O número de encalhes de animais marinhos, como tartarugas e golfinhos, cresceu 255% na região da Grande Natal entre os meses de agosto e outubro de 2024, de acordo com o Centro de Estudos e Monitoramento Ambiental (CEMAM). No período de 30 de agosto a 23 de outubro, foram registrados 13 encalhes em 2024, em comparação com uma média de três no mesmo intervalo dos anos anteriores (2021, 2022 e 2023). O dado levantou preocupações sobre as causas desse aumento e a possível relação com a engorda da Praia de Ponta Negra, iniciada em 30 de agosto de 2024.
Segundo o biólogo e presidente do CEMAM, Daniel Solon, “não há evidências claras de mudanças nos padrões migratórios de tartarugas e golfinhos que justifiquem esse crescimento. Porém, interferências como a poluição sonora, alterações ambientais e mudanças nas correntes oceânicas podem estar desorientando essas espécies.”
O especialista também avalia a possível relação entre o aumento de encalhes e as obras de engorda da Praia de Ponta Negra, um projeto de dragagem destinado a ampliar a faixa de areia da região turística. A draga tem operado numa jazida a cerca de 7 km do farol de Mãe Luiza, e vem despejando a areia entre a praia e a Via Costeira.
No entanto, Solon faz a ressalva de que, até o momento, não há dados suficientes para estabelecer uma relação direta entre as obras e o aumento dos encalhes, devido à ausência de um monitoramento sistemático.
“Obras como essas podem impactar a fauna marinha de várias maneiras. A movimentação de sedimentos, por exemplo, afeta a cadeia alimentar ao remover organismos essenciais para o ecossistema, enquanto o ruído gerado pelas dragas pode desorientar cetáceos sensíveis ao som, como golfinhos e baleias,” avalia o biólogo.
O aumento da turbidez da água, decorrente da dragagem, também é um fator preocupante, pois interfere na fotossíntese de plantas marinhas e na capacidade de navegação dos animais.
Na terça, 22 de outubro, duas baleias-jubarte foram avistadas a 500 metros da praia de Ponta Negra, na área de impacto da obra de engorda. Baleias dessa espécie são frequentes na costa potiguar durante o período migratório, que coincide com a temporada reprodutiva das tartarugas marinhas. Esses dois fatores podem intensificar ainda mais os encalhes nos próximos meses, alerta Solon.
Diversos fatores podem contribuir para o encalhe de animais marinhos. Entre os mais comuns estão a interação com redes de pesca, ingestão de lixo, poluição sonora e atropelamento por embarcações.
Solon enfatiza que o litoral oriental potiguar, exceto a Grande Natal, não apresentou um aumento significativo de encalhes no mesmo período, o que indica que fatores específicos da região, como a intensificação de atividades humanas, podem estar exacerbando o problema.
Além disso, ele reforça que o acúmulo de lixo nos oceanos tem se tornado uma ameaça crescente para a vida marinha. “A ingestão de plásticos e resíduos sólidos é uma das principais causas de morte de tartarugas e golfinhos encalhados. A poluição costeira precisa ser combatida de forma urgente para evitar mais perdas,” enfatiza o biólogo.
O CEMAM realiza necropsias nos animais encontrados mortos com o objetivo de investigar as causas do encalhe. A coleta de dados permite não apenas entender as razões por trás das mortes, mas também embasar políticas públicas de conservação.
“É crucial identificarmos os fatores responsáveis por esses encalhes, para que possamos adotar medidas eficazes na preservação das espécies marinhas. A ausência de um monitoramento adequado impede a implementação de ações preventivas,” ressalta Daniel Solon.
A instituição reforça a necessidade de maior conscientização por parte da população. “Todos podem colaborar notificando encalhes, vivos ou mortos, ao CEMAM. A preservação dos ecossistemas marinhos depende da ação conjunta entre cidadãos, pesquisadores e órgãos governamentais,” finaliza o presidente do CEMAM.
O aumento expressivo nos encalhes de animais marinhos em Natal acende um sinal de alerta para a saúde dos ecossistemas costeiros. Embora não haja uma causa isolada que explique o fenômeno, as obras de dragagem, a poluição marinha e o tráfego intenso de embarcações são fatores que podem estar contribuindo para a elevação dos números.
Com a aproximação da temporada de reprodução das tartarugas marinhas e o auge da migração das baleias-jubarte, é possível que a incidência de encalhes continue se elevando.
Sobre o CEMAM
O Centro de Estudos e Monitoramento Ambiental (CEMAM) é uma organização sem fins lucrativos que atua na pesquisa, monitoramento e conservação de ecossistemas marinhos, costeiros e terrestres associados no Rio Grande do Norte.
Para relatar encalhes de animais marinhos, entre em contato com o CEMAM pelo telefone (84) 99943-0058.
Fonte: Saiba Mais