Maria de Nazareth Agra Hassen
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O capitão norueguense Otto Sverdrup, explorador das regiões polares, planejava uma sociedade para a caça às baleias, de modo que os navios baleeiros se fizessem acompanhar de um barco de 4.000 toneladas que equivaleria a uma verdadeira fábrica flutuante para a preparação das baleias, segundo as regras da “technica moderna”. Há cem anos, mais precisamente em 16 de março de 1910, o jornal Correio do Povo de Porto Alegre publicava, sob o título de “protesto enérgico” a resistência que partia do dr. Paul Sarasin, presidente da Companhia Suíça de Proteção à Natureza: “Diz esse homem illustrado que uma tal notícia deveria encher de indignação todos aquelles que puderam aninhar dentro de si a idéa, geralmente acceita, de empregar esforços para auxiliar a natureza”. Após referir-se às baleias como um dos mamíferos mais notáveis do globo terráqueo, Sarasin passava a exigir a promulgação de leis protecionistas, além de apelar a Sverdrup, “com palavras eloquentes e com insistência que, no interesse da conservação de uma das maiores creações da natureza, renuncie ao plano formulado”. O jornal emitia a seguir sua opinião: “é de esperar que não seja em vão esse appelo”. Um século depois, a súplica de Sarasin ainda não foi devidamente ouvida nos mares do planeta. Assim é. Outros apelos se seguiram, e ações se fazem necessárias para que a humanidade ouça os animais marinhos e seus defensores.
É realmente um manual, mas não é só um manual. Um guia dirigido àquele que quiser se tornar um militante do movimento conservacionista consequente, eficiente e eficaz, que vai além da dimensão prática.
Para escrever Earthforce! (publicado originalmente em 1993 e agora traduzido e publicado em língua portuguesa pela Tomo Editorial), Paul Watson combinou três perspectivas provenientes de pensadores a quem chamou de “colaboradores”, a saber, Sun Tzu, Miyamoto Musashi e Marshall McLuhan. O primeiro, o general chinês que, há mais de 2.500 anos, escreveu A arte da guerra; Musashi, um guerreiro reflexivo japonês, é autor de O Livro dos Cinco Anéis (escrito em 1648); e, amplamente conhecido por seus estudos de mídia, o canadense McLuhan é a terceira fonte que inspira Watson a socializar seu conhecimento acumulado em termos da arte estratégica de defesa da Terra.
O leitor ocidental pode até estranhar o estilo de escrita resultante desta mescla. Aí reside, porém, o encanto e a diferença deste livro em relação a outros, encontráveis, sobretudo no mercado norte-americano, que oferecem estratégias de eco-guerrilha. Earthforce!, não sendo um guia eminentemente prático, alia as dicas de comportamento, planejamento, execução e avaliação a meditações e reflexões que tornam tais procedimentos conscientes, isto é, uma praxis, processo pelo qual conceitos abstratos ligam-se à realidade vivida.
A consciência inclui os riscos a que os defensores do planeta estão submetidos a todo o momento, e principalmente a consciência sobre o papel da humanidade no futuro que cria para o meio ambiente. O destino do planeta está nas mãos dos homens: dos que o destroem e dos que lutam para o salvar.
O pequeno livro de Watson nos leva a pensar o planeta no seu valor intrínseco e não apenas como fonte de recursos para a vida humana. Como o objetivo do ativista não é ser herói, mártir ou astro, a prudência será ensinada passo a passo, assim como o cálculo de riscos. Tudo pela melhor estratégia visando ao melhor fim: uma ação bem sucedida na defesa do planeta.
O leitor conhecerá os juramentos do guerreiro da Terra, as artes estratégicas da luta pelo planeta, o código de leis para os defensores da Terra, um estudo sobre liderança (talentos, males, habilidades), as situações encontráveis no confronto ambiental, as 36 estratégias, entre outros tópicos.
Cabe chamar atenção que não é um livro para mentes estreitas. Navegar nas suas páginas, como navegar a bordo do Steve Irwin, demanda coragem para enfrentar verdades como esta: “Na sociedade antropocêntrica, julga-se com rigor aqueles que destroem ou tentam destruir as criações da humanidade. Sabote uma moto-niveladora e lhe chamarão de vândalo. Faça tree spiking numa árvore e lhe chamarão de terrorista. Liberte um coiote de uma armadilha e lhe chamarão de ladrão. Se um ser humano destrói as maravilhas da criação, a beleza do mundo natural, a sociedade antropocêntrica chama essa pessoa de madeireiro, mineiro, construtor, engenheiro e empresário.”
O canadense Paul Watson, nascido em 1950, é fundador e presidente da Sea Shepherd Conservation Society (www.seashepherd.org), criada em 1977, tendo antes sido um dos fundadores do Greenpeace. A Sea Shepherd dedica-se à defesa da biodiversidade marinha e, na sua missão salvacionista, usa ação direta, tendo afundado vários baleeiros ilegais, além de manter em diferentes partes do mundo projetos de educação, estudo e prevenção da destruição dos habitats marinhos.
A edição em língua portuguesa mantém o prefácio de Dave Foreman (autor de Eco Defense) e é apresentada pelo diretor geral do Instituto Sea Shepherd do Brasil, Daniel Vairo. O fato de caber no bolso não evitou que fosse uma edição muito caprichada, em papel reciclado, e a escolha de uma pequena editora no sul do Brasil para traduzir a obra para a língua portuguesa não foi aleatória: o editor João Carneiro é vegano e integrante do Grupo pela Abolição do Especismo de Porto Alegre (GAEPOA), e as demais integrantes da pequena equipe da editora são vegetarianas e ciclistas.
Serviço:
Título: earthforce! um guia de estratégia para o guerreiro da terra
Autor: Paul Watson
Tradutor: Roberto Cataldo Costa
Consultoria Técnica: Daniel Vairo
Projeto gráfico, diagramação e capa: Krishna Chiminazzo Predebon
Editora: Tomo Editorial
Páginas: 144
Preço sugerido: R$ 20,00
Para comprar pela internet:
www.seashepherd.org.br
www.tomoeditorial.com.br