Venho, em nome de todos os animais, mas neste Manifesto advogando, em especial, pelos “bois”, pelas “boiadas” e pelo “gado”, sugerindo criarmos uma bancada no governo eleito que os represente de forma legítima, e alinhada às premissas que norteiam o movimento mundial, que reúne centenas de organizações ao redor do Planeta e no Brasil em defesa do Bem Estar Animal- Animal Welfare.
O foco desta luta específica – mas reiterando, jamais única – são os jargões que se criou no campo democrático para “memenitizar” e, pior, estampar em manchetes da mídia tradicional, mais enfaticamente a partir de 2018, termos como “a bancada do boi”; “povo gado”; “nome aos bois”, entre outros, usando de expressões datadas e recriadas para expor criticamente quem já se sabe, mas na realidade se referindo a “humanos maus e cruéis”.
Invertendo a Realidade, prática comum nos últimos tempos, faz-se uso dos nomes dados às vítimas para nomear seus algozes, levando ao pior cenário que é o de desmantelar a Realidade atroz que se esconde por trás da prática pecuária e tornar o consumo da carne tão aceitável quanto comer uma alface.
– Dando nome aos bois: Bois, Vacas e todo o Reino Animal destinado à matança para alimentar humanos são, em sua grande maioria, vegetarianos, dóceis e sencientes.
– A ida para o abate não é feliz e muito menos espontânea, e quem mata e desossa esses seres, os funcionários dos abatedouros, acabam não se dando muito bem emocional e psiquicamente no decorrer dessas suas vidas.
– Não há longa vida aqui para os Animais criados para matança e consumo humano. Entre as práticas corriqueiras, para citar apenas uma, é tirá-los do pasto aos 18 kgs para o confinamento de engorda até 30 kgs e, assim, mais rentáveis no “mercado”, segundo contou reportagem neutralizante do Globo Rural no dia 2 de dezembro de 2022.
– As pessoas encontram qualquer desculpa ou justificativa para comerem carne, mas a Realidade desse hábito não pode ser estirpada através de um hiato, de um “silêncio”, parafraseando Marilena Chauí em sua aula “O Que É Ideologia” no ICL, no dia 3 de dezembro de 2022: o que está verdadeiramente por trás de termos genéricos, como “mercado”? Trazendo para este Manifesto, o que não é dito: come-se carne, igual ao tecido humano, estirpada em atos de carnificina para alimentar humanos-canibais. Sim, precisamos renomear termos que se normatizaram e se normalizaram como uma prática e hábitos legais, integrados e reducionistas: como abate e carnívoros. É uma carnificina, pois pratica o assassinato de 56 bilhões de animais anualmente no mundo para consumo, o que significa, em média, 153 milhões por dia. No Brasil, esse número é de 14 milhões por dia, 5 bilhões por ano, segundo dados oficiais.
– A maior parte da produção da agricultura industrializada, monopolizada por grandes empresas mundiais, com presenças marcantes no Brasil, são destinadas à produção de grãos para alimentar animais em seus negócios locais e em todo o mundo. O Brasil é um dos maiores exportadores desses grãos. E o Brasil é o maior país pecuarista do mundo!
– A produção de animais para essa carnificina está no topo das práticas mais destrutivas para a humanidade no combate às mudanças climáticas. “Pesquisas demonstram que a pecuária é responsável por 65% de todas as emissões humanas relacionadas com óxido nitroso – um gás-estufa com 296 vezes o potencial de aquecimento global do dióxido de carbono, e que permanece na atmosfera por 150 anos”.
– A massiva maioria dos programas e reality shows sobre culinária, e de grande audiência no Brasil, ignoram sequer apresentar alternativas veganas.
etc etc etc
Poderia ficar aqui enumerando dezenas de estatísticas e estudos… Mas apenas finalizo apontando: se o campo democrático tem a ilusão de “ofendê-los” com esses jargões, além de totalmente inadequados e racistas no especismo, saibam que a estratégia deles é pegar essa ofensa e transformá-la em bandeira.
Pois esta é a bandeira que levanto: por uma real “Bancada do Boi”, que represente e advogue pelo Bem Estar dos Animais e defenda, com a ênfase mais que urgente, uma alimentação que retire do prato a crueldade intrínseca à prática pecuária.
***
* Sonia Rosa Maia é jornalista, assessora em comunicação e gerencia a carreira de Arnaldo Baptista desde 2010.