Ao mesmo tempo que autoridades globais discutem soluções sustentáveis para os problemas ambientais na COP30 em Belém, a poucos quilômetros dali, na Ilha de Marajó, a cidade de Soure, também no Pará, explora búfalos como meio de transporte e força policial.
Trazidos da Ásia no século XIX, esses animais se tornaram parte do cotidiano marajoara, mas isso ocorreu às custas de sua exploração contínua. Na prática, os búfalos seguem usados como tração na agricultura, no turismo e até em patrulhas policiais, como se fossem objetos da infraestrutura local.
O mundo desenvolve alternativas de mobilidade verdadeiramente ecológicas, como bicicletas, veículos elétricos, transporte público eficiente e até mesmo modernas motocicletas de baixo impacto, mas Soure teima em explorar animais como se fossem máquinas.
A exploração dos búfalos como meio de transporte é apresentada pelas autoridades locais como alternativa ecológica. Entretanto, a criação de búfalos na Amazônia demanda vastas áreas de pastagem, contribui para o desmatamento, altera ecossistemas sensíveis e gera emissões de metano. Ou seja, longe de ser uma solução verde, manter grandes rebanhos para carne, leite e trabalho animal aprofunda as pressões sobre a região.
Ainda assim, os búfalos seguem sendo explorados como símbolos turísticos e como força de trabalho improdutiva e anacrônica. A patrulha policial montada em búfalos normaliza do uso de um animal sensível como ferramenta pública, quando qualquer força de segurança moderna dispõe de alternativas eficientes, baratas e eticamente responsáveis.
Embora a COP30 tente construir caminhos para um futuro mais justo e sustentável, não há verdadeira sustentabilidade sem respeito pelos animais e sem questionar tradições que dependem da exploração deles. A Amazônia, epicentro das discussões climáticas globais, merece soluções que olhem para frente e não práticas arcaicas, que use animais como objetos.