As tartarugas-marinhas são animais de sangue frio, portanto, não conseguem regular sua temperatura corporal. Quando a temperatura da água cai abaixo de 10°C, a temperatura interna delas também diminui, fazendo com que fiquem atordoadas pelo frio, segundo cientistas. As tartarugas-marinhas permanecem submersas por horas enquanto descansam ou dormem, mas geralmente sobem à superfície várias vezes por hora para respirar.
Se a temperatura delas continuar baixa ou se não forem levadas para a costa e resgatadas, podem desenvolver problemas de saúde ou morrer. Se não forem encontradas rapidamente, muitas acabam morrendo, sendo devoradas por gaivotas, urubus, guaxinins ou coiotes, disse Foley. Outras simplesmente sucumbem à exposição ao frio.
Foley e mais de 40 pessoas, a maioria voluntários, percorreram diariamente cerca de 21 quilômetros da costa nevada ao longo da Baía de St. Joseph, entre 21 de janeiro e domingo, em busca de tartarugas em estado de coma.
A maioria das resgatadas eram tartarugas-verdes, segundo Samantha Snow, bióloga do Serviço Geológico dos Estados Unidos, que ajudou a coordenar a operação. Agências federais, estaduais e locais uniram esforços, enquanto empresas da região forneceram refeições e transporte.
— Tive que lidar com algo que nunca enfrentei antes, que foram rodovias bloqueadas e pontes congeladas — disse Snow sobre a dificuldade de chegar até a costa.
Apesar dos desafios climáticos, os resgatistas trabalharam até o pôr do sol todos os dias.
— Enquanto caminhávamos pela praia, era fácil contar 15 ou 20 tartarugas à vista ao longo da linha da maré — disse ela. O esforço foi grande para não deixar passar nenhuma, especialmente as menores.
Cada voluntário tem certificação para lidar com tartarugas-marinhas, e a maioria dos animais pode ser levantada por uma única pessoa e colocada delicadamente em um recipiente.
Mas as maiores, que pesam mais de 45 quilos, exigiram o esforço de duas a quatro pessoas. Elas foram colocadas em piscinas plásticas infantis e transportadas para o Instituto Marinho Gulf World, em Panama City Beach, também no Panhandle.
— O que fica de lição disso tudo é o quão exaustivo pode ser esse trabalho, dia após dia — disse Snow: — Como a comunidade, os voluntários e as organizações se unem para lidar com um evento de atordoamento em massa causado pelo frio.
Levadas às pressas para o Instituto Marinho Gulf World, as tartarugas foram gradualmente aquecidas até atingirem uma temperatura saudável. O instituto tem capacidade para acomodar cerca de 1.200 tartarugas-marinhas em grandes tanques de água salgada.
Uma equipe treinada, composta por meia dúzia de funcionários, realizou exames médicos, e muitas das tartarugas precisaram de exames de sangue para avaliar sua condição. Cerca de 200 tartarugas-marinhas ameaçadas de extinção morreram desde o resgate, informaram as autoridades na quinta-feira.
Cada tartaruga está sendo marcada, medida e fotografada, segundo Secret Holmes-Douglas, diretora do instituto, para que possam ser melhor monitoradas caso retornem no futuro.
Eventos de atordoamento pelo frio ocorrem todos os anos, mas normalmente afetam apenas algumas dezenas de tartarugas na Flórida. Esses eventos já foram registrados em águas tão ao norte quanto a Baía de Cape Cod, em Massachusetts, e tão ao sul quanto a Baía de Corpus Christi, no Texas.
Outros dois grandes resgates de tartarugas na Flórida se destacam: em 2010, cerca de 1.800 tartarugas foram salvas, segundo biólogos, e mais de 1.000 foram resgatadas em 2018.
— Normalmente, a água fica fria, o sol aparece e algumas tartarugas aquecem sozinhas — disse Holmes-Douglas: — Mas agora, estamos lidando com montes de neve, algo incomum para elas. Elas foram expostas a temperaturas ainda mais extremas. Então, esperávamos uma taxa de mortalidade um pouco maior. Mas, no geral, estou agradavelmente surpresa com o sucesso.
O esforço de resgate se completou no final da semana. Com o clima mais quente no Panhandle e a elevação da temperatura da água, centenas de tartarugas que receberam alta médica foram transportadas de volta à costa e serão soltas ao longo do fim de semana.
Biólogos e voluntários carregaram as tartarugas, cujas nadadeiras se agitavam freneticamente. Os voluntários, acostumados ao ambiente terrestre, colocaram cuidadosamente os animais marinhos na areia.
Então, as tartarugas se arrastaram pela margem lamacenta e pantanosa por alguns segundos, até que as ondas as levassem de volta para casa.
Fonte: O Globo