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DEVASTAÇÃO

E se as mudanças do clima acordarem os vulcões adormecidos?

Cerca de 130 vulcões situados no país são potencialmente ativos, porém encontram-se adormecidos sob geleiras que, com o aumento da temperatura do planeta, correm o risco de derreter.

13 de abril de 2023
3 min. de leitura
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FOTO: Divulgação

Por Redação

Cientistas e pesquisadores na Islândia, o país europeu com o maior número de vulcões, estudam o impacto das mudanças climáticas sobre essas formações geológicas que provocam fascínio e medo ao mesmo tempo. Cerca de 130 vulcões situados no país são potencialmente ativos, porém encontram-se adormecidos sob geleiras que, com o aumento da temperatura do planeta, correm o risco de derreter.

O resultado é alguns deles poderiam acordar, com consequências ainda difíceis de prever. Em agosto passado, o repórter Samuel Turpin visitou para a RFI o vulcão Fagradalsfjall, que entrou em erupção depois de 800 anos de dormência no vale de Reykjanes, a cerca de uma hora da capital Reykjavik. O vulcanologista Jacques-Marie Bardintzeff explicou que as mudanças climáticas podem fazer a atividade sísmica aumentar – historicamente, uma erupção acontece em média a cada cinco anos no país.

“Nós esperávamos uma erupção curta, mas ela demorou 14 meses para acontecer. Os últimos meses foram os mais impressionantes: tivemos períodos com 3 mil sismos em 48 horas, o que significa um por minuto”, relembra.

Os episódios do passado mostram que, ao despejar lava, os vulcões espalham pela atmosfera e até além, na estratosfera, cinzas e diferentes gases tóxicos como enxofre e aerossóis, com capacidade de alterar o clima. Na sua passagem, também derretem geleiras que podem causar inundações, a exemplo da erupção do Eyjafjallajökull, que há 12 anos paralisou o tráfego aéreo europeu por uma semana.

Impacto na agricultura

Bardintzeff conta que num dos eventos mais marcantes, em 1783, o vulcão Laki, em ebulição durante nove meses na Islândia, levou a períodos prolongados de tempo desfavorável para a agricultura em todo o oeste europeu. Há quem pense que essa erupção antecipou a Revolução Francesa, ao agravar a situação de fome que atingia a população pobre.

No contexto atual, são as previsões de elevação da temperatura global que preocupam. Nos cenários mais pessimistas previstos pelos cientistas membros do IPCC, o painel de especialistas da ONU sobre o tema, os termômetros poderão subir 4°C até o fim deste século, se os países não diminuírem drasticamente as emissões de CO2 que provocam a desregulação climática.

“A mudança climática pode levar ao derretimento das geleiras e, embaixo delas, temos os vulcões, como o grande Vatnajökull, que tem dois quilômetros de espessura e cobre seis vulcões. Se tiver menos gelo, haverá menos pressão sobre os vulcões e eles poderiam se liberar da pressão superficial e entrar mais em erupção”, observa. “Conhecemos o impacto dos vulcões sobre o clima, mas o impacto do clima sobre os vulcões ainda é questionado e é o objetivo do nosso estudo”, sinaliza.

Queda de emissões e o futuro das geleiras

Se os compromissos do Acordo de Paris sobre o Clima forem cumpridos, de 30 a 65% da superfície atual das geleiras que recobrem os vulcões islandeses poderão ser preservados, advertem cientistas do país. Mas no cenário de continuidade de elevação das emissões de CO2, portanto de aumento da temperatura global superior 1,5°C, chegando a 4°C, no máximo 30% das geleiras estariam conservadas.

O pesquisador explica que, entre o vulcão e a geleira, forma-se uma bolsa de água que incha com o tempo. Se a geleira se tornar fina demais, não suportará mais a pressão e essa água contida acabará por escorrer, arrastando com ela os blocos de gelo da superfície.

Em 1996, pesquisadores islandeses concluíram que o fluxo de água poderia ser equivalente ao do rio Amazonas.

“Ela carregaria blocos de gelo grandes como caminhões vagando. Seria monstruoso”, antecipa Bardintzeff. “Se acontecesse perto de uma zona habitada, seria dramático. Ainda não sabemos quanto tempo a geleira conseguirá segurar esse ‘fogo glacial’ dos vulcões, que poderia levar entre alguns dias e algumas semanas para se soltar.”

Fonte: UOL

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