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Elefantes explorados em circos serão transferidos para centro de conservação

26 de setembro de 2020
7 min. de leitura
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Elefante circense | Foto: Reprodução Pixabay

Alguns elefantes aposentados e que foram submetidos a anos de exploração nos circos de Ringling Bros. e Barnum & Bailey Circus se mudarão para uma nova casa, espaçosa, em um centro de conservação na Flórida no próximo ano, concluindo uma jornada que começou em 2015, quando a empresa controladora do circo, Feld Entertainment, anunciou pela primeira vez após anos de pressões de grupos ambientais que deixaria de usar elefantes para as performances circenses.

A compra de 35 elefantes asiáticos da Feld Entertainment pela White Oak Conservation, foi anunciada no dia 23 de setembro e criará o que será a maior comunidade de elefantes asiáticos fora de seu continente, de acordo com a empresa. A construção começou em um habitat de 2.500 acres (equivalente a mais de 1.000 hectares) que está programado para ser concluída em 2021.

O novo refúgio permitirá que os animais escolham entre diferentes paisagens – incluindo pântanos, pastagens e bosques – e possuirá 11 lagos, cada um grande o suficiente para os elefantes entrarem.

“É uma chance para deixá-los voltar a ser simplesmente elefantes em uma situação que é o mais selvagem que podemos chegar”, comenta Michelle Gadd, que lidera os esforços globais de conservação da Walter Conservation. A White Oak é uma propriedade do empresário e proprietário do Los Angeles Dodgers, Mark Walter e sua esposa Kimbra, e faz parte da Walter Conservation, uma divisão do trabalho filantrópico da família dedicada à conservação da vida selvagem.

Os elefantes asiáticos – uma espécie cuja média de vida em cativeiro é de cerca de 45 anos – variam em idade, mas alguns chegam até 70 anos. Entretanto, tendo vivido principalmente em cativeiro, os elefantes não podem ser devolvidos à natureza. Mas segundo Ed Stewart, presidente e cofundador da Performing Animal Welfare Society (PAWS), uma organização sem fins lucrativos com sede na Califórnia que acolhe animais performáticos abandonados, abusados ​​e aposentados, esse movimento trará bem-estar aos animais com um local mais amplo onde possam viver.

Tradição exploratória

A população de elefantes asiáticos é uma espécie em extinção que diminuiu em menos metade nos últimos 75 anos. Cerca de 20.000 a 40.000 permanecem na natureza. Este declínio é em grande parte devido à destruição do habitat, onde apenas 15% das áreas destes animais no sul e sudeste da Ásia permanece até hoje por causa do desmatamento. A causa principal é conhecida: desenvolvimento agrícola e expansão industrial. A população também é afetada por ameaças em menor escala, como a caça ilegal para extração de pele e presas.

Cerca de um terço de todos os elefantes asiáticos vivem em cativeiro. Eles são explorados ​​para fins agrícolas, extração de madeira e atrações turísticas, principalmente na Índia, Tailândia e Mianmar. O processo de treinamento de elefantes jovens em cativeiro pode ser brutal e frequentemente envolve métodos baseados no medo que enfatizam a punição, infligem dor e às vezes extraem sangue.

Várias centenas de elefantes asiáticos vivem nos Estados Unidos, a maioria deles em zoológicos. A maior parte do restante vive em santuários ou refúgios e outra parte ainda pertence a circos, atuando em estados e comunidades onde o uso de animais selvagens ainda é legal.

Ringling Bros. e Barnum & Bailey Circus | Foto: Reprodução Pixabay

Como os elefantes asiáticos são menores do que seus primos africanos e, em geral, por isso mais fáceis de serem transportados, por volta de meados de 1800 eles se tornaram muito populares em shows de circo itinerante. A tendência começou com o autoproclamado “Maior Espetáculo da Terra” de Barnum.

Uma investigação da revista Mother Jones de 2011 relatou que os elefantes sofreram maus-tratos e maus cuidados desde o início. Um animal da primeira expedição de captura de elefantes de Barnum morreu no trânsito do que agora é o Sri Lanka para os EUA, relatou a revista, e técnicas de treinamento com bastões elétricos se tornaram uma prática padrão que continuou depois que a Feld Entertainment comprou o circo de Barnum em 1967. A investigação revelou que, mesmo em pleno século 21, muitos dos animais sob o comando de Feld estavam sobrecarregados e vários morreram de complicações de saúde relacionadas às suas condições de vida.

Em 2016, pressionado por ativistas dos direitos dos animais, Feld aposentou o último de seus elefantes performáticos. Todos eles – 40 na época – foram transferidos para um terreno de aproximadamente 80 hectares chamado Ringling’s Center for Elephant Conservation (CEC). Um ano depois, a empresa fechou o circo para sempre.

Mesmo no CEC, a polêmica continuou. Vários grupos de direitos dos animais e bem-estar, incluindo People for the Ethical Treatment of Animals – PETA (Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais, tradução livre) e o Fundo Internacional para o Bem-Estar Animal, criticaram o tamanho dos recintos dos elefantes. A Reuters relatou em 2016 que os elefantes foram mantidos acorrentados à noite.

Apesar das pressões dos grupos de proteção os animais continuaram no CEC. Atualmente, há 34 elefantes e um emprestado ao Zoológico de Fort Worth. Quase todos eles estão prestes a serem transferidos novamente.

Mais próximo da natureza

A transferência para o novo habitat na White Oak apresenta uma série de desafios. A maioria desses elefantes está acostumada a viver em quase isolamento e nenhum deles procurou comida antes, comenta Michelle Gadd. Por este motivo, segundo informações alguns animais permanecerão no CEC, embora a responsabilidade por seu bem-estar agora seja da White Oak Conservation. Alguns dos elefantes, afirma Gadd, simplesmente não se dariam bem no novo ambiente ou estão em idade muito avançada para se mudar.

Segundo Michelle, os animais não estão familiarizados com a dinâmica do rebanho e os laços familiares que geralmente existem entre os elefantes asiáticos selvagens, por isso seria muito danoso os reintroduzirem no ambiente selvagem.

Nick Newby, membro da Associação de Zoos e Aquários (AZA), contratado pela White Oak para conhecer os elefantes e prepará-los para a vida em sua nova casa, explica que o trabalho já foi iniciado, e que inclui lentamente permitir que os animais desenvolvam por meio de interações em grupo monitoradas e encorajar comportamentos autossuficientes. “Estamos orgulhosos de nossa parceria com a White Oak para transferir os elefantes sob nossos cuidados, afim de expandir ainda mais seus esforços de conservação de espécies ameaçadas”, disse Kenneth Feld, presidente da Feld Entertainment.

O objetivo é que no próximo ano, quando os elefantes deixarem o CEC, eles se acomodem mais facilmente em sua nova casa e, como disse Gadd, “vivam como elefantes normais”. A longo prazo, a White Oak pretende reintroduzir os elefantes nascidos na natureza, diz ela.

Para Ed. Stewart do PAWS isso seria mais complexo, segundo conta, nenhum elefante asiático foi reintroduzido com sucesso na natureza, principalmente por causa de seu habitat em rápida redução e da dinâmica complicada da “cultura humana e da cultura do elefante, e onde eles se encontram”.

Segundo as instituições de proteção animal, muito mais precisa ser feito para conservar e proteger os elefantes asiáticos, tanto nos Estados Unidos, como ao redor do mundo. Mas, enquanto isso, Stewart salienta que vale a pena comemorar essa mudança: “Não há situação perfeita em cativeiro, mas isso parece uma grande melhoria para esses elefantes. E eles merecem”, finaliza.


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