Com a cidade em ruínas após meses de ofensivas israelenses, os animais também são vítimas invisíveis. Privados de alimento, de abrigos e do convívio humano que antes lhes garantia proteção, cães, gatos e aves estão em estado de desespero, tendo seus comportamentos profundamente alterados pela fome e pelo trauma.
Em Gaza, moradores relatam que cães passaram a devorar cadáveres humanos e a reagir com agressividade às pessoas nas ruas. “À noite, ouvimos os cães uivando. Tornaram-se selvagens de tanto comerem cadáveres. O ladrar mudou, tornou-se feroz”, contou à CNN o palestino Majdi Abu Hamdi, de quarenta anos, pai de quatro filhos. Segundo ele, a violência do instinto de sobrevivência também atinge outros animais: “Há dois dias, um gato passou perto deles. Mais de vinte cães atacaram-no e despedaçaram-no”.
A escassez de comida, o colapso dos serviços de higiene e a ausência de qualquer estrutura de cuidado animal transformaram a vida cotidiana em um cenário de insegurança e sofrimento generalizado. Famílias relatam que evitam sair de casa após o pôr do sol, quando cães famintos circulam em busca de alimento, expondo-se à violência e ao risco de novos traumas.
Para além da tragédia humana, o cenário devastado expõe cães e gatos, seres sencientes, capazes de sentir fome, dor e medo, a um ciclo de desamparo que escancara a falência ética da sociedade. Sem políticas de proteção, sem resgate, sem acesso a alimento ou cuidados, os animais são forçados a lutar pela sobrevivência em meio à destruição.
A devastação da natureza, a morte e o sofrimento de animais domésticos e selvagens revelam um padrão de violência que ignora a vida em todas as suas formas. É urgente que a comunidade internacional denuncie não apenas a crise humanitária em Gaza, mas também a violação dos direitos animais, vítimas colaterais de um covarde conflito que transforma até mesmo o instinto de sobrevivência em tragédia.