Mais de 200 tartarugas marinhas morreram na costa de Pernambuco nos últimos cinco meses. Os dados são da NAV Oceanografia Ambiental, empresa contratada pela CGG Veritas, que faz prospecção de petróleo no litoral Pernambucano. Ontem, uma equipe da NAV, responsável pelo monitoramento ambiental da atividade sísmica, registrou mais uma morte.
A tartaruga, de 67 centímetros de casco, apareceu pela manhã na Praia de Maria Farinha, em Paulista, Litoral Norte do Grande Recife. Era um macho e estava com hematomas e cortes no pescoço. O banhista Décio Vidal da Cruz encontrou o animal durante a caminhada. “Era umas 9h quando me deparei com a tartaruga. Ainda molhei com água do mar, mas em seguida vi que estava morta”, relata.
O médico veterinário Fábio Amâncio explica que os dados ainda estão sendo compilados. “Até dia 22 estaremos levantando informações sobre mamíferos e répteis marinhos nas praias de Pernambuco, de São José da Coroa Grande a Pitimbu (na Paraíba)”, informa. É que a atuação da empresa começou dois meses antes e prossegue até um mês da pesquisa sísmica, que durou 90 dias.
A maioria dos animais mortos, segundo Fábio Amâncio, tem sinais de afogamento. Ele acredita que as tartarugas ficam emalhadas em redes de pesca. Sem conseguir subir à tona para respirar, acabam sufocadas pela água. O objetivo do estudo da NAV, no entanto, é verificar se o barulho causado pelas explosões dos barcos de prospecção estão interferindo no comportamento dos animais marinhos.
A encontrada ontem em Maria Farinha é da espécie Chelonia mydas, conhecida popularmente como tartaruga-verde e na lista das espécies ameaçadas de extinção. Segundo a professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) Rosilda Santos, trata-se de um macho. “É um indivíduo jovem, com menos de 15 anos, que ainda não entrou na idade reprodutiva. Provavelmente morreu em alto-mar e foi trazido pelas ondas.”
A pesquisadora, que já necropsiou mais de 50 tartarugas, pretendia abrir o animal para verificar a causa da morte, mas a equipe da NAV Oceanografia Ambiental não permitiu. “Temos licença do Ibama para fazer biometria e, em seguida, enterrar os animais na areia da praia”, disse a bióloga Milena Monteiro.
PARCERIA – A coordenadora do Centro de Triagem de Animais Silvestres do Ibama em Pernambuco, Catarina Cabral, informa que a professora da UFRPE também tem licença para coletar as carcaças de tartarugas para pesquisa. “Rosilda Santos é uma parceira do Ibama. Desde o ano passado ela tem autorização para a pesquisa e costuma nos informar sobre a causa das mortes. E nós a acionamos quando somos informados de uma ocorrência”, declara. Já a licença da NAV foi concedida pelo Ibama do Rio de Janeiro.
Antes de registrar a morte da tartaruga, a equipe da NAV e a professora da UFRPE estiveram em Maria Farinha para recolher ovos de uma fêmea que teria feito a postura de madrugada. “Ela cavou o buraco e ficou mais de meia hora”, relata o banhista Sergio Gomes.
Rosilda Santos acredita que a presença humana e a iluminação tenham estressado o animal. Pela descrição do banhista, a pesquisadora imagina que a tentativa de desova foi feita por uma tartaruga cabeçuda (Caretta caretta).
Fonte: JC Online