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Empresário mantém leão no terraço de casa em Cabul

12 de junho de 2013
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O felino que ainda não tem nome está há dois meses com Mohammad Shafiq. (Foto: Daud Yardost/AFP)
O felino está há dois meses com Mohammad Shafiq. (Foto: Daud Yardost/AFP)

A elite de Cabul, no Afeganistão, está acostumada a viver com segurança armada, em mansões de mármore. Mas há um homem que foi mais longe e comprou um leão que agora tem seis meses.

Mohammad Shafiq, um empresário de 42 anos, está orgulhoso com o seu novo animal que rosna e passa os dias a passear-se pelo terraço da casa larga num bairro rico do centro da capital.

“Um amigo contou-me que tinha um leão em Kandahar e queria vendê-lo”, disse Shafiq que é dono de uma construtora. “Ele sabia que eu amava cães e pássaros, mas isto era mais do que eu estava à espera.”

“Já tinha visto leões na televisão e no jardim zoológico, mas nunca tão de perto. Por isso, sem nenhuma hesitação, decidi comprar um. Para mim, os leões são corajosos e respeito-os. Saber que podia comprar entusiasmou-me muito.”

O leão, que ainda não tem nome, não está preso nem tem coleira e passa muito do tempo sentado num canto do terraço, descendo todos os dias para comer.

Shafiq diz que gasta mil dólares por mês (756 euros) com o animal. Tem um empregado que dá lhe de comer – o leão consome carne fresca comprada num talho– e um veterinário que vai acompanhando a saúde do felino.

Milhares de milhões de euros entraram no Afeganistão nos últimos 12 anos desde que os Estados Unidos entraram para combater contra os taliban. Alguns afegãos enriqueceram e não têm problemas em mostrar a sua riqueza. Cabul está pontilhada com casas luzidias destes novos-ricos, cheias de lustres e apelidadas de “palácios de papoila” – um piscar de olhos à proveniência de pelo menos parte deste novo dinheiro, no país líder na produção do ópio.

Mas até agora, Shafiq será a única pessoa a ter adquirido um tal símbolo de status. O empresário, que diz ter sido um soldado da resistência quando os taliban caíram e que, depois, ganhou dinheiro devido a contratos lucrativos com vários clientes, incluindo a embaixada dos Estados Unidos, está com o leão há dois meses, pensa que o felino terá meio ano de idade e terá vindo do Irã.

“Custou-me 20 mil dólares [cerca de 15 mil euros], incluindo o transporte de Kandahar até Cabul”, disse, recusando-se a revelar como é que se faz uma viagem de 480 quilômetros por uma estrada onde, muito frequentemente, há emboscadas e atentados. O empresário não concorda que a situação do animal selvagem seja cruel numa cidade que foi destruída por décadas de conflitos.

Leão cativo é uma ameaça

No terraço, o animal parece nervoso e ruge agressivamente a qualquer um que se aproxime. Shafiq planeja levá-lo para um outro espaço num jardim de uma propriedade maior que tem em Cabul.

Claire McMaster, diretora da Sociedade Mundial para a Proteção dos Animais, critica o empresário, avisando que ter um leão cativo é uma séria ameaça. “Os animais selvagens não devem ser animais domésticos por ser cruel tê-los em cativeiro e confinados num espaço longe do seu habitat natural, especialmente se os tutores falham em satisfazer as suas complexas necessidades”, disse à AFP. “O outro problema de ter um animal selvagem é que provavelmente não foi domesticado. O tamanho e o comportamento imprevisível pode levá-lo a ferir gravemente ou mesmo a matar o tutor.”

O Jardim Zoológico de Cabul tem uma leoa doada pela China e já teve um leão parcialmente cego chamado Marjan, que se tornou num símbolo da sobrevivência do Afeganistão depois de ter passado por golpes de estado, invasões, a guerra civil e a dura era dos taliban. O felino nasceu em 1976 e ficou parcialmente cego depois de um soldado atirar-lhe uma granada, vingando-se da morte do irmão que morreu depois de ter entrado na jaula do leão. “Fico chocado se houver um pequeno leão em Cabul”, disse Aziz Gul Saqeb, director do Jardim Zoológico de Cabul. “É muito difícil manter um leão, é um animal selvagem.”

Por enquanto Shafiq está muito contente com o seu animal, mas admite não poder mantê-lo a longo prazo: “Não sei, vou ver como as coisas se passam e talvez um dia doe o leão ao Jardim Zoológico de Cabul.”

Fonte: Publico

Nota da Redação: É um ato irresponsável e egocêntrico do empresário manter um leão como animal doméstico. Na natureza, ele pode se deslocar por quilômetros, é um animal muito ativo, que sofre com a prisão e deve viver livre em seu habitat. 

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