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INVESTIGAÇÃO

Empresa admite composto tóxico em ração que matou centenas de cavalos

Em nota, a Nutratta Nutrição Animal Ltda. se pronunciou pela primeira vez sobre o caso, após quatro meses de denúncias de óbitos de animais

23 de julho de 2025
4 min. de leitura
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Foto: Reprodução/Metropoles

Após centenas de cavalos morrerem em todo o Brasil, ao longo dos últimos quatro meses, por terem consumido ração contaminada da Nutratta Nutrição Animal Ltda, a empresa se pronunciou pela primeira vez sobre o caso. Em nota enviada ao Metrópoles, nesta terça-feira (22/7), a companhia admitiu que havia um possível composto tóxico no produto fabricado.

“Embora as investigações ainda estejam em curso, informações preliminares indicam a possível presença da substância monocrotalina, produzida por plantas do gênero Crotalaria — uma leguminosa amplamente utilizada em adubação verde —, que pode estar presente em matérias-primas de origem vegetal utilizadas em diversas cadeias agroindustriais”, reconheceu no comunicado.

No documento, a Nutratta também disse que “lamenta profundamente os relatos de intoxicação e óbitos de animais supostamente associados ao produto”. Além disso, alegou que suspendeu a comercialização da ração.

“Diante da situação, a empresa adotou medidas preventivas e corretivas imediatas, incluindo o reforço nos controles laboratoriais, revisão dos critérios de qualificação de fornecedores, rastreabilidade de matérias-primas vegetais, além da reestruturação dos protocolos sanitários e do layout fabril”, completou a nota.

No estado de São Paulo, mais de 400 cavalos morreram nos últimos meses após consumo de ração da Nutratta. A maioria das ocorrências foram registradas no interior, em cidades como Campinas, Sorocaba, Itu, Jundiaí, Jarinu e Indaiatuba, assim como na região metropolitana. Os dados são de um levantamento atualizado nesta terça (22/7) e organizado pela advogada Maria Alessandra Agarussi, que representa criadores afetados.

“Os casos aumentam diariamente. Mortes são observadas em todo o país”, lamentou a advogada. Ela coordena o grupo “Vítimas da Nutratta”, que engloba centenas de depoimentos de perdas em haras e centros de treinamento. O grupo se organiza para tomar providências judiciais, mas todas as ações estão sendo ajuizadas em esfera individual.

Segundo a estimativa, no Brasil, já foram contabilizadas 788 mortes de cavalos depois de terem comido ração contaminada. Além disso, no país, há 513 animais em tratamento e 410 sob observação clínica. Além de São Paulo, há casos de óbitos em decorrência da ingestão do produto em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Alagoas, Bahia, Goiás, Rio Grande do Norte e Santa Catarina.

Sintomas

Entre os sintomas observados nos bichos, estão desorientação, alterações de comportamento e mudanças na locomoção. “O primeiro é o apetite, eles perdem. Na sequência, eles começam a querer ficar prostrados, encostam a cabeça na parede, daqui a pouco eles começam a bater mesmo a cabeça na parede, morder”, detalhou Marcos Barbosa, dono do haras Dia de Sol, na zona rural de Guarulhos, região metropolitana de São Paulo.

Barbosa já perdeu nove cavalos desde maio. Dois óbitos ocorreram no dia 1º de julho. “Nem sei mais qual é o sentimento, fiquei até o último minuto com todos os nossos animais. Estou anestesiado até”, avaliou.

“Todo o possível estamos fazendo, mas pedindo somente a Deus que nos livre desse sofrimento. Estamos vendo nossos animais morrerem sufocados, raspando a cabeça na parede… é desumano”, indignou-se. “Estamos passando momentos de terror”, definiu Barbosa.

Ração que matou cavalos

  • Em 4 de junho, o Ministério da Agricultura havia suspendido a comercialização das rações fabricadas a partir de 8 de março deste ano. Na época, o número total de cavalos mortos era 63.
  • As apurações foram iniciadas em 26 de maio.
  • As mortes de cavalos após consumo de ração contaminada vêm ocorrendo desde abril.
  • A empresa Nutratta Nutrição Animal Ltda. está sob investigação.
  • A comercialização dos produtos foi suspensa por risco à saúde animal.

Investigação

Em 17 de junho, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) determinou o recolhimento de todos os produtos destinados a equídeos, fabricados a partir de 21 novembro de 2024. A pasta iniciou uma investigação para apurar as mortes. No dia 25, via ofício, comunicou a constatação da presença de substâncias tóxicas em rações para cavalos.

A pasta também destacou que um dos fatores que dificultam o trabalho de fiscalização é a natureza dos sintomas apresentados pelos animais. Eles podem surgir tardiamente após a interrupção do uso da ração. “A evolução clínica dos equinos, marcada por insuficiência hepática seguida de piora repentina, tem tornado ainda mais complexa a estimativa precisa do número total de óbitos”.

 

Fonte: Metrópoles

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