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Eco-economia no cinema: filme ‘A Última Hora’ faz alerta sobre globalização do colapso ambiental

28 de julho de 2010
5 min. de leitura
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Um documentário sobre aquecimento global realizado por um vegetariano poderia ser mais direto quanto às questões que envolvem a morte e maus-tratos de animais para capricho humano. Deveria mesmo destacar a contribuição terrível do uso de animais para consumo à crise ambiental, mostrando não apenas o descalabro ético, mas o impacto irreversível disso. Mas ao delegar as bases desse debate ao capitalismo e à falta de consciência ética, o ator e produtor norte-americano Leonardo di Caprio e a equipe de A Última Hora (The 11th Hour, 2007) fizeram um filme que pauta com atenção o aquecimento global. E traz alguma luz para a causa dos direitos dos animais, ainda que de maneira indireta.

As previsões são fatais: o planeta provavelmente vai continuar, mas todos os seres vivos parecem mesmo estar com os dias contados. Se há luz no fim do túnel que nos leva ao colapso ambiental mundial, é certo que se origina no fato de que a raça humana é a bola da vez. Depois de tanta exploração descabida dos recursos naturais e das outras espécies do planeta, finalmente a sociedade precisa reconhecer que o modelo de vida adotado nos conduziu ao desastre. Destaco que o filme não defende os direitos animais, mas também não deixa de exibir imagens chocantes de animais em matadouros, pendurados em esteiras de corte e mesmo imagens dos que mais correm o risco de extinção rápida com as mudanças climáticas.

Os dados apresentados em A Última Hora são incontestáveis. Há 6 bilhões de pessoas no mundo que precisam de matéria prima, energia, produtos gerais de consumo diário, roupas, moradia, medicamentos, alimentos, água. E não é só evidente que este número é enorme e desproporcional aos recursos disponíveis. Ele se tornou imenso num átimo se compararmos com todo o período de existência do planeta. No início do século XIX éramos 1 bilhão de pessoas. Este número foi para 2 bilhões em 130 anos. De 1930 a 1960 – em apenas 60 anos – chegamos em 3 bilhões. Considerando apenas os últimos 50 anos, a conta fecha com cifras dobradas: 6 bilhões. Assustador? Não podemos esquecer que esse contingente todo ainda está distribuído pelo mundo de forma desigual, sempre mais concentrado nos países pobres. E, além das evidências de que em poucos anos serão agravados os problemas diretamente relacionados aos recursos naturais afetados pelo aquecimento global, outra parece mais grave: esses mesmos recursos já começam a nos faltar.

O filme, narrado por Di Caprio, é ancorado em depoimentos de pessoas que realmente fazem a diferença para a compreensão do problema. Quem pesquisa consumo insustentável, por exemplo, já conhece o trabalho de personagens relevantes como o ambientalista David Suzuki e seu discurso sobre as toneladas de lixo despejadas nos oceanos, o livro de Richard Heinberg The party’s over: oil, war ant the fate of societies; o trabalho de Joseph Tainter sobre O colapso das sociedade complexas, o estudo sobre o declínio das espécies de Paul Hanken e ainda o indiscutível Biomimicry, da pesquisadora de ciências naturais Jeanine Benyus, que mostra inovações comportamentais das espécies inspiradas pela natureza. Mas o fato é que, quando o filme dá voz a eles, torna possível a construção de um pensamento realista e articulado que incentiva a percepção intercognitiva típica do pensamento sistêmico. Fica claro que o preço a ser pago pela exploração de recursos e vidas do planeta foi decidido pelo estilo de vida que decidimos ter.

Além desses importantes nomes que enriquecem o debate sobre as ações insustentáveis do homem no planeta, A Última Hora traz ainda os depoimentos de gente séria e mundialmente reconhecida, como o analista junguiano e escritor James Hillman, que destaca que o problema está em nossas escolhas pessoais. O eco-economista Lester Brown dá seu recado para que os governos diminuam o imposto de renda do cidadão comum e aumentem para quem queima combustíveis fósseis – é sério, o imposto dessas indústrias é pago inclusive por veganos. O filme destaca que é preciso aumentar o nível de consciência e cita o conceito de vida slower, ou seja, precisamos deixar de ver o consumismo como a experiência mais importante. Nas palavras de Brown: “We need to be slower, we need to be smarter”.

Estão presentes ainda exemplos importantes como os esforços de Sandra Postel, do Global Water Policy Project, que visam identificar as necessidade de ação quanto às expetactivas de falta do recurso mais precioso nestes tempos de aquecimento global: a água. Stephen Hawkins também dá o seu recado – em voz mediada por computador – para que atentemos aos efeitos que estamos impondo ao nosso habitat. O filme deixa claro que as forças principais que impedem as mudanças são: a indústria do combustível fóssil, o governo e a constituição. A mensagem de David Orr, presidente do Programa de Pesquisa Ambiental do Oberlin College, é clara: “Corremos o risco de destruição da civilização, de tudo o que conquistamos. Esta frágil embarcação que atravessou os séculos e o milênio para chegar a este ponto em particular irá afundar num mar de consumo, falta de bom senso e injustiça”.

Acordar para o consumo consciente pode salvar o planeta. E são as pessoas que precisam se instruir e tomar a atitude por si sós. E rápido, muito rápido. Como está no filme: “As pessoas não são separadas da natureza. Se os homens são o problema, só eles podem ser a solução”. A terra tem todo o tempo do mundo. Nós não. O planeta, os animais e as futuras gerações de todas as espécies agradecem se você se deixar tocar pela mensagem deste filme.

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