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Emissões do Brasil registram maior queda em 15 anos, mas desafios permanecem

País registra maior queda de emissões nocivas ao clima desde 2009. No setor agropecuário, contudo, as emissões alcançaram novos recordes

9 de novembro de 2024
Redação Um Só Planeta
4 min. de leitura
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Vacas no pasto: arroto e flatulências do animal contribuem para emissão de metano. — Foto: GettyImages

As emissões de gases de efeito estufa do Brasil, vilões do aquecimento global, caíram 12% em 2023, a maior redução desde 2009, totalizando 2,3 bilhões de toneladas de CO2 equivalente. Esse resultado positivo foi impulsionado pela diminuição do desmatamento na Amazônia, que, com a implementação do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm), reduziu as emissões do setor de mudanças no uso da terra em 24%. No entanto, as emissões de outros biomas como Cerrado, Pantanal e Caatinga aumentaram significativamente.

Apesar da redução nas emissões provenientes da perda florestal, o Brasil permanece como o quinto maior emissor mundial de gases de efeito estufa, com o desmatamento respondendo por 46% das emissões totais. No setor agropecuário, as emissões alcançaram novos recordes, sendo responsável por 28% das emissões totais do Brasil em 2023, com um aumento de 2,2% em relação ao ano anterior. Os dados são do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima) e foram lançados nesta quinta-feira (07/11).

Esse aumento é principalmente devido ao crescimento do rebanho bovino, que continua a ser a principal fonte de emissão de gases de efeito estufa na agropecuária, especialmente por meio da fermentação entérica (o famoso “arroto do boi”), que gera grandes quantidades de metano. Segundo Gabriel Quintana, analista do Imaflora, a última redução nas emissões da agropecuária brasileira ocorreu em 2018, e desde então as emissões têm registrado recordes, impulsionadas também pelo uso de calcário e fertilizantes sintéticos, associados ao crescimento da produção.

“O desafio para o setor, bastante suscetível aos impactos da crise climática, é alinhar a mitigação das emissões de gases de efeito estufa com a eficiência da produtividade, em especial, a redução de metano e a adoção de sistemas que geram sequestro de carbono no solo”, aponta. Enquanto isso, o setor de energia teve um aumento de 1,1%, principalmente devido ao crescimento no consumo de combustíveis fósseis.

Especialistas destacam que, embora o Brasil esteja avançando no controle do desmatamento na Amazônia, a falta de políticas robustas para outros setores e o aumento das emissões nos biomas fora da Amazônia ainda representam desafios significativos para o cumprimento das metas climáticas do país.

As emissões por conversão de vegetação nativa aumentaram 23% no Cerrado, 11% na Caatinga, 4% na Mata Atlântica e 86% no Pantanal. No Pampa, caíram 15%, mas o bioma responde por apenas 1% do setor. “Esses ‘vazamentos’ não são algo novo e precisam de solução urgente para que continuemos tendo chances de atingir as metas de mitigação brasileiras”, disse Bárbara Zimbres, pesquisadora do Ipam, organização responsável pelo cálculo de emissões de uso da terra no SEEG.

A adoção de um plano de descarbonização mais abrangente e a redução das emissões nos setores da agropecuária e energia foram apontados como essenciais para alcançar as metas de mitigação brasileiras.

David Tsai, coordenador do SEEG, afirmou que a queda nas emissões de 2023 é uma boa notícia e coloca o Brasil no caminho certo para cumprir suas metas climáticas para 2025. No entanto, destacou que o país ainda depende excessivamente das políticas para a Amazônia. “As políticas para os outros setores são tímidas ou inexistentes. Isso terá de mudar na nova NDC, que será proposta ainda este ano. O Brasil precisa de um plano de descarbonização consistente e que faça de fato uma transformação na economia”.

Fonte: Um Só Planeta

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