O caso da sucuri-verde (Eunectes murinus) encontrada morta no dia 6 de janeiro após ser atropelada na rodovia MT-338, ilustra um cenário infelizmente comum em estradas brasileiras, o atropelamento de animais silvestres. A serpente estava grávida com 100 filhotes, que morreram no acidente.
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) não sabe o número certo de animais atropelados nas estradas brasileiras. Roberto Cabral, analista ambiental do Ibama, estima que milhões de animais morrem nas estradas.
Ele explica que não dá para ter uma noção do número absoluto, por conta animais menores que muitas vezes passam despercebidos.
“Nós estamos falando de milhões de animais, isso porque a gente não considera os animais basicamente os animais menores e invertebrados, inclusive aranhas caranguejeiras que passam e acabam sendo atropeladas. Como a carcaça do animal é muito menor, fica difícil o registro e acabamos perdendo esses dados”, explica Roberto Cabral.
O analista ambiental afirma que isso é um problema nacional de biodiversidade e que esses atropelamentos poderiam ser evitados por meio do que chama de “ecologia de estradas”, ramo da ecologia que estuda os efeitos colaterais das estradas sobre a biodiversidade.
“Dá para ser evitado, não de forma total, porque acidentes acontecem, mas com certeza poderia ser evitado se nós estivéssemos preparados para a situação. Por exemplo, considerando as novas estradas, um licenciamento teria que ser feito já indicando medidas de mitigação.”
Ainda segundo o analista, é importante que seja feita também uma análise de paisagem para indicar os pontos de confluência com maior possibilidade de trânsito de fauna. Com essa análise, é possível construir passagens de fauna que evitem que os animais cruzem as grandes rodovias e corram risco de vida.
“As passagens devem ser feitas com consultoria técnica de um biólogo que possa, com base no comportamento do animal, indicar qual seria melhor passagem ali no local.”
A startup EnvironBit vai disponibilizar em fevereiro um aplicativo pode ajudar a mapear estradas brasileiras e auxiliar na redução de atropelamentos de animais em rodovias. Criador do aplicativo, o professor de ecologia da Universidade Federal de Lavras (UFLA) Alex Bager explica que a U-safe entrega para o usuário o trabalho de mostrar quais animais podem ser encontrados nas estradas e indica a velocidade segura para o motorista redobrar a atenção.
“A gente consegue monitorar e entregar cada espécie de animal que pode ser encontrada naquela rodovia nos determinados momentos do dia. Mapeamos os animais encontrados naquela região e quais são mais prováveis de parecer pela parte da manhã, tarde e noite, com isso a gente consegue informar um pouco antes, o motorista tira o pé do acelerador e redobra a tensão.”
O aplicativo, explica o professor, também pode ajudar no momento em que a rodovia é construída, pois mapeia onde construir passagens de fauna e cita animais estão em risco.
“A gente percebe que existem muitas falhas na parte de pesquisa e de análise dos dados para tomar uma boa decisão sobre essas passagens”, diz. Com isso acaba tendo um investimento alto para botar uma passagem em um lugar onde não haverá passagem de animais e ocorre uma falha na proteção da biodiversidade.”
Usando o caso da sucuri atropelada como exemplo, Bager explica que a startup faz uma modelagem preditiva que pega o ponto aonde a serpente foi atropelada e relaciona isso com até 600 variáveis diferentes: informações biológicas, ecológicas e de rodovias. Tudo isso para entender a região do entorno.
Por meio das informações coletadas, usa-se a inteligência artificial para prever situações de risco e sinalizar quais rodovias possuem risco de encontrar aquele animal.
Fonte: Metrópoles