Encontros inesperados com animais silvestres, principalmente cobras, tem se tornado comuns em Belém (PA). Somente na última semana dois episódios tomaram conta dos noticiários: um no bairro do Marco e outro na Cidade Velha. Em ambos os casos, a população foi surpreendida com o aparecimento de répteis de diferentes espécies. No começo do mês de julho, uma serpente não peçonhenta também foi encontrada em Barcarena. Diante de todos os casos o que chama atenção é o fato dos animais estarem aparecendo durante o verão, sendo que esse tipo de situação costuma ocorrer mais nos períodos chuvosos. De acordo com o Batalhão de Polícia Ambiental (BPA), cerca de mil animais de janeiro a julho deste ano.
Em Barcarena (PA), uma cobra da espécie sucuri foi resgatada pelo Corpo de Bombeiros na tarde do dia 5 de julho. O animal tinha aproximadamente dois metros de cumprimento e estava no esgoto de uma residência localizada na rua Lourival Cunha, no bairro Centro. Após avistarem o réptil, moradores acionaram o 6º Grupamento do município. Em menos de uma semana, esta foi a quarta cobra encontrada pela população da cidade. No dia 29 de junho, três sucuris foram mortas por populares do bairro Imobiliária após os animais saírem do esgoto.
Já em Belém, uma cobra da espécie jiboia apareceu, na manhã do dia 28, em um estabelecimento na tv. do Chaco, entre av. Almirante Barroso e Romulo Maiorana, no bairro do Marco. Em imagens que circularam nas redes sociais, o animal aparecia no telhado do estabelecimento dando o bote em uma ave. Antes de conseguir ingerir a ave, a cobra foi “espantada” por pessoas que estavam no local.
Na noite do mesmo dia, uma cobra foi encontrada dentro do capô de um carro, próximo ao Porto Tamandaré, no bairro da Cidade Velha. O dono do veículo, que não teve o nome identificado, foi informado por uma pessoa que passava pelo local sobre a aparição do animal dentro do automóvel. A serpente foi retirada somente na manhã do dia 30, com a ajuda de moradores da área. Segundo informações de testemunhas, o réptil foi devolvido para a Baía do Guajará.
Perda do habitat
O aparecimento de animais silvestres em meio urbano está relacionado a diminuição do seu habitat natural e a necessidade de buscar elementos para sua sobrevivência, como explica a bióloga Palmira Gonçalves Ferreira. “Nessa época do ano a gente está passando pelo período menos chuvoso, então, muitos empreendimentos que estavam com obras paralisadas por conta do excesso de chuva começam a retomar suas atividades e, com isso, a supressão de vegetação aumenta, o que pode estar levando os animais a adentrarem no ambiente urbano, isso porque uma das maiores ameaças para a perda de fauna na Amazônia é a perda e fragmentação dos habitas, que são os locais onde esses animais moram”, afirma.
A especialista ressalta que outro ponto que pode favorecer o aparecimento de animais silvestres é o abandono de répteis mantidos como animais domésticos. “Há muita incidência de abandono desses animais em áreas que favorecem o deslocamento desses animais. A gente pensa que ele está vindo de algum lugar quando, na verdade, ele foi abandonado ali. As cobras, dentre os repteis, são o segundo grupo que mais é abandonado. Um dos pontos para esse abandono é a alimentação inadequada, às vezes é porque cresceram muito”, pontua Palmira Ferreira.
O que fazer?
A primeira orientação é não mexer no animal em hipótese alguma e manter distância. Em seguida, é necessário acionar o BPA, através do Centro Integrado de Operação (Ciop), no número 190. Após o acionamento, o batalhão responsável pelo resgato entra em contato com o solicitante para mais orientações e se dirige até o local da ocorrência para efetuar o resgate do animal. Depois que o animal é resgatado ele passa por uma avaliação veterinária. Se estiver bem de saúde, ele é solto na natureza, caso não, é encaminhado para instituições onde poderá ter cuidados médicos.
“Antes de deslocar a gente faz uma avaliação para identificar se o animal é peçonhento ou não, e para orientarmos melhor a população. Por isso que é bom ninguém tocar ou fazer qualquer tipo de manuseio, para que justamento o batalhão que já tem as orientações adequadas e os equipamentos necessário para fazer o resgate cumpra esse protocolo”, orienta o 1° Ten. Renan Klauber, do BPA.
Crime ambiental
Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida, é crime ambiental, diz o artigo 29 da Lei nº 9.605 de 12 de fevereiro de 1998. A pena pode ser de seis a um ano de detenção e multa.
Fonte: O Liberal