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Elo entre carne e masculinidade é obstáculo para veganismo crescer

4 de janeiro de 2024
3 min. de leitura
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Foto: Ilustração | Freepik

No dia a dia das campanhas que defendem uma dieta sem produtos de origem animal, os obstáculos para convencer consumidores a adotar o veganismo são diversos, e o machismo é um deles. É o que destaca uma pesquisa da organização Vegan Society, ressaltando que, entre os 1,3% da população britânica que se declara vegana, a vasta maioria é formada por mulheres.

“É muito mais provável que você seja vegano se for mulher”, afirma Maisie Stedman, gerente de mídia da instituição. “E achamos que isso tem a ver com os estereótipos existentes sobre o que significa ser homem e o que significa comer carne.”

Hoje, calcula-se que 37% dos veganos no Reino Unido são homens, e, segundo pesquisas da Vegan Society, este número poderia aumentar não fossem os receios do público masculino com a opinião de amigos e parentes. No Brasil, segundo dados de 2018 do Ibope, 14% dos cidadãos se declaram vegetarianos. A SVB (Sociedade Vegetariana Brasileira) não divulga um recorte sobre o veganismo.

A partir de estudos, a organização aponta que, embora 41% dos homens não-veganos no Reino Unido afirmem ter interesse em se tornarem veganos, uma barreira importante era a expectativa de estigma social ou ridicularização, com dietas veganas frequentemente vistas como “femininas”.

O “soy boy (garoto soja)” é a encarnação mais recente desse estereótipo, indica reportagem da rede alemã DW. O termo pejorativo para homens considerados fracos, usado também em discussões políticas, faz referência à ligação não comprovada entre o consumo de produtos de soja e o aumento dos níveis do hormônio estrogênio.

Influencers veganos vêm tentando combater essa imagem, associando músculos a uma dieta sem carne. Porém, para o educador e ativista americano Isaias Hernandez, é possível haver um “fogo amigo” nesta batalha.

“Penso que onde quer que vivamos no norte global, relacionamos a carne com a masculinidade”, diz Isaias Hernandez, educador ambiental residente nos EUA, mais conhecido pelo seu apelido online de Queer Brown Vegan. “É algo que reforça a mentalidade patriarcal de dominação da terra.”

“Os influenciadores masculinos veganos, principalmente brancos e heterossexuais, reforçam mentalidades patriarcais. Eles combatem a masculinidade tóxica com a masculinidade tóxica”, argumenta.

A ativista Toni Vernelli, da organização Veganuary, que em 2023 teve 700 mil pessoas inscrita em seu desafio de aderir ao veganismo no mês de janeiro, vê uma longa estrada para o convencimento, embora possa apontar avanços concretos, como cadeias de fast-food adotando menus plant-based.

Daqui a 10 anos, ela acredita que os veganos não terão “dominado o mundo”, pois pesquisas da ONU apontam um crescimento de até 50% no consumo de carne até 2050, mas o assunto com certeza será algo consolidado, sem a aura excêntrica que o cercava até pouco tempo atrás.

Para Vernilli, não comer produtos de origem animal “não será um problema, será como se você dissesse a alguém, não gosto de coentro, ou não gosto de picles”.

Fonte: Um Só Planeta

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