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PROTETORA

Encontro com cascavel inspira mulher a se tornar uma resgatadora e dedicar sua vida a salvá-las

Um encontro com um réptil em uma estrada deserta despertou em Danielle Wall uma paixão e um propósito.

20 de junho de 2025
Zoey Lyttle
10 min. de leitura
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Foto: Danielle Wall/Instagram

Era agosto de 2018. Danielle Wall estava na faculdade na época, tentando se virar. Ela trabalhava em um local de casamentos e dava aulas particulares para ganhar algum dinheiro. Um dia, depois de mais um longo dia, ela dirigia para casa em Joshua Tree, Califórnia (EUA), quando algo no meio da estrada a fez desviar bruscamente seu Honda Civic.

Estirada no meio da rua estava uma cascavel, algo que Wall nunca tinha visto em seus dois anos vivendo no deserto. Ela não sabia muito sobre cobras, mas sabia que não queria esmagá-la. Wall manobrou o carro diretamente sobre o réptil, fazendo com que os pneus passassem de cada lado, mas, quando olhou para trás, a cascavel não se mexia.

“Parei o carro e pensei: ‘Meu Deus, será que a matei?’ Porque ela estava lá, parada, sem se mover, sem fazer nada”, lembra Wall, quase sete anos depois, em entrevista à PEOPLE. Mas, ao olhar de fora do carro, ela percebeu que a cobra estava viva.

Sem sinal de celular e sem experiência com cobras, Wall ficou com medo. Aterrorizada, na verdade, mas não paralisada. Sua empatia pelo ser vivo falou mais alto. Ela arrancou um galho de um arbusto próximo e voltou para a rua para cutucar a cobra. Depois de uma leve tocada, a cascavel saiu rastejando, afastando-se da estrada e do perigo.

“Essa é a grande história”, diz Wall, agora com 31 anos. O próximo capítulo de sua vida começou ali, no momento em que ela simplesmente cutucou uma cascavel na estrada. Desde então, ela se dedicou a remover cascavéis com segurança de lugares perigosos, onde elas podem estar ameaçadas ou representar uma ameaça para outros. Na maioria dos casos, Wall explica, a segunda situação só ocorre após a primeira.

“As pessoas acham que elas são agressivas, mas, no papel, elas têm as mesmas defesas comportamentais que gatinhos selvagens. E um gatinho selvagem não vai atacar ou morder um humano sem motivo”, diz ela à PEOPLE. “Mas, se você o encurrala, o gatinho vai tentar fugir antes de pular em você. E as cobras são iguais… A maioria das mordidas é totalmente evitável.”

Claro, Wall não sabia disso em 2018. Mas, quando chegou em casa após seu primeiro encontro com uma cascavel, decidiu se familiarizar com a espécie e descobrir como outras pessoas lidam com essas situações.

Sua pesquisa revelou informações assustadoras, coisas que não soaram bem para Wall. O protocolo típico do controle animal da Califórnia era — e ainda é, por lei — matar cascavéis encontradas e capturadas. A violência disso tudo a atingiu. Amante da natureza desde sempre, Wall ficou chocada ao descobrir que as pessoas matavam animais selvagens por medo.

Foto: Danielle Wall/Instagram

Wall não ficou apenas horrorizada. Ela se sentiu compelida a resolver o problema. “Pensei: ‘Quão difícil pode ser? Vou aprender sozinha ou procurar alguém que me ensine'”, lembra a moradora do sul da Califórnia.

“Não encontrei recursos. E as poucas pessoas que contatei e responderam disseram: ‘Não'”, conta Wall. “Um cara disse: ‘Sente-se, garotinha, você vai se machucar.'”

Diante de tantas rejeições, Wall resolveu se jogar. Ela estudou sobre criação de répteis e anatomia das cascavéis, lendo pesquisas publicadas por departamentos como o de herpetologia da Universidade Médica de Loma Linda. E ficou de olho em grupos locais no Facebook, esperando por alguém pedindo ajuda com uma cascavel.

Um post de uma mulher sobre uma cobra em sua propriedade chamou sua atenção. Na legenda, ela especificou: “Não quero que a matem.” As respostas ignoraram totalmente o desejo da mulher.

“Dos 30 comentários dizendo ‘Mate-a’, fui eu quem comentei: ‘Já tirei uma da estrada antes. Tenho um pau e um balde. Posso ir tentar?'”, lembra Wall. A mulher concordou, e Wall conseguiu capturar e soltar uma segunda cobra com sucesso e segurança.

