Pessoas que experimentam contato com animais não têm nenhuma dúvida de que eles demonstram amor, alegria, mau humor, raiva, ciúmes, gratidão, bom humor, tédio, medo, etc. claramente e de forma semelhante à dos seres humanos.
Com essa assertiva, concordava Charles Darwin em The Expression of the Emotions in Man and Animals, afirmando que algumas de nossas expressões de sentimentos são resquícios herdados de antepassados primitivos comuns tanto ao homem quanto a outros animais. Senão, como explicar que, ainda hoje, mostremos os dentes caninos quando enfurecidos, como fazem os macacos e os cães, apesar de não nos servirmos desses dentes para brigar?
O escritor contemporâneo e veterinário Richard Pitcairn reitera as afirmações de Darwin: “É uma verdade inegável o fato de que os animais têm estados emocionais e sentimentos. Quem convive com eles pode ver isso facilmente, embora não seja algo de que as pessoas precisam estar intelectualmente convencidas. Não existe dúvida, na minha mente, de que os animais apresentam o mesmo leque de emoções que as pessoas: amor, medo, raiva, tristeza, alegria, e assim por diante”.
Um estudo recente, realizado na Universidade de Bristol, coordenado por John Webster, professor de Reprodução Animal em Bristol, e autor do livro Animal Welfare: Limping Towards Éden, mostra que as vacas têm vida sentimental que inclui emoções como amizade, rancor e frustração. Os pesquisadores constataram que as vacas formam, dentro de uma manada, pequenos grupos de amizade e trocam cuidados entre si. Esta descoberta foi apresentada numa conferência científica em Londres, em março de 2005.
Ainda segundo este estudo da Universidade de Bristol, os animais estão mais próximos dos seres humanos, sob o ponto de vista emocional, do que até aqui se acreditava. Duro golpe na presunção do homem de ser a única espécie com sentimentos do reino animal!
Keith Kendrick, professor de Neurobiologia do Instituto Babraham, em Cambridge, descobriu que as ovelhas conseguem estabelecer relações de amizade com humanos, entrando em depressão por separações longas e festejando a volta do dono, mesmo depois de três anos de separação.
O psicólogo de animais Patfield afirma que bois possuem memória emocional. Em sua experiência, um boi e um bezerro presenciaram a matança de cento e cinquenta bois. O boi foi mantido isolado e o bezerro colocado num rebanho. Passaram-se dois anos. Após esse tempo o boi reconheceu os abatedores que haviam matado seus companheiros. Ele gemia e urrava de medo, com a aproximação daquelas pessoas. No rebanho, o bezerro foi o único animal que fugiu quando os homens (abatedores) aproximaram-se, e desembestou em pânico.
Sendo assim, a afirmação de que um animal pode utilizar suas emoções significa que seu cérebro reage a certos eventos de maneira particular. Os sentimentos surgem da mente analítica.
Mas o pesquisador Jaak Panksepp, especialista em comportamento da Universidade Estadual de Bowling Green, Ohio, não acredita que sentimentos surjam apenas da reflexão. Ele sustenta que a raiz das emoções encontra-se em regiões do cérebro tais como o sistema límbico (área cerebral que produz e regula as emoções), muito antigo do ponto de vista evolutivo e presente em todos os mamíferos. O sistema límbico é uma estrutura cerebral antiga, e o fato de ele desempenhar papel importante no cérebro indica que a emoção é parte fundamental na vida dos animais.
Estudos sobre o metabolismo do cérebro fornecem evidências de que os sentimentos dos animais talvez não sejam muito diferentes dos sentimentos dos seres humanos, pois entre eles há processos cerebrais comuns. Pesquisas mostram que o neurotransmissor “dopamina” é importante no processamento de emoções como alegria e desejo, tanto em humanos como em outros mamíferos.
Ainda não é possível provar, por meio de observação, se um animal possui sentimentos conscientes, como também não se pode provar o que uma pessoa sente no seu íntimo. Porém, pesquisas indicam que pelo menos alguns animais dispõem da capacidade de autoconsciência. Podemos supor que talvez tenham consciência de suas emoções.
E, se os animais são capazes de sentir emoções, temos mais uma razão para tratá-los com respeito, dignidade e carinho.
Alguém duvida da alegria que um cão experimenta quando seu dono chega em casa? Ou do prazer que demonstra um gato, quando acariciado?
Os animais são como nós, mas ao mesmo tempo diferentes, porque são melhores. Muitas vezes descobrimos que os animais são “mais humanos” do que muitos seres ditos humanos, refletindo melhores impulsos de humanidade – não mentem, não enganam, demonstram lealdade, gratidão, um amor incondicional, e são bem poucos os humanos que conseguem exibir esses sentimentos.