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LUTO

Elefanta Kenya morre no Santuário de Elefantes Brasil em decorrência de sequelas dos anos em cativeiro

Mesmo após ser acolhida em um santuário, ela carregou no corpo as consequências irreversíveis de décadas de confinamento.

16 de dezembro de 2025
Redação ANDA
5 min. de leitura
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Foto: Governo de Mendoza

A elefanta Kenya morreu na manhã de hoje (16/12) no Santuário de Elefantes Brasil, localizado no Mato Grosso, cercada por cuidadoras que a acompanharam em vigília até seus últimos momentos. Sua morte é consequência dos impactos profundos e permanentes do confinamento imposto por zoológicos, que deixam marcas físicas e psicológicas nos animais mesmo anos após o resgate e a retirada do cativeiro.

Segundo a equipe responsável, Kenya passou os últimos dias extremamente debilitada. Após um longo período sem conseguir se deitar, um sinal grave em elefantes, ela finalmente conseguiu descansar na noite anterior à morte. Exausta, permaneceu imóvel por horas, com a respiração mais tranquila. Pela manhã, ainda calma, estava acompanhada pela tratadora Michele e por Scott, que permaneceram ao seu lado durante toda a noite, oferecendo cuidado e presença sem interferir em seu descanso.

Pouco depois, sua respiração mudou e Kenya emitiu um suave trombetear, semelhante ao de um filhote, antes de morrer de forma rápida e tranquila.

Kenya enfrentava problemas articulares severos, especialmente na pata dianteira direita, condição diretamente associada aos anos vividos sobre pisos duros e inadequados em zoológicos, e apresentava alterações na respiração. Embora estivesse sob acompanhamento intensivo, com resposta parcial a antibióticos e analgésicos, boa hidratação e apetite preservado, seu corpo já havia sido profundamente comprometido por uma vida privada de escolhas, espaço e relações naturais.

A trajetória de Kenya

A elefanta havia chegado ao Santuário de Elefantes Brasil em julho deste ano, após ser retirada do antigo Zoológico de Mendoza, na Argentina, onde viveu confinada por décadas, isolada de outros elefantes e em condições amplamente criticadas por especialistas e defensores dos direitos animais. No santuário, Kenya começou a experimentar, ainda que tardiamente, um ambiente mais próximo do natural, com liberdade de movimento, cuidado respeitoso e a possibilidade de construir vínculos.

Mesmo após tantos anos vivendo sozinha, Kenya demonstrou uma capacidade notável de conexão. Criou um vínculo profundo e cuidadoso com a elefanta Pupy, reconhecendo suas necessidades e respeitando seu tempo. A relação entre as duas se construiu lentamente, mas se tornou intensa e significativa. Pupy, no entanto, morreu em outubro, apenas seis meses após chegar ao santuário, também em decorrência de complicações de saúde.

Em nota, o SEB destacou que é raro um elefante ser cercado por tanto amor, vindo de diferentes partes do mundo. “Há um vazio imenso no santuário, talvez um dos maiores que já sentimos. Kenya tocou milhares de corações simplesmente sendo quem era. Lembramos de seus primeiros dias e de como parecia maior do que o espaço físico ao seu redor; sua personalidade era imensa, maior do que a própria vida”, afirmou a equipe em nota, que relembrou seus “passos de dança”, sons característicos e a curiosidade que mantinha viva, apesar de tudo.

A necrópsia do corpo será realizada ainda hoje (16/12), em parceria com a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Os resultados devem levar meses para serem concluídos e poderão trazer mais esclarecimentos sobre as causas da morte. O local de descanso definitivo de Kenya será preparado ao lado de Pupy.

Retirar um animal de um zoológico infelizmente não apaga as marcas deixadas por anos de confinamento. Mesmo quando resgatados, muitos animais chegam a santuários com problemas físicos, emocionais e comportamentais irreversíveis. A morte de Kenya não é um caso isolado, mas o preço cobrado pelo entretenimento humano à custa da liberdade e da dignidade animal.

Kenya partiu cercada de cuidado e respeito, algo que lhe foi negado durante grande parte da vida. Que ela finalmente descanse em paz e que sua história nos mobilize para garantir que nenhum outro elefante, ou qualquer outro animal, tenha que passar pelo mesmo.

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