianobacterianas e aumentou o estresse a níveis que até prejudicaram a fotossíntese”, disse Mauricio Junior Machado, primeiro autor do artigo e pesquisador do Laboratório de Biologia Celular e Molecular do CENA-USP.

Outro estudo publicado em julho de 2023 na revistaToxics também concluiu que as partículas podem ser prejudiciais aos organismos marinhos. A pesquisa avaliou a toxidade de duas variedades de glitter (verde e branco, com composições químicas distintas) em dispersões no desenvolvimento embrionário de ouriços-do-mar (Echinometra lucunte, Arbacia lixula) e mexilhões (Perna perna).

3. Evita a reciclagem

Conforme Kamran Mahroof, o brilho do glitter faz com que produtos que nós normalmente queremos reciclar, como papel de embrulho, não sejam mais recicláveis.

“Por isso, muitos conselhos municipais no Reino Unido emitiram orientações sobre resíduos festivos, lembrando às residências para não colocarem cartões de Natal brilhantes ou papéis de embrulho com glitter nas sacolas de reciclagem”, conta o professor. “Isso pode contaminar a carga e há o risco de que sua reciclagem seja deixada na porta de sua casa”.

4. Banido pela União Europeia

Ano passado, a União Europeia (UE) proibiu a venda de glitter plástico solto e alguns outros produtos que contêm microesferas, como parte de um esforço para reduzir em 30% a poluição ambiental prejudicial causada por microplásticos nos países membros até 2030.

O glitter plástico solto foi proibido a partir de 17 de outubro de 2023 (a menos que fosse biodegradável, solúvel ou degradado de alguma outra forma). No entanto, não foi afetado pela proibição o material que estivesse “contido por meios técnicos, formasse filmes sólidos (por exemplo, certas tintas) ou, durante o uso final, fosse permanentemente incorporado em uma matriz sólida (por exemplo, cola com glitter)”, segundo declarou a Comissão Europeia.

5. Versão “biodegradável” pode ser prejudicial

O glitter “biodegradável” prejudica o meio ambiente tanto quanto sua versão convencional, segundo indicou um estudo publicado em 22 de setembro de 2020 no periódico Journal of Hazardous Materials.

Para testar os efeitos da purpurina em corpos d´água, os autores do estudo coletaram água, sedimentos e plantas do rio Glaven, em Norfolk, na Inglaterra. Eles também criaram lagos em miniatura no laboratório, nos quais lançaram seis tipos diferentes de glitter.

Uma versão do “eco glitter” tem um núcleo de celulose regenerada modificada (MRC), proveniente principalmente de eucaliptos, que é revestido com alumínio para refletividade e depois coberto com uma fina camada de plástico. Outra forma é o glitter de mica, um tipo de mineral cada vez mais utilizado em cosméticos.

A pesquisa descobriu que todas as purpurinas “biodegradáveis” tiveram vários efeitos ambientais semelhantes aos observados para as partículas de glitter PET convencionais. Todos os locais avaliados diminuíram sua abundância de plantas comuns, bem como de algas microscópicas.

Além disso, a purpurina “biodegradável” também dobrou a presença de caramujos não nativos, que normalmente são encontrados em águas poluídas, o que pode gerar interrupções na cadeia alimentar. “Acreditamos que esses efeitos podem ser causados ​​por lixiviados dos brilhos, possivelmente de seu revestimento plástico ou de outros materiais envolvidos em sua produção”, disse Dannielle Green, professora sênior de biologia na Universidade de Anglia Ruskin, envolvida no estudo, ao site The Guardian.

Fonte: Revista Galileu

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