Elis Tanajura (da Redação)
O Supremo Tribunal Indiano ordenou nesta semana o registro de todos os elefantes em cativeiro em Kerala, na Índia. O intuito é combater os maus-tratos e a crueldade. Os animais são aprisionados para serem usados, principalmente, em eventos religiosos e na indústria madeireira.
No último sábado (15), a jornalista Liz Jones contou ao mundo os horrores que viu em santuários na região de Kerala, no sul do país. Acorrentados, famintos, apedrejados e espancados. Esse foi o cenário descrito pela repórter do Daily Mail para os elefantes indianos.
De acordo com Jones, alguns animais chegam a ficar mais de 20 anos sem pode se mover, por causa das correntes. Durante o período de adestração, os elefantes levam pancadas com bastões e podem ser cegados temporariamente, para torná-los totalmente dependente do treinador. Quando estão no cio, os machos recebem injeções para reprimir os hormônios. Este ano, três elefantes morreram devido a esse procedimento.
Durante o período festivo, de outubro a maio, um elefante chega a participar de 100 a 150 eventos. Eles viajam quase 6 mil quilômetros em três meses. Com constante exposição a barulhos e fogos de artifício.
Além de torturas físicas, os animais passam por privação de comida e água. Segundo Jones, no templo Guruvayur, o único alimento dado aos elefantes é folha de palmeira seca. Na selva, um elefante come uma grande variedade de ervas, frutas, folhas e legumes e bebe cerca de 140 a 200 litros de água por dia. No templo, eles recebem, no máximo, de cinco a dez litros.
Os elefantes são tratados como mercadoria valiosa. Cada um chega a valer 125 mil doláres e pode gerar um lucro de 8 mil doláres por hora em festas e casamentos.
Crueldade
Para poderem ser utilizados em eventos, os elefantes são “disciplinados”, em um processo cruel chamado pajan. Eles ficam em jaulas de madeira, chamadas kraal, que impossibilitam o animal de mexer-se ou deitar-se.
Após ser isolado, confinado, desidratado, mantido faminto e acordado por barulhos, o elefante é espancado com bastões todas as manhãs e à noite, por até uma hora, durante seis meses.
Os mahouts, povos tribais que vivem e que trabalham com elefantes por gerações, são responsáveis pelo treinamento violento dos elefantes. Segundo Jones, alguns dos mahouts não querem bater nos elefantes, mas acreditam que eles não têm escolha. “O mahout tem de exercer dominância completa sobre o animal. Quanto mais velho o elefante, o que leva mais tempo”, afirmou um biólogo, que não quis ser identificado, entrevistado por ela.
O advogado britânico Duncan McNair fundou, em janeiro, a organização não-governamental Save The Asian Elephants (STAE), após uma visita ao Templo Guruvayur. “Elefantes presos são tratados terrivelmente”, diz McNair. “Esses animais são usados desde os tempos antigos para o trabalho e a guerra. Sem a sensibilização do público e o engajamento comercial e político sério, o elefante asiático está condenado.”
De acordo com Sreedhar Vijayakrishnan, restam 25 mil elefantes selvagens dos um milhão que existiam em 1900, na Índia. Há quase 4 mil elefantes presos, 80 por cento deles estão em Kerala.
Legislação
Com o registro dos elefantes, o Supremo Tribunal espera que seja mais fácil punir os responsáveis pelos atos de crueldade contra estes animais. Em casos de crueldade, com a nova lei, o responsável enfrentará um processo criminal e as autoridades poderão resgatar o animal.
Agora, o tribunal analisa uma petição pública movida pelo Centro de Reabilitação e Resgate da Vida Selvagem e outras organizações de direitos animais que querem proibir o uso de elefantes em funções religiosas, procissões e outros eventos.
Nota da redação: Como nós, os animais nasceram para viver livremente. Manter um animal aprisionado é um dos crimes mais cruéis do ponto de vista ético. Não podemos mais aceitar calados este tipo de prática como também todas as outras que tratam os animais apenas como mercadoria ou objeto de decoração. As pessoas podem obter alguns minutos de entretenimento com esse turismo, mas para os elefantes é uma vida inteira de exploração e abusos condenados pelo egoísmo humano.