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DEIXADOS PARA TRÁS

Enchentes no Canadá deixam milhares de animais mortos

Diversas operações de resgate estão sendo realizadas para salvar os rebanhos das fazendas submersas

27 de dezembro de 2021
Ashifa Kassam (The Guardian) | Traduzido por Gustavo de Marco Prado
4 min. de leitura
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Foto: Jennifer Gauthier/Reuters

Milhares de animais morreram e muitos outros estão ilhados em razão de enchentes decorrentes de uma tempestade que atingiu o noroeste da costa do Pacífico canadense. A maior parte dos animais estava aprisionada em fazendas e eram explorados para consumo humano.

Chuvas torrenciais atingiram a porção oeste da província canadense da Colúmbia Britânica, e o estado norte-americano de Washington, nos últimos dias – descarregando, em apenas dois dias, dois meses de chuva acumulados – causando enchentes e deslizamentos de terra que cobriram partes de rodovias e forçaram milhares de pessoas a evacuarem a área. Uma pessoa morreu e diversas outras estão desaparecidas.

Abbotsford, uma das zonas agrícolas mais diversificadas e importantes do Canadá, foi um dos locais mais atingido pela tempestade. Mais de 1.200 fazendas localizam-se na área, e suprem metade dos laticínios, ovos e aves consumidos pelos 5.2 milhões de residentes da Colúmbia Britânica.

Imagens aéreas mostram diversos celeiros tomados pela água da enchente. Fazendeiros e moradores locais têm trabalhado dia e noite para salvar os animais das águas que não param de subir. Barcos motorizados e jet-skis estão sendo usados para carregar o gado, um por um, para um local seguro.

Muitas das fazendas estão em Sumas Prairie, uma planície lacustre fértil formada há quase um século atrás. Uma ordem de evacuação, emitida na terça-feira (16/11), incluía 121 fazendas de aves e laticínios, de acordo com associações de fazendeiros.

Autoridades locais suplicaram para 300 pessoas que desafiaram a ordem. “Se você ainda estiver em Sumas Prairie, você precisa sair,” disse Henry Braun, o prefeito de Abbotsford. “Eu sei que é uma decisão difícil para os fazendeiros deixarem seus rebanhos para trás, mas as vidas das pessoas são mais importantes para mim neste momento.”

Lana Popham, ministra da agricultura da Colúmbia Britânica, disse que a tempestade atingiu uma porção-chave da zona agrícola da província, iniciando uma crise de proteção aos animais.

“Existem centenas de fazendas afetadas pelas enchentes. Algumas ainda estão submersas, e milhares de animais não sobreviveram,” ela disse. “Ainda temos muitos, muitos mais que se encontram em situações difíceis.”

Autoridades mobilizaram-se com rapidez para abrir novas rotas em áreas bloqueadas pela tempestade e possibilitar o acesso de veterinários aos animais isolados, ela acrescentou. “Eutanásias serão inevitáveis, mas também há animais que sobreviveram ao pior e aguardam por comida. Os próximos dias serão críticos.”

Popham disse que ela passou dois dias em videoconferências com alguns dos fazendeiros afetados. “Alguns estão abrigados em seus próprios estábulos, mas os estábulos estão cheios de água e você consegue ver que alguns animais não sobreviveram,” ela disse. É uma imagem desoladora.”

Ela disse que enquanto alguns fazendeiros conseguiram rebocar seu gado para fora das águas da enchente, os animais não estavam “saudáveis” após a ação. “Muitos donos de fazendas tentaram retirar seus animais da mesma maneira, mas falharam porque as estradas onde estavam começaram a desaparecer sob seus pés.”

Em Abbotsford, Braun disse que era cedo demais para contar quantos animais foram perdidos. Porém um tour de helicóptero possibilitou a visualização do impacto da tempestade. Ele disse: “Eu vi celeiros que pareciam estar transbordando água. Não consegui imaginar ave alguma que sobreviveria tal situação, mas ainda não temos os números exatos.” Em 2010, a zona agrícola foi responsável pela criação de mais de 9 milhões de aves.

Em torno de 9.000 vacas leiteiras estavam abrigadas nas 60 fazendas afetadas pela ordem de evacuação de Sumas Prairie, disse Holger Schwichtenberg, o diretor da associação de laticínios da Colúmbia Britânica.

Assim que notícias da ordem se espalharam, ele contou que fazendeiros se juntaram para impedir maiores perdas. “Incontáveis homens e mulheres, com tratores e trailers, começaram a transportar seus rebanhos para fora das áreas afetadas,” Ele foi incapaz de dizer quantas animais haviam sido conduzidos para um local seguro, ou quantos haviam sido abandonados.

Fazendeiros ficaram impossibilitados de levar sua produção de leite aos mercados, forçando alguns deles a jogarem fora milhares de litros. Schwichtenberg disse: “O leite de minha fazenda foi jogado fora ontem à noite, porque os caminhões não conseguem chegar até aqui. As rodovias estão intransitáveis.”

A poderosa tempestade veio menos de seis meses após a Colúmbia Britânica ter sido afetada por temperaturas elevadas que bateram recordes históricos, mataram mais de 500 pessoas, e causaram incêndios que destruíram uma cidade inteira.

“Nós passamos por uma imensa onda de calor e uma seca avassaladora todo o verão e agora a situação parece ter se invertido por completo,” ele concluiu.

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