À medida que o surto de gripe aviária continua crescendo nos Estados Unidos, uma segunda empresa que vende alimentos crus para animais domésticos emitiu um recall, solicitação de devolução de um lote ou de uma linha inteira de produtos com algum defeito, após gatos de duas famílias diferentes no Oregon contraírem H5N1 a partir de carne contaminada no início de fevereiro.

Mais dois gatos de famílias diferentes no estado de Washington testaram positivo para gripe aviária após comer a mesma marca de alimento cru para animais domésticos quase duas semanas após o recall, anunciaram autoridades na quarta-feira (27/02). Um gato foi sacrificado, enquanto o outro continua sob cuidados veterinários.

Dois lotes do alimento cru, produzido pela Wild Coast Raw, estão inclusos no recall. Não está claro se os novos casos em Washington estão relacionados aos lotes recolhidos ou a outros.

Desde 2022 nos EUA, quase 100 gatos domésticos testaram positivo para gripe aviária, que pode ser fatal, e é possível que gatos transmitam o vírus aos humanos.

No dia 6 de fevereiro, Christine “Kiki” Knopp percebeu que um de seus 11 gatos estava com febre baixa. Em poucos dias, dois de seus gatos tiveram que ser sacrificados, e um terceiro estava em uma unidade de terapia intensiva.

Todos os gatos que comeram alimentos crus para animais testaram positivo para gripe aviária posteriormente. Apenas um gato macho, mantido separado dos outros e alimentado com comida enlatada, permaneceu negativo.

Knopp é uma artista em Portland, Oregon, tutora de gatos da raça Cornish Rex. Ela alimentou todos os gatos, exceto o macho, com comida crua por anos, e acompanhou atentamente os avisos recentes sobre alimentos contaminados. Ela acreditava que a comida da Wild Coast estava sendo testada para H5N1.

“Desde então, aprendi que não há realmente uma maneira segura de confiar se alguém diz que está testando”, disse ela.

A Wild Coast não respondeu às solicitações de mídia do Guardian sobre por que a empresa esperou uma semana para emitir um recall após ser notificada sobre uma possível contaminação e se estava entrando em contato com fornecedores e clientes para avisar.

Se Knopp soubesse, teria “imediatamente” mudado para comida enlatada – uma mudança que ela agora recomenda a todos os tutores de gatos que estavam alimentando seus animais com comida crua comprada ou feita em casa.

“Não é seguro”, disse ela. “Imediatamente: não alimentem gatos com aves cruas, frango cru, restos de comida crua – nem mesmo ovos crus.”

O leite cru também é arriscado, pois pode conter grandes quantidades do vírus, e a carne crua também foi encontrada com H5N1.

“Especialmente agora, alimentar com comida crua é puro risco”, disse Steve Valeika, um veterinário de pequenos animais com formação em saúde pública.

O H5N1 se junta a uma série de outros patógenos – incluindo salmonela, E. coli, campylobacter, listeria e toxoplasmose – que têm sido associados a alimentos crus para animais.

Uma das partes mais preocupantes para Knopp: seus gatos nunca apresentaram os sintomas clássicos de infecções respiratórias, como congestão. Alguns dos gatos tiveram febre, respiração acelerada e inchaço nas pálpebras, e um deles acabou tendo dificuldade para caminhar – um sinal de comprometimento neurológico.

Mas nada apontava para influenza até que radiografias revelaram que dois dos gatos com respiração acelerada haviam desenvolvido pneumonia grave. Foi então que eles testaram para gripe aviária.

“A pessoa comum provavelmente não levaria seus gatos ao veterinário com uma febre baixa que vai e volta”, disse Knopp. “A pessoa comum pode não perceber um aumento repentino na taxa de respiração, especialmente em um gato que talvez seja mais recluso. Então, me pergunto quantos casos também estão subnotificados.”

Knopp estava preocupada que pudesse ser infectada e espalhar o vírus ela mesma.

“Eu não quero ser conhecida como ‘Maria da Gripe Aviária’”, disse ela. O departamento de saúde local realizou verificações diárias de sintomas, ela começou a usar máscaras faciais quando saía em público e solicitou um teste para ver se havia adoecido. O resultado foi negativo para influenza A e B.

Há outras medidas que os tutores de animais podem tomar para proteger seus animais e a si mesmos da gripe aviária: não deixem os gatos saírem de casa e não permitam que os cães cacem ou brinquem com pássaros, incluindo em lagoas e lagos frequentados por aves migratórias. Camundongos e ratos, especialmente perto de fazendas de laticínios e aves, também testaram positivo para H5N1.

Knopp tem postado sobre suas experiências e realizado sessões de “pergunte-me qualquer coisa” sobre gatos e gripe aviária nas redes sociais.

“Eu canalizei muito luto em trabalho e em educação”, disse ela. Para os dois gatos que foram sacrificados, ela disse: “a morte deles pode significar algo. Pode salvar outros animais. Pode poupar o sofrimento de algumas pessoas.”