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Elefantes estão enlouquecendo por causa da solidão em zoos

15 de agosto de 2017
6 min. de leitura
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Ela é mantida em um recinto de concreto pequeno próximo ao parque de diversões do zoo, diz Keith Lindsay, um biólogo e especialista em elefantes que reside em Oxford, na Inglaterra. “Ela esteve nesse lugar por toda a sua vida, sem outros elefantes e nenhum lugar para se mover”, explica.

A elefanta Sunny vive isolada há 28 anos
A elefanta Sunny vive isolada há 28 anos/ Foto: Elephants in Japan

Lindsay observou Miyako no início deste ano quando passou duas semanas visitando 14 zoos que majoritariamente mantêm os elefantes em isolamento. Ele resumiu as condições dos animais e de seus entornos em um novo relatório.

Cinco elefantes passaram a vida inteira sozinhos, informa o documento. Oito ficaram isolados depois que seus companheiros morreram ou foram transferidos e uma se reuniu com seu companheiro anterior, mas foi mantida em um recinto separado.

“Os elefantes estavam essencialmente psicóticos, desesperados para interagir com as pessoas em alguns casos, ignorando pessoas em outros casos”, afirma Lindsay.

O catalisador para sua viagem ao Japão foi uma elefanta que ele nunca conheceu, uma fêmea chamada Hanako, que viveu sozinha no Inokashira Park Zoo, em Tóquio, por mais de 60 anos. Ela despertou a atenção pública no outono de 2015.

Isso ocorreu quando uma visitante do zoo, Ulara Nakagawa, escreveu uma postagem em um blog sobre Hanako e iniciou uma petição pedindo que ela fosse transferida para um santuário na Tailândia, seu país de origem. “Totalmente sozinha em um recinto pequeno, estéril, de cimento com absolutamente nenhum conforto ou estímulo, ela permaneceu ali quase sem vida – como um manequim”, escreveu Nakagawa.

A petição conseguiu quase 470 mil assinaturas e notícias sobre a situação de Hanako se disseminaram pela internet. Mas o zoológico considerou muito arriscado mover a elefanta idosa e, alguns meses depois, a denominada “elefanta mais solitária do mundo” morreu aos 69 anos.

Para Nakagawa, a morte de Hanako marcou o início de um esforço maior para ajudar elefantes isolados em zoos no Japão. Ela se juntou à Zoocheck, uma organização sem fins lucrativos canadense dedicada à proteção animal e iniciou uma campanha popular chamada “Elephants in Japan” (Elefantes no Japão).

Ela  recrutou a Lindsay para analisar como os elefantes – animais altamente sociais e inteligentes – têm vivido em zoos no Japão que não tem condições de mantê-los em cativeiro.”Esta nova campanha é em memória [de Hanako], para garantir que os outros elefantes no Japão não tenham que viver a mesma vida que ela teve”, esclarece Nakagawa.

Quanto à razão pela qual escolheu examinar elefantes solitários no Japão, que não é o único país onde isso acontece, ela explica: “nós precisamos começar em algum lugar”.

Muitos dos 14 elefantes solitários que Lindsay observou, incluindo Miyako, foram expostos a condições abaixo do padrão, como recintos muito pequenos e falta de estímulos.

Porém, ele disse que Miyako ficou no topo da lista como aquela com a vida mais dolorosa. Ele a observou andando de um lado para o outro continuamente e percebeu que ela mordia repetidamente uma barra de metal, comportamentos que mostram o grande estresse psicológico. “Nunca vi isso antes”, diz ele.

A vida de Miyako não tem qualquer semelhança com a dos elefantes asiáticos na natureza, onde as fêmeas vivem em grupos com até 50 companheiros e os machos frequentemente se juntam quando atingem a maturidade sexual e deixam o grupo familiar.

Teru vive sozinha há 17 anos no Yuki Park
Teru vive sozinha há 17 anos no Yuki Park/ Foto: Elephants in Japan

Mesmo quando os elefantes não estão com seus amigos, pesquisas mostram que eles ainda podem se lembrar deles e se comunicar com eles por meio do olfato e do som.

“O aspecto social da vida de um elefante é o mais importante para o seu bem-estar e ficaríamos preocupados com o bem-estar psicológico de qualquer elefante mantido isolado”, diz Georgina Allen, da Wild Welfare, uma organização sem fins lucrativos que visa melhorar as condições de animais confinados. Allen não participou do relatório Elefantes no Japão.

Além do companheirismo, os elefantes asiáticos requerem muito espaço, percorrendo grandes distâncias como 368 quilômetros quadrados em busca de alimentos ou dos seus colegas. Conhecidos por sua inteligência, eles sentem dor e demonstram outras emoções, como felicidade e raiva, aponta a reportagem da National Geographic.

Os ativistas destacam que a inteligência dos elefantes se torna ainda mais prejudicial quando eles são mantidos sozinhos em áreas estéreis. Embora Lindsay tenha achado a situação de Miyako particularmente sombria, a dela não era o único caso trágico.

Ele também conheceu Teru, uma elefanta asiática que vive isolada no Kofu City Yuki Park Zoo desde 2000. O animal de 38 anos não tem estimulação em seu recinto de concreto e foi visto balançando o corpo e a cabeça continuamente.

Himeko, uma elefanta asiática de 40 anos, vive solitária no zoológico da cidade de Himeji desde que chegou ao local em 1994. Ela é encarcerada por 18 horas por dia, é obrigada a se apresentar para o público e foi observada se balançando por longos períodos e sobre sua própria urina.

Já Izumi era uma elefanta asiática que morreu aos 62 anos logo que Lindsay a conheceu no  Kiryugaoka Zoo. Ela vivia sozinha desde 1964 em um pequeno recinto escuro e sem qualquer sombra ao ar livre.

Miyako é mantida isolada há 44 anos em zoo
Miyako é mantida isolada há 44 anos em zoo/ Foto: Elephants in Japan

Lindsay constatou que apenas quatro dos 14 zoos “melhoraram”, o que significa que pelo menos adicionaram recursos como a ampliação de recintos e outros aprimoramentos. Os restantes eram inferiores, sendo que alguns pareciam não ter feito atualizações desde a sua construção na década de 1950.

A maioria das associações de zoos, segundo o relatório, concorda que os elefantes devem ter espaço suficiente para caminhar, se alimentar e ter a chance de interagir com outros elefantes. A Associação Americana de Zoos e Aquários, uma agência que desenvolveu orientações para a manutenção de elefantes, recomenda que  as instalações que os exploram não mantenham menos do que três fêmeas, dois machos ou três animais de ambos os gêneros juntos.

Alguns zoológicos até questionaram a prática de manter os elefantes em cativeiro, tendo em vista suas necessidades complexas. Pelo menos 44 zoos em todo o mundo fecharam suas exposições de elefantes ou indicaram o objetivo de libertá-los, observa o relatório. Porém, a Associação Japonesa de Zoos e Aquários ainda não desenvolveu práticas melhores e não acompanha rotineiramente os zoos, de acordo com Lindsay.

Ele apela para que os zoológicos que mantêm elefantes solitários ao menos os transfiram para instalações onde os animais pelo menos poderão socializar com indivíduos da sua espécie.

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