Não foi apenas a facilidade com que ela pegou e libertou a cobra. Foi ver o quão feliz e aliviada a mulher ficou quando Wall a ajudou. “Aquilo foi o momento de: ‘Eu consigo fazer isso'”, diz Wall. “E então tudo foi crescendo dali.”

No início, ela achou que seria algo “paralelo”, explica Wall, especialmente porque ela não cobra nada por seu serviço de captura de cascavéis. É tudo baseado em doações, e ela teve a sorte de conseguir um patrocínio de pneus depois de capturar uma cobra para um homem dono de uma empresa de pneus. Ele deu a ela um jogo de pneus de US$ 2.000 para ajudá-la a percorrer Joshua Tree.

Os pneus novos chegaram na hora certa, porque, em pouco tempo, o telefone de Wall não parava de tocar com pedidos para capturar cobras em várias propriedades pelo deserto. A COVID chegou no terceiro ano de seu trabalho, e, com tantas pessoas em casa — e muitos moradores de cidades indo para residências mais tranquilas em Joshua Tree —, elas começaram a notar mais e mais cobras.

“A população estava aumentando. As construções explodiram, tantas casas sendo erguidas. Então, muito do território das cobras foi destruído”, explica ela à PEOPLE.

Isso não quer dizer que não houvesse cobras antes, claro. Elas estão por todo o deserto, escondidas à vista, especialmente no Parque Nacional de Joshua Tree, onde as pessoas caminham e passeiam sem notar as serpentes. Na verdade, Wall ressalta sua presença generalizada para mostrar o quão dóceis esses animais realmente são.

“Não existe cascavel agressiva com pessoas, porque, se fossem agressivas, ninguém poderia viver em Joshua Tree. Seria como o filme *Zumbilândia*, mas com cobras”, diz ela. “Se as cobras decidissem dizer ‘F***-se as pessoas’, elas poderiam expulsar todo mundo desse deserto.”

Wall continua: “Elas são abundantes aqui, mas são tão pacíficas e não nos emboscam. Não é nada disso. As pessoas pensam: ‘Ah, bom, eu não as vejo. Então, elas não estão aqui.'”

Durante o lockdown, seu telefone não parava de tocar. Ela vivia largando tudo para visitar propriedades e remover répteis. Chegou a um ponto em que ela não conseguia mais conciliar seu estilo de vida agitado, equilibrando faculdade e trabalho remunerado em tempo integral. Ela abandonou a faculdade e direcionou todos os seus esforços para a captura de cobras.

No lugar de uma renda fixa, ela faz bicos, geralmente limpando casas. Ela costumava oferecer aulas sobre cascavéis, cobrando US$ 150 por sessão, mas a captura atrapalhou isso também.

“Eu marcava uma aula de uma hora e meia, e, 10 minutos depois, recebia uma chamada sobre uma cobra. Mandava minha assistente, e dois minutos depois, recebia outra chamada”, diz ela. “Chegou a um ponto em que a ansiedade de tentar agendar aulas para ganhar dinheiro me impedia de salvar as cobras, que é meu propósito.”

Legalmente, ela não pode transformar seu trabalho em um negócio oficial, mas, mesmo se pudesse cobrar pela captura de cascavéis, Wall diz que não o faria. Ela considerou opções sem fins lucrativos, mas o Departamento de Peixes e Vida Selvagem da Califórnia não concede licenças para terceiros.

Ela aceitou a renda instável, mas, mesmo assim, Wall admite que as coisas ficam difíceis às vezes.

“Eu passo por apertos financeiros, e grandes. As pessoas não têm ideia. Elas não fazem a mínima ideia, e talvez eu devesse ser mais transparente sobre isso”, diz ela à PEOPLE. “Já tive minha luz cortada porque estava mais preocupada em garantir gasolina no carro para ir buscar cobras do que pagar minhas contas.”

No lugar do dinheiro, porém, Wall logo ganhou outra coisa: notoriedade. “Você posta uma foto de uma garota tatuada segurando uma cascavel”, ela ri, admitindo: “Isso chamou muita atenção, e eu não esperava por isso.”

A página de Wall no Instagram, @High_Desert_Dani, tem mais de 116 mil seguidores. A atenção também trouxe retornos financeiros. Ela trabalha ocasionalmente no entretenimento, com produções contratando-a para lidar com cobras em filmes e televisão.

“Posso cobrar mais de mil dólares por dia. Então, se eu conseguir dois ou três trabalhos bons em sets durante o ano, isso me ajuda a pagar as contas”, explica Wall. “Mas ainda fico no vermelho todo ano só com os gastos relacionados às cobras.”

Foto: Danielle Wall/Instagram

É uma batalha difícil, mas vale a pena para a californiana. Ela quer ver as leis de controle animal do estado evoluírem para uma abordagem mais humana. Em outras partes do país, não é necessário matar as cascavéis quando capturadas. Em outros lugares, há instalações de vida selvagem que oferecem treinamentos e seminários sobre realocação de cascavéis.

“Há outros estados que já fazem isso, e é assim que a Califórnia deveria ser. Não deveria ser só eu”, diz ela.

Wall admite que fica ansiosa ao se promover, seja falando com a imprensa, aparecendo na tela ou postando para seu grande público nas redes sociais. Ela insiste porque sabe que mais atenção ajudará a mudar o protocolo oficial do Departamento de Peixes e Caça da Califórnia para lidar com cascavéis.

“Quando pesquisei, vi que foi assim que muitos estados conseguiram mudar as leis: publicidade”, observa. “A comunidade se revoltou com as mortes. Eles conseguiram pressionar cada condado e, eventualmente, o estado a manter essas leis.”

Às vezes, sua forma de advocacy é mal interpretada. As pessoas questionam suas motivações. “Tem gente online que diz: ‘Você faz isso pela fama e dinheiro'”, diz Wall. “E eu adoro que as pessoas me questionem, porque há pessoas que fingem fazer o bem e são más. Então sempre digo: ‘Por favor, me questionem.’ Adoro poder provar que faço isso pelos motivos certos, de novo e de novo.”

Ela percebe quando alguém está no negócio de captura de cascavéis pelos motivos errados. Essas pessoas geralmente mostram uma atitude competitiva.

“Alguns dizem: ‘Danielle, você não deve querer mais capturadores de cobras aparecendo e tomando seu emprego.’ Eu penso: ‘Como assim tomando meu emprego?'”, diz Wall. “Sempre há cobras para salvar. Eu adoraria ter 10 ajudantes em quem pudesse confiar, e seria tão grata.”

Na experiência de Wall, os homens podem ser particularmente competitivos com ela, embora a captura de cobras seja geralmente dominada por homens. Wall já ouviu muitos comentários sexistas desde aquele primeiro “Sente-se, garotinha”. Mas ela também descobriu que as mordidas de cobra são mais comuns em homens. Enquanto pesquisava sobre os répteis, ela viu que dados hospitalares mostram que homens representam 75% a 80% das vítimas de mordidas.

“Tem um cara na Universidade de Loma Linda que faz palestras e seminários sobre cobras, e ele diz: ‘As duas principais causas de mordidas de cascavel são testosterona e álcool'”, explica Wall. “E ele é um homem de meia-idade, e não tem vergonha de dizer: ‘Homens são burros às vezes.’ Porque é assim no mundo das mordidas.”

Assim como as cascavéis que atacam, Wall diz que os homens são a “coisa número um” que a assusta. Mas, tendo crescido com irmãos, não é que ela se intimide ou odeie homens em geral.

“É mais o fato de que outros capturadores homens precisam ser melhores que eu”, diz ela. “Se esse é seu objetivo, você está nisso pelos motivos errados. Porque eu não entrei nisso para ser a melhor, entrei para ter um propósito na vida.”

É realmente isso que resume tudo. As cascavéis entraram na vida de Wall quando ela precisava de algo maior para guiá-la, algo que ela pudesse fazer e se sentir bem fazendo. De alguma forma, o tempo sempre fez sentido; além de seu motivo de advocacy, esses répteis continuam a tirá-la de seus momentos mais baixos.

Em um dezembro, Wall estava profundamente deprimida. Ela estava passando por um término “bem difícil”, e as cobras raramente saem no inverno. Sem chamados de captura, ela mal conseguia sair da cama. Ao longo de meses, perdeu peso e afundou ainda mais na escuridão.

Com o fim do inverno, o sol esquentou o deserto novamente. As cobras começaram a sair de seus esconderijos, e a felicidade de Wall voltou com as ligações sobre cobras.

“Foi um momento crucial para entender o que me faz feliz, por que faço o que faço, por que sou do jeito que sou”, lembra ela à PEOPLE, com emoção na voz. “Eu não percebia o quanto as cobras me davam um propósito para levantar… Eu salvei cobras, e elas me salvaram.”

Traduzido de People.

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