Assim como os humanos, os animais podem desenvolver vínculos profundos com seus companheiros e sofrer emocionalmente com uma eventual partida. Um estudo liderado por Federica Pirrone, especialista em comportamento animal da Universidade de Milão, e publicado na revista científica Scientific Reports, consultou 426 tutores que tinham ao menos dois cães, em que um faleceu enquanto outro permaneceu vivo.
Os resultados mostram que 86% dos cães apresentaram alterações no comportamento com a perda do companheiro, 67% deles ficaram mais carentes, 57% menos brincalhões, 35% mais medrosos, e 30% passou a latir ou chorar com mais frequência.
Segundo o médico veterinário Rafael Almeida, não existe uma regra de resposta ao luto, pois essas dependem da abordagem de cada espécie. “Tem animais que podem até adoecer por conta do estresse causado pela ausência do companheiro e pela baixa da imunidade, que predispõe a enfermidades.”
Preste atenção!
Pela falta e ausência do companheiro, o animal pode ficar mais carente, exigir mais atenção e tentar se aproximar mais de seus tutores, para tentar substituir a presença do amigo perdido. Essas mudanças no comportamento do animal são os principais sinais de luto que os eles expressam e que os tutores devem observar. “O tutor deve ficar atento e perceber sinais comportamentais como apatia, falta de apetite, ansiedade, ou até mesmo agressividade, que podem ser respostas emocionais dos animais enlutados”, explica Kássia Vieira, médica veterinária e professora do curso de medicina veterinária na Universidade Católica de Brasília.
Além das mudanças de comportamento, também é importante observar sinais físicos como perda de peso, alterações no apetite e problemas digestivos, que podem ser sinais de estresse, sofrimento e tristeza.
Quando esses vínculos entre os animais são rompidos, acabam gerando impactos significativos no comportamento e, muitas vezes, na saúde dos que ficam. “Tínhamos um casal de calopsitas aqui em casa. O macho desse casal voou, e a fêmea ficou muito triste depois disso. Ela parou de comer durante vários dias, e depois de um tempo, acabou morrendo de tristeza e pela falta do parceiro. As calopsitas são assim, super apegadas aos tutores e entres elas mesmas, acredito que por viverem em bando, acabam criando um vínculo muito forte “, conta a tutora Júlia Rodrigues, estudante de enfermagem.
O vínculo entre Mel, uma cadela doberman, e Fox, um calmo pit bull, era especial. Yrdanne Lima, profissional de marketing e ex-tutora, conta que desde que Fox chegou, dois anos após a chegada de Mel, os dois tornaram-se companheiros inseparáveis. Infelizmente uma tragédia aconteceu: Mel fugiu pelo portão e comeu um pedaço de mortadela estragada que estava no lixo da casa vizinha. Ela foi diagnosticada com uma infecção intestinal que depois evoluiu para uma infecção generalizada, e precisou ficar internada por uns dias. “Fox, o macho, nestes dias uivava todas as noites, sentindo falta. Mas, na noite que ela morreu, ele uivou a noite inteira sem parar.”
Nos primeiros dias, Fox ficou sem comer, sem tomar água, e uivando bastante. “Parecia que realmente tinha se entregado à morte. Estava sem alegria pra nada e nem balançava o rabinho ao nos ver. Quando percebemos que nada estava adiantando para animá-lo, levamos ele para o hospital, mas já era muito tarde, pois já estava desidratado. Ele ainda passou dois dias na clínica, não teve nenhuma melhora e partiu”, finaliza.
O processo de luto pode ser muito doloroso para alguns animais, dependendo da idade e temperamento. De acordo com a veterinária Kássia Vieira, os filhotes costumam se adaptar mais rápido à nova realidade, e os adultos e idosos sentem mais a perda e a falta do companheiro. “Cada animal reage de uma forma, mas os idosos podem reagir de forma intensa, por terem convivido mais tempo com o parceiro e também por ter menor habilidade de adaptação às mudanças”, afirma.
Como amparar o animal
Em alguns casos, introduzir um outro animal na casa após a perda, de forma gradativa, pode ser uma boa alternativa, dependendo do temperamento do mais velho. “Animais mais sociáveis e carentes vão se sentir melhores com a presença de um novo animal como companhia. Já no caso de animais territorialistas e com temperamento dominante, precisa-se de mais tempo para observar como ele irá reagir à partida do companheiro”, completa Kássia.
Passear com o animal, brincar e estimular a interação com outros animais são outras formas de manter o animal entretido e distraído. “Conviver com outros amiguinhos trará bem estar para ele, ajudando-o a ter um organismo forte para suportar as mudanças que o luto impõe. Animais que não socializam terão uma probabilidade de apresentar estereotipias e problemas de saúde com muito mais facilidade”, recomenda Rael Almeida.
Fonte: Correio Braziliense