Os antigos egípcios adoravam e ao mesmo temiam o deus-crocodilo Sobek, encarnação dos enormes répteis que viviam nas águas do Nilo e que atualmente, já fora do risco de extinção, povoam as margens do Lago Nasser.
Embora a caça indiscriminada e a poluição tenham dizimado a numerosa população de crocodilos, nos últimos anos os egípcios fizeram programas de recuperação da espécie no Lago Nasser, no sul do país.
Graças a estes esforços, o crocodilo-do-nilo deixou de estar em risco de extinção. A conscientização entre os egípcios da importância de conservar uma espécie, cuja história está estreitamente ligada a do país, aumentou.
Em junho do ano passado, a Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas (CITES) decidiu mudar o status do crocodilo-do-nilo no Egito de I, ao qual pertencem os animais em perigo de extinção, para II, que designa espécies “não ameaçadas, mas cujo comércio deve ser controlado”.
“Agora nossos objetivos são a conservação da espécie, fazer um censo populacional, conscientizar as pessoas da importância dos crocodilos e atrair ecoturistas”, enumerou o chefe do Departamento de Parques Naturais do Ministério do Meio Ambiente, Mohammed Ibrahim, em entrevista à Agência Efe.
Em seu escritório, Ibrahim fez uma avaliação positiva do novo status do crocodilo porque confirma a boa fase de uma espécie que a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) situa atualmente em “risco baixo” de extinção.
Desde junho, um grupo de especialistas do UICN trabalha em colaboração com os pescadores locais para fiscalizar os 5 mil quilômetros quadrados do lago Nasser, onde ficam quase todos os crocodilos do Egito, e registrar um a um todos os animais e seus ninhos.
A grande contradição da medida é que ao mesmo tempo que o censo permitirá conhecer com exatidão a saúde da espécie no Egito e, em 2013, quando acabar a apuração, a CITES estabelecerá uma cota de animais para caça e exportação, permitindo que esses animais continuem a ser explorados e usados para interesses humanos.
Entre os principais desafios para os próximos anos está o de combater o comércio deste réptil, assim como evitar sua proliferação pelo leito do Nilo, como costumava acontecer no Egito antigo.
A grande represa de Assuã serve de muro protetor e impede que a população de crocodilos se estenda Nilo abaixo, mas Ibrahim alertou que a ação humana frequentemente altera a situação: “Há turistas que pegam os crocodilos pequenos do lago e os colocam para descer o Nilo, isto é ruim”, ressaltou.
Os zoológicos particulares que se proliferam por todo o país são uma grave ameaça para as espécies africanas já que, para atrair turistas, as criam em cativeiro e em condições quase sempre lamentáveis.
Para Ibrahim, a prioridade agora é estabelecer “uma só unidade responsável pela conservação do crocodilo-do-nilo e por organizar atividades relacionadas” à espécie.
Além disso, reconheceu que a burocracia egípcia complica esta tarefa, já que uma organização como a que Ibrahim descreve deveria lidar com os ministérios de Agricultura, Água e Irrigação, Defesa, Transportes e Turismo, todos eles com competências sobre o lago Nasser.
Ibrahim explicou que nos últimos meses pesquisadores de vários países pediram permissão para estudar de perto os crocodilos, mas acrescentou que a falta de um organismo impediu que as licenças saíssem.
Com informações do Terra
Nota da Redação: A verdadeira medida de preservação dessa espécie consistiria na proibição, sob rígida fiscalização, da matança desses animais, bem como na elaboração de estratégias funcionais para a preservação de seus habitats. Enquanto a caça for permitida, continua-se a desrespeitar o direito à vida desses animais e se incentivar esse comércio sórdido. Ou realmente se preservam esses animais ou que se mude então o discurso de preservação para uma destruição declarada.