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RECORDE

Em apenas três dias, Amazônia registra metade de queimadas de setembro de 2021

Os dados do Inpe revelam que, de agosto de 2021 até julho de 2022, foram derrubados 8.590,33 km² do bioma, área maior que a da Grande São Paulo

6 de setembro de 2022
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Foto: Ilustração | Pexels

A Amazônia brasileira registrou em apenas três dias de setembro um total de 8.740 focos de incêndio medidos pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

Em setembro de 2021, foram registrados 16.742 focos de incêndio pelo órgão — isso no mês inteiro. Agora, apenas 10% do mês passou, e esse número já se aproxima de 9 mil.

As queimadas estão se concentrando no sul da Amazônia. Imagens de satélite que fazem a medição por CO² mostram que há uma mancha gigante na região, cobrindo boa parte dos estados do Amazonas, Pará, Mato Grosso e Rondônia, além de quase a totalidade do Acre.

“Os incêndios estão fortes no sul da Amazônia, mas a seca ainda vai se aprofundar mais em direção ao norte. Na região da cidade de Altamira [PA], o pior período é outubro e novembro. Então aqui ainda pode piorar”, afirma Rodolfo Salm, doutor em ciências ambientais e professor de ecologia na Faculdade de Biologia na UFPA (Universidade Federal de Pará).

Ele explica que, apesar de a seca ajudar na disseminação do fogo, todos os incêndios na Amazônia são causados pelo homem —diferentemente do que acontece na Austrália, parte da América do Norte e Europa, por exemplo. “Nesses locais, os incêndios muitas vezes correm soltos quase que espontaneamente”, acrescenta.

Em regra, o fogo vem após um processo de desmatamento, pois destrói os demais materiais vivos e prepara o terreno para virar um pasto.

Focos de incêndio por dia de setembro:

1/9

.2021 – 153
.2022 – 2.076

2/9

.2021 – 383
.2022 – 3.333

3/9

.2021 – 207
.2022 – 3.331

Para Ane Alencar, diretora de Ciência do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e coordenadora do programa Mapbiomas Fogo, o fenômeno La Nina “adiou o quanto pode” seu impactos na Amazônia. “Mas parece que agora, com a seca se estabelecendo, os recordes de queimadas demonstram claramente a real dimensão do abandono no qual se encontra a Amazônia”, ressalta.

“Muito desmatamento resulta em muito fogo. Isso era esperado, pois nesse período pré-eleição parece que a sensação é de tudo ou nada”, completa.

Alencar diz ainda que os números de queimadas nesses dias são “exorbitantes” e um péssimo sinal do que ainda poderá vir.

Esses dados são um reflexo da sensação de impunidade em que a Amazônia se encontra. Um péssimo presente nas vésperas do seu dia [de independência].

Vista de savana amazônica queimada na região de Ponta das Pedras, no Pará. Foto: Rubens Chaves | Folhapress

Agosto, o pior da era Bolsonaro

Setembro começou mal, mas agosto já havia terminado com 33.116 focos de queimadas na Amazônia, se tornando o mês com o maior número de incêndios florestais da gestão de Jair Bolsonaro (PL), iniciada em janeiro de 2019.

A marca do mês passado supera a do ano de 2019, quando no bioma registraram-se 30,9 mil focos, chamando a atenção de todo o planeta e gerando uma série de reações de governos e entidades internacionais.

Focos para o mês de agosto por ano:

(2010 – 45.018) – (2011 – 8.002) – (2012 – 20.687) – (2013 – 9.444) – (2014 – 20.113) – (2015 – 20.471) – (2016 – 18.340) – (2017 – 21.244) – (2018 – 10.421) – (2019 – 30.900) – (2020 – 29.307) – (2021 – 28.060) – (2022 – 33.116) – Fonte: Inpe

O pior número de queimadas até então no governo Bolsonaro havia sido em setembro de 2020, quando foram registrados 32.017 focos de calor na Amazônia.

Em nota, o WWF-Brasil informou que as queimadas — e o desmatamento associado a elas — “estão fora de controle na Amazônia desde 2019, quando teve início a política de desmantelamento dos sistemas federais de proteção ambiental que marca a gestão de Jair Bolsonaro”.

Ainda de acordo com a entidade, o descontrole das queimadas observado nos últimos quatro anos está estreitamente associado a um aumento do desmatamento e da degradação florestal nesse período.

“A Amazônia é uma floresta tropical úmida e, ao contrário do que ocorre em outros biomas, o fogo não faz parte de seu ciclo natural. Os incêndios não surgem de forma espontânea no bioma e sua ocorrência está sempre associada a ações humanas — em especial ao desmatamento e à degradação florestal”, diz Mariana Napolitano, gerente de Ciências do WWF-Brasil.

Apuí, no Amazonas, um dos 5 municípios que mais sofre com queimadas em agosto. Foto: Imagem: Christian Braga | Greenpeace

Amazônia sendo desmatada

Os dados do Inpe revelam que, de agosto de 2021 até julho de 2022, foram derrubados 8.590,33 km² do bioma, área maior que a da Grande São Paulo. A taxa é a terceira maior do histórico recente do Deter, iniciado em 2015.

Se somadas as queimadas por dia neste ano, o número registrado até ontem está 13% maior que o mesmo período de 2021: foram 39.274 até 30 de agosto no ano passado, contra 44.419 em 2022.

Neste mês também houve um dia em que as queimadas explodiram, alcançando a pior marca em 12 anos com 3.358 focos em apenas 24 horas — superando inclusive o ‘Dia do Fogo’ de 2019.

Entre os dias 10 e 11 de agosto de 2019, desmatadores decidiram, de forma coordenada, atear fogo às margens da BR-163, no Pará, com foco em Novo Progresso. Naqueles dois dias, o Inpe detectou 1.457 focos de calor no estado.

Fonte: Uol

